Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Guerra dos jornais “sem preço” invade Londres

“Pode não ter almoço grátis em Londres, mas há jornais grátis”, brinca Brendan O’Neill em artigo da BBC [4/9/06]. Estima-se que, hoje, cerca de 980 londrinos peguem o diário Metro todas as manhãs a caminho para o trabalho. Agora, eles podem escolher entre dois novos jornais gratuitos quando voltam para casa.

Os recentes lançamentos do London Lite (há duas semanas) e do London Paper (há uma) prometem dar início a uma nova guerra dos jornais em Londres, como a “guerra dos preços” que aconteceu nos anos 80, quando diversos títulos baixaram drasticamente seus preços de capa para tentar desbancar os rivais. A diferença é que, agora, há a “guerra dos sem preço”.

Seria este o fim dos jornais pagos?, questiona O’Neill. “Quem irá dar 50 pence por um Sun, Guardian ou Times quando pode obter suas notícias, informações esportivas e cartuns de graça?”, continua.

Público novo vs. Pressão financeira

Segundo Stephano Hatfield, editor do London Paper, os gratuitos não irão “roubar” leitores dos títulos pagos. Em vez disso, eles criarão novos leitores, acredita ele, que já trabalhou na versão nova-iorquina do fenômeno Metro. “Pela minha experiência, eu sei que este tipo de jornal gratuito tem apelo principalmente aos jovens entre 18 e 35 anos, que hoje não lêem um jornal. Esta geração nunca desenvolveu o hábito dos jornais. Ao contrário, ela tende a se informar de diferentes fontes, em particular da internet”, diz. “Esta é a geração que cresceu no computador. É difícil convencê-la de que notícia é algo pelo qual se tem que pagar”, explica.

Mas há quem ache o contrário. Para alguns analistas de mídia, o crescimento dos gratuitos terá impacto negativo na tradicional indústria dos jornais – tanto em margem de lucro quanto em qualidade de conteúdo. “Os novos jornais gratuitos exercerão pressão financeira nos jornais pagos a longo prazo”, afirma o comentarista de mídia Roy Greenslade. “No fim, eles alimentarão as pessoas com a idéia de que notícias não deveriam ser um bem pago. Mas, na realidade, fazer as notícias de maneira decente requer investimento e dinheiro”.



Títulos pagos ficam cada vez mais caros

De fato, os títulos britânicos já estão aumentando seus preços de capa. O Sunday Times se tornou o primeiro jornal do país a custar duas libras e o Times também ficará mais caro, com a News International tentando recuperar o investimento feito no gratuito London Paper.

Ao mesmo tempo, o Telegraph Group – que está de mudança para uma redação digital integrada – também sobe os preços de suas publicações, como o Sunday Telegraph (aumento de 20 pence, para 1,80 libra) e o Daily Telegraph (aumento de 10 pence, para 1,40 libra na edição de sábado e 70 pence nos dias de semana). O Times continuará o mais barato dos concorrentes, mas ainda assim terá um pequeno aumento de 5 pence, chegando a 65 pence. Na edição de sábado, o diário sobe 10 pence para 1,30 libra – mesmo preço do Guardian. O Mail on Sunday também entra na dança dos preços, com aumento de 10 pence para 1,40 libra.

Os jornais britânicos têm se tornado mais caros nos últimos anos para recuperar as perdas da última década. Mesmo com a circulação em queda, títulos tradicionais tem conseguido se manter aumentando pouco a pouco seus preços de capa. A decisão do Sunday Times de chegar a duas libras, entretanto, é arriscada, avaliam Chris Tryhorn e Stephen Brook em artigo no Guardian [8/9/06]. “Eu me preocupo no sentido de que é um preço novo – nunca houve um jornal britânico a 2 libras”, diz Paul Hayes, diretor da Times Newspapers, completando que não acredita que os leitores venham a achar que o jornal não vale o preço que cobra.

Por via das dúvidas, o novo preço veio acompanhado por um CD do Jimmy Hendrix de brinde e pela estréia de uma seção voltada aos leitores homens, sobre carros, tecnologia e esportes radicais.