Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Le Monde aceita oferta de empresários de esquerda

O Conselho de Supervisão do jornal francês Le Monde aprovou, na segunda-feira [28/6], a oferta de compra liderada por Matthieu Pigasse, chefe de investimentos do banco Lazard, e pelos empresários Xavier Niel, ligado ao setor de telecomunicações, e Pierre Bergé, co-fundador da marca Yves Saint Laurent. A ação salva o diário da falência, ao mesmo tempo em que tira o controle das mãos de seus jornalistas – no entanto, 90% deles aprovaram a decisão.


A votação, após horas de debate, foi feita a portas fechadas, com 11 membros a favor do grupo investidor e nove abstendo-se. O trio terá o direito exclusivo de negociar a compra efetiva do jornal. Em troca, deve depositar imediatamente 10 milhões de euros para tirar o diário da grave situação financeira em que se encontra – não havia dinheiro nem para pagar os salários no final desta semana. A oferta dos empresários para recapitalizar o Monde soma 110 milhões de euros, dos quais 60 milhões irão para o refinanciamento das dívidas.


A oferta de Pigasse, Niel e Bergé não foi bem vista pelo presidente Nicolas Sarkozy, que teme a ligação dos empresários com o Partido Socialista e com Dominique Strauss-Kahn, presidente do Fundo Monetário Internacional, considerado um obstáculo à reeleição do presidente em 2012. Pigasse já trabalhou para Strauss-Kahn e Ségolène Royal, que foi candidata presidencial socialista nas últimas eleições, e também é proprietário da revista alternativa Les Inrockuptibles. Bergé ajudou a financiar a candidatura de Ségolène. Sarkozy chegou a expressar sua opinião contrária ao publisher Éric Fottorino, e sua intervenção foi criticada pelos jornalistas do Monde.


Independência editorial


O diário foi lançado no fim da Segunda Guerra Mundial, a pedido do general Charles de Gaulle, para substituir outros jornais, como o Le Temps, cuja credibilidade foi comprometida durante a ocupação alemã. O fundador do Monde, Hubert Beuve-Méry, insistiu na completa independência da publicação, com a maior parte das ações sendo de propriedade de jornalistas, que tinham, ainda, o direito de contratar e demitir o publisher. Por isso, a decisão de vender o diário foi dolorosa para seus funcionários. O grupo vencedor prometeu, entretanto, manter a independência editorial.


Em declaração após a votação, o grupo investidor disse que considera o Monde um ‘bem comum’ e prometeu investir em qualidade editorial e em uma melhor versão digital. O Monde tem tiragem de 318 mil cópias na França, ficando atrás do Le Figaro, de propriedade do grupo empresarial conservador Dassault. Informações de Steven Erlanger [New York Times, 28/6/10].