Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Onda de censura ameaça imprensa

A organização Repórteres Sem Fronteiras e o Centro para Desenvolvimento, Jornalismo e Comunicação de Bangladesh manifestaram preocupações sobre uma crescente onda de terrorismo islâmico em Bangladesh e seu impacto na imprensa. No mínimo 55 jornalistas e dez publicações foram ameaçadas pelo grupo islâmico Jamatul Mujahideen Bangladesh (JMB) nos últimos quatro meses, por supostamente terem divulgados artigos ‘anti-islâmicos’. Até o momento, o governo parece não ser capaz de deter esta censura à mídia. A vítima mais recente, Ataus Samad, editor do Amar Desh, recebeu uma carta da JMB no dia 22/12 afirmando que seu jornal seria o ‘próximo alvo’.


‘Depois de ignorar a ameaça terrorista por tanto tempo, as autoridades agora têm a responsabilidade de dar uma resposta. A segurança de centenas de jornalistas ameaçados que querem informar livremente o público sobre o terrorismo afetando o país está em risco e pedimos às autoridades para estabelecer um plano global para a proteção de jornalistas e de publicações ameaçadas por grupos jihadistas’, afirmaram as duas organizações. ‘Quanto mais nós investigamos e criticamos o terrorismo, mais estamos expostos, e o governo é parcialmente responsável pela deterioração na nossa segurança’, afirmou o editor do Bangladesh Observer Igbal Sobhan Chowdhury.


Grupos islâmicos vêm sistematicamente ameaçando a mídia. As ameaças começaram na região norte de Rajshahi, na qual o fundador do JMB, Bangla Bai, iniciou uma luta armada pela introdução da lei islâmica. De acordo com Jahangir Alam Akash, correspondente do Dainik Sangbad e da estação de rádio alemã Deutsche Welle, a maioria dos repórteres em Rajshahi se autocensura por medo de tornar alvo. ‘Eu não visito mais áreas nas quais age o grupo de Bangla Bai porque é muito arriscado’, conta ele.


A maioria dos jornalistas ameaçados em setembro era hindu. Em outubro, jihadistas ameaçaram pelo menos sete organizações de mídia locais. Onze jornalistas receberam cartas em novembro. Em dezembro, jornais nacionais como Prothom Alo e Dainik Shamokal foram ameaçados com possíveis ataques suicidas, além de 19 jornalistas em Barisal e Gazipur terem recebidos ameaças por escrito. Organizações de mídia e associações de imprensa estabeleceram medidas de segurança para se protegerem de uma onda de ataques que já matou no mínimo 20 pessoas. As pessoas que entram nos edifícios da maioria dos jornais agora têm de passar por detectores de metal. Alguns editores de jornais, como o do independente Janakantha, têm seguranças particulares.


Repressão oficial


Serviços secretos continuam a intimidar algumas publicações. No dia 22/12, por exemplo, o chefe de Inteligência e Segurança Nacional convocou editores da agência privada de imprensa BDNEWS, depois que ela revelou que os telefones de alguns dos líderes do Jamaat-e-Islami, partido islâmico no poder, estavam grampeados.


Desde 2001, o governo do primeiro-ministro Khaleda Zia tenta censurar a imprensa com o objetivo de negligenciar o crescimento de grupos islâmicos armados. Em 2003, depois de uma série de relatórios da imprensa sobre o crescimento da intolerância religiosa, Zia acusou jornalistas de tentar prejudicar a imagem de Bangladesh no país e no exterior ao publicar falsas informações.


Diversos jornalistas foram presos em 2002 por escrever sobre o surgimento do jihadismo. No mesmo ano, o ministro do Interior, Altaf Hossain Chowdhury, prendeu e torturou um correspondente da Reuters depois dele ter publicado uma nota afirmando que um grupo ligado a al-Qaeda poderia ser culpado por um ataque à bomba em um cinema. Em 2002, o jornalista e ativista Shahriar Kabir foi alvo de uma campanha de diversos partidos políticos que o acusavam de trair o Islã. Informações dos Repórteres Sem Fronteiras [27/12/05].