Saturday, 04 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

País liberal, desde que não se discuta religião

O Líbano é um dos poucos países considerados liberais no Oriente Médio, com acesso irrestrito à internet; esta liberdade, porém, é cerceada quando se trata de temas referentes a Israel ou a assuntos delicados, como religião. Segundo Rana Moussaoui, em artigo da AFP [15/4/08], a lista de conteúdos considerados inapropriados pelas autoridades libanesas é longa, indo desde filmes ganhadores do Oscar, como A Lista de Schindler, a música do violinista judeu Yehudi Menuhin. ‘Há décadas, há censura no Líbano, com critérios absurdos e sob o pretexto de segurança nacional’, conta Bassam Eid, gerente de produção da distribuidora de filmes Circuit Empire.


Estrelas como Frank Sinatra, Elizabeth Taylor e Paul Newman já foram banidas do país por conta de seu conhecido apoio aos judeus ou por terem participado de filmes dirigidos por um judeu. A mais recente produção cinematográfica a sofrer censura, no entanto, refere-se ao Islã, e não ao judaísmo. O premiado desenho animado Persepolis foi proibido em Beirute em março, pelo modo como descreve a Revolução Islâmica no Irã. ‘Sei que, com a internet, a censura pode ser ridícula, mas proibimos obras que prejudicam a religião porque é um tema muito delicado em um país multi-religioso’, justifica o general Wafiq Jizzini, chefe do departamento de segurança geral do Ministério do Interior.


Segurança nacional


A censura é aplicada no Líbano se for considerado que uma produção literária, musical ou cinematográfica incita as disputas religiosas, prejudica a moral e a segurança nacional ou contribui com a propaganda israelense. ‘Os temas sensíveis têm de ser muito bem abordados’, opina Jizzini. ‘Imagine se tivéssemos permitido os cartuns do profeta Maomé ou ainda o filme holandês Fitna!’.


O livro e o filme O Código da Vinci foram retirados do país após a igreja católica ter solicitado, alegando que eram contrários às crenças cristãs. ‘A sociedade libanesa é muito religiosa para aceitar ataques ao sagrado’, afirma um gerente de uma livraria citado no artigo da AFP. ‘Muitas publicações chegam com páginas rasgadas porque contêm artigos sobre a beleza de uma cidade de Israel, por exemplo’. Ele não quis se identificar.