Monday, 14 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1309

Ministério Público britânico extingue processos contra jornalistas

Coulson: livre da Elveden

Coulson: livre da Elveden

O Ministério Público do Reino Unido anunciou que vai extinguir os processos pendentes contra jornalistas na Operação Elveden, investigação da Scotland Yard que vasculhou a vida de diversos profissionais de imprensa acusados de pagamentos ilegais a funcionários públicos em troca de informação. Um dos réus é o ex-editor-chefe do tabloide News of the World, Andy Coulson, que já havia sido condenado pela prática de grampos ilegais no jornal. Coulson foi sentenciado a 18 meses de prisão pelos grampos e cumpriu cinco meses da pena, sendo libertado sob a condição de usar uma tornozeleira eletrônica.

A decisão foi tomada após a entrada de um recurso que questionou a acusação de conspiração e improbidade no cargo público feita pelos promotores – em geral, a Operação Elveden foi vista como um ato de perseguição aos jornalistas. Sendo assim, a corte foi obrigada a revisar os processos ainda pendentes na investigação. Como resultado, a maioria das ações contra jornalistas vai chegar ao fim (com exceção de três, que envolvem jornalistas do tabloide The Sun: Chris Pharo, Jamie Pyatt e Anthony France).

A promotoria pretende, no entanto, manter os processos contra funcionários públicos que supostamente teriam recebido dinheiro para fornecer informações a repórteres. Até o momento, 21 dos 28 funcionários públicos envolvidos no caso – dentre os quais estão incluídos policiais, agentes penitenciários, agentes de saúde e um funcionário do Ministério da Defesa – foram condenados e presos. A maioria declarou-se culpada.

Caça às bruxas

Ao todo, 27 jornalistas foram indiciados na Operação Elveden, mas somente dois foram condenados. Nos últimos processos julgados, os jornalistas do Sun Tom Wells, Neil Millard e Brandon Malinsky, e um ex-repórter do Daily Mirror, Graham Brough, foram inocentados da acusação de suborno a funcionários públicos em troca de informação.

Vince Soodin, ex-repórter do News of the World que também foi inocentado, declarou ter ficado furioso por estar sendo preso apenas “por fazer o seu trabalho”. Ele chamou o caso de “equivocada caça às bruxas contra a imprensa popular”.

John Kay, chefe de reportagem do Sun que também foi inocentado, alegou que suas apurações – que incluíam revelações sobre a escassez de equipamentos para soldados britânicos no Iraque e no Afeganistão – eram de interesse público. Ele também criticou a demora dos julgamentos e o custo da Operação.

Interesse público

O inquérito da Elveden começou na esteira das revelações de que o tabloide News of the World havia grampeado ilegalmente uma série de linhas telefônicas de personalidades para conseguir levantar informações para suas reportagens.

O professor de jornalismo Roy Greenslade, colunista do Guardian, aplaudiu a interrupção dos processos e voltou a reiterar que sempre considerou a Operação Elveden um tanto falha. Ele também criticou a continuidade das acusações contra os três jornalistas do Sun e não se mostrou totalmente a favor das ações envolvendo os funcionários públicos acusados de receber propina. “Quase trinta deles, dentre policiais, agentes penitenciários e funcionários públicos, foram para a prisão. As penas deveriam ser revistas. Se essas pessoas violaram seus contratos de trabalho por vazamento de informações a jornalistas, isso é uma questão civil, não criminal. Ir para a cadeia por isto é parodiar a justiça”, escreveu.

Em entrevista para a Radio 4, emissora de rádio do grupo BBC, Lord Macdonald, ex-diretor do Ministério Público britânico, defendeu os direitos de jornalistas de pagarem a fontes quando o assunto for de interesse público.