Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O perigo das conclusões precipitadas

Quando o ombudsman doWashington Post, Patrick B. Pexton, recebeu um alerta do jornal por e-mail sobre a explosão em Oslo, na Noruega, pensou se tratar da al-Qaeda. Esta impressão foi reforçada quando uma segunda mensagem de alerta chegou a sua caixa de entrada, desta vez sobre o ataque a tiros em um evento da ala jovem do Partido Trabalhista. Ataques simultâneos são a marca do terrorismo inspirado na al-Qaeda. Por isso, muitos analistas e organizações de mídia foram rápidos em apontar semelhanças com o grupo terrorista nas horas seguintes aos ataques na Noruega no dia 22/7.

Por estes motivos, o ombudsman ficou surpreso com a quantidade de e-mails recebidos na semana passada criticando a blogueira do Post Jennifer Rubin por fazer comparações online imediatamente após os ataques. Há diversos fatores em questão, analisa Pexton: o papel de Jennifer no Post(como colunista de direita), seu estilo (conservador), sua religião (ela é judia), como as blogosferas conservadora e liberal trabalham no ciclo de notícias e uma certa insensibilidade americana em relação a incidentes de massa no exterior.

Logo após os ataques de 11 de setembro de 2001, a maior parte do mundo ofereceu apoio, preces e solidariedade aos americanos. Mas o inverso não ocorreu. Quando os ataques foram em outros países, como os de Oslo, Bali, Madri, Beslan, Mumbai ou Londres, não houve tempo para luto: foram imediatos os ataques americanos ao inimigo mais odiado por eles – militantes extremistas, sejam muçulmanos ou, no caso de Oslo, cristãos.

Sem correção

Jennifer caiu nesta armadilha: ela citou a especulação do especialista em terrorismo Thomas Joscelyn de que os ataques tinham todas as marcas de uma operação da al-Qaeda e argumentou que os EUA não deveriam cortar financiamento de defesa ou segurança nacional, mesmo durante a crise financeira, porque os jihadistas continuam a perseguir os americanos. O que piorou ainda mais a situação foi o fato de o post de Jennifer ter ficado sem correção por mais de 24 horas. Ela escreveu quatro outros posts sem relação com o assunto e, quando o governo americano deu a primeira declaração de que o suspeito não tinha ligação com muçulmanos ou com alguma rede internacional de terrorismo, a blogueira deveria ter verificado os fatos e os editores deveriam ter editado seu texto.

Mas há pelo menos um fator a favor de Jennifer, diz o ombudsman. Judia, ela pratica o sabbath do por do sol de sexta-feira até o por do sol de sábado. Neste período, ela não tuita, não bloga e não responde a e-mails. Quando entrou na web às 20h de sábado, a primeira ação de Jennifer foi postar um mea culpa. No entanto, ela acabou sendo infeliz ao usar um tom racista: “Há mais jihadistas que noruegueses louros para matar americanos e devemos manter atenção nas ameaças mais potentes de uma guerra ideológica contra o Ocidente”.