Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Imprensa vive com medo no Irã

Os Repórteres Sem Fronteiras enviaram, em 28/6, uma carta aberta à União Européia perguntando sobre a delegação da UE que esteve em Teerã, no Irã, nos dias 14 e 15 de junho em um diálogo sobre direitos humanos com a República Islâmica. A organização critica as ameaças contínuas sofridas por membros da imprensa no país e a deterioração da situação de jornalistas presos.

Na carta, o secretário geral dos Repórteres Sem Fronteiras, Robert Ménard, afirma que ‘o diálogo, iniciado em 2001, não levou a nenhuma diminuição da repressão, mas permite que o regime iraniano mantenha ‘boas relações’ com os países europeus’.

‘Destacamos que 120 jornais foram banidos desde 2002, mais de 50 jornalistas foram detidos e 11 continuam presos, o que faz do Irã a maior prisão para jornalistas no Oriente Médio’, continua ele.

Em 20/6, os advogados de Reza Alijani, Taghi Rahmani e Hoda Sober, três dos jornalistas hoje encarcerados, enviaram uma carta aberta ao chefe do sistema judiciário do Irã, Ayatollah Shahroudi, onde protestavam contra a irregularidade e ilegalidade da detenção, julgamento e condições prisionais de seus clientes. Na carta, eles diziam que os jornalistas ‘foram interrogados, agredidos e insultados por horas para ‘confessar’ sua culpa nas acusações feitas contra eles’. Os advogados também diziam que nunca tiveram acesso às fichas de seus clientes, não podem se comunicar com eles e não receberam notificação oficial de sua condenação.

Nada mudou

Apesar da recente visita da delegação européia ao Teerã, jornalistas iranianos continuam a ser intimados e detidos irregularmente. O jornalista e ativista dos direitos humanos Emadoldin Baghi, por exemplo, foi intimado a comparecer na última semana ao tribunal revolucionário do Teerã. Em outubro de 2000, Baghi foi condenado a três anos de prisão. Liberado no ano passado, ele tornou-se um dos mais ativos defensores da liberdade de imprensa no país, e agora corre o risco de ser preso novamente.

Jornalistas iranianos em exílio na Europa também continuam a sofrer pressões das autoridades judiciais do país. É o caso do jornalista Sina Motallebi, do jornal reformista Hayat-e Now e do sítio rooznegar.com, que hoje encontra-se exilado na Holanda. Motallebi foi preso e ficou quase um mês, entre abril e maio deste ano, confinado na solitária, acusado de ‘arriscar a segurança nacional’.

A experiência de Motallebi tem servido para envergonhar as autoridades iranianas. Desde que saiu do país, o jornalista não hesita em falar em público sobre sua prisão arbitrária, a falta de acesso a um advogado, as confissões extorquidas dele, e o fato de que ficou detido secretamente por diversas semanas. Motallebi falou em uma entrevista coletiva no escritório dos Repórteres Sem Fronteiras, em Paris, em 8/6. O evento foi noticiado pela imprensa escrita e pela estação de TV franco-germânica ARTE. No dia seguinte, o pai do jornalista foi intimado a depor no tribunal de Teerã. As autoridades do país dizem que se Motallebi não retornar para seu julgamento, marcado para 19/7, seu pai será obrigado a pagar imediatamente uma fiança de 30 milhões de tomans (o equivalente a 30 mil euros). Informações dos Reporters Without Borders [28/6/04].