Thursday, 02 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Jornalistas paquistaneses trabalham sob a ameaça do Taliban

O Shura-e-Mujahedeen, grupo ligado ao Taliban paquistanês, republicou recentemente um decreto islâmico de um ano atrás descrevendo jornalistas do país e diversos veículos de mídia como “inimigos”. O decreto ameaça diversas estações de rádio e inclui fotografias de apresentadores populares no país, como Hamid Mir e Hasan Nisar, que são acusados de promover valores seculares e ocidentais e de espalhar propaganda anti-muçulmana. O decreto já havia sido publicado em outubro de 2012 após a tentativa de assassinato da adolescente ativista Malala Yousafzai por membros do Taliban.

O Taliban possui um histórico de ameaçar diretamente jornalistas paquistaneses. No ano passado, o grupo assumiu a responsabilidade pelo assassinato do jornalista Mukarram Khan Aatif. Também em 2012, membros do Taliban abriram fogo contra os escritórios da emissora Aaj TV como um aviso contra as críticas feitas ao grupo, e uma bomba foi plantada no carro de Hamid Mir por causa de sua defesa da ativista Malala.

Jornalistas do cinturão tribal do Paquistão na fronteira com o Afeganistão trabalham com medo constante do Taliban. Em um relatório recente, todos os jornalistas na área tribal e 87% da província de Khyber Pakhtunkhwa admitiram se sentir ameaçados por militantes; 79% dos repórteres da área tribal também dizem se sentir ameaçados pelas forças de segurança do Estado, segundo o mesmo estudo.

Apoio a ideias extremistas

A campanha do Taliban é preocupante, mas também é irônica, dado que a mídia do Paquistão é regularmente criticada por ser muito simpática ao grupo. O fato de que a mídia está sob ataque de ambos os lados mostra como é difícil a prática do discurso público no país.

Jornalistas proeminentes repetidamente pedem para que os Estados Unidos suspendam os ataques feitos por drones na região, ecoando a demanda principal do Taliban como condição para negociar com o governo. A mídia também repudiou a operação militar de 2007 contra militantes armados e estudantes radicais que procuravam abrigo na Mesquita Vermelha.

Grandes personalidades midiáticas também já demonstraram posições extremistas e intolerantes similares às do Taliban. O apresentador Mubasher Lucman recentemente liderou uma campanha contra o ensino de religiões comparadas nas escolas; a apresentadora Maya Khan perseguiu casais não-casados que tinham encontros em um parque; e o também apresentador Aamir Liaquat Hussain declarou em 2008 que membros da minoria Ahmadi mereciam a morte.

Para jornalistas que trabalham em áreas controladas pelo Taliban, imitar posições militantes pode ser uma tática de sobrevivência. Mas para aqueles que estão em centros urbanos, longe da pressão direta do grupo, tais posições parecem refletir suas opiniões reais.