Wednesday, 08 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

NYT e Colúmbia: aula de mau jornalismo

Uma troca de favores entre duas das mais prestigiadas instituições de jornalismo dos EUA causou polêmica na imprensa do país. Em 31/3, o New York Times publicou uma matéria de capa sobre o relatório de um comitê que investigou reclamações contra professores que teriam discriminado estudantes judeus pró-Israel na Universidade Colúmbia.

A gravidade do assunto levou a universidade a procurar um veículo de comunicação em que confiasse. Em troca do acesso antecipado ao relatório, o Times concordaria em não buscar depoimentos de outras fontes interessadas – no caso, os estudantes – e não faria mais nenhuma outra apuração complementar até que o relatório fosse divulgado formalmente para o resto da imprensa. O jornal insistiu, entretanto, para que pudesse entrevistar o professor acusado de preconceito, o que foi aceito pela Colúmbia.

Política interna e manipulação

O esquema foi denunciado pelo rival New York Sun, e admitido pelo Times na quarta-feira [6/4/05], em um editorial. Nele, o jornal culpa a repórter e os editores responsáveis por ela de ‘esquecerem’ de sua política interna, segundo a qual jornalistas não podem abrir mão de apurar determinados fatos em troca de informações privilegiadas.

‘Sem o depoimento dos reclamantes, o artigo ficou incompleto; não deveria ter sido publicado desta forma’, diz o mea-culpa do Times. A resposta dos estudantes, afirma o jornal, foi depois publicada. Ainda assim, alguns alunos mostraram-se decepcionados com o fato de Colúmbia – que abriga uma das mais respeitadas escolas de jornalismo do país e é responsável pela premiação Pulitzer, a mais importante do jornalismo americano – ter optado por manipular uma notícia. Segundo o Sun, a universidade teria tentado fazer o mesmo acordo com o Spectator, jornal produzido por seus estudantes. O editor da publicação nega ter concordado com o pedido.

A recusa do Spectator em participar do pacto foi destacada pelo sítio Columbia Journalism Review Daily, em artigo de Paul McLeary [7/4/05]. Ele diz que ‘o fato de algumas pessoas no Times terem […] concordado em ignorar um lado do debate é perturbante, se não um insulto completo aos leitores do jornal. E visto que, neste mesmo caso, estudantes de jornalismo de uma publicação universitária alcançaram um padrão superior de integridade jornalística, o Times está certo em se envergonhar’.

Polêmica

Nicholas Lemann, reitor da Escola de Jornalismo de Colúmbia e colaborador da revista New Yorker, tentou fazer pouco caso da polêmica. Para ele, o acordo pode ter sido uma ‘quebra na ética’, mas foi uma quebra pequena. ‘É perdoável, e eu não estou certo de quem é o pecado: do Times, de Colúmbia, ou dos dois’, disse, para completar: ‘Em uma história ideal, a matéria teria citado todas as partes envolvidas’. Já o professor de jornalismo da Universidade de Nova York Jay Rosen classificou o acordo de ‘extraordinário’ e disse que ele viola o bom senso. Com informações de Jacob Gershman [The New York Sun, 7/4/05].