Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Jornalistas protestam contra censura

Os jornalistas ucranianos continuam a sofrer com a censura governamental imposta à cobertura das eleições presidenciais no país. No fim de outubro, centenas deles se reuniram para protestar contra as pressões e intimidações sofridas pela imprensa. Obtiveram alguns resultados, mas observadores independentes da Federação Internacional de Jornalistas afirmam que o problema continua em larga escala.

Em função disso, alguns jornalistas têm se recusado a apresentar notícias monitoradas sobre as eleições, caso de quatro apresentadores de telejornais no canal 1+1, um dos maiores da Ucrânia. Com as principais emissoras de televisão controladas pelo governo e funcionando sob pesada censura, os jornalistas lutam contra o uso sistemático de práticas prejudiciais à liberdade de imprensa, como os chamados ‘temnyks’ – instruções passadas às redações sobre como certos assuntos devem ser cobertos.

Nas últimas semanas, mais de 300 jornalistas empregados em emissoras de TV e rádio aderiram a um abaixo-assinado que ataca a censura estatal sob a qual são obrigados a trabalhar e reafirma a iniciativa de se recusarem a apresentar reportagens parciais. A situação de controle dos veículos de comunicação piorou na semana passada com o resultado da conturbada eleição – que deu vitória ao candidato do governo, Viktor Yanukovich, e pode vir a ser considerado ilegítimo por acusações de irregularidades. As grandes emissoras estatais deram largo apoio a Yanukovich.

Isenção punida

Quem tenta ficar isento sofre as conseqüências. A Canal 5, única emissora de alcance nacional que, segundo Owen Gibson [The Guardian, 24/11/04], vem tentando manter uma cobertura equilibrada, foi ameaçada de ser fechada – e só se livrou por uma greve de fome feita por seus funcionários. Dias antes da votação, três jornais que se recusaram a seguir a linha de reportagem imposta pelo governo – Silski Visti, Den e Yuzhnaya Pravda – tiveram sua distribuição bloqueada.

A organização Repórteres Sem Fronteiras acusa as autoridades ucranianas de molestar membros da imprensa independente do país fazendo uso de ‘quase qualquer método’. O jornalista Alexander Danutsa, da TV-Stymul, foi atacado e teve sua câmera roubada. Outro repórter foi arrancado de seu carro e espancado. Danutsa havia recebido uma ameaça anônima por telefone poucos dias antes de ser atacado, dizendo que havia um lugar reservado para ele no cemitério.