Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Projeto da Anatel amplia acesso a dados pessoais


Leia abaixo a seleção de quinta-feira para a seção Entre Aspas.


 


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 20 de janeiro de 2011


 


TELECOMUNICAÇÕES


Acesso perigoso


Desde fevereiro de 2008, a Agência Nacional de Telecomunicações tem o poder de solicitar às operadoras de telefonia informações sobre números de origem e destino, data, horário e duração de chamadas. Como esta Folha revelou ontem, a Anatel agora se prepara para dispensar essa intermediação e consultar diretamente a base de dados das companhias.


Já foram compradas, a um custo de R$ 970 mil, três máquinas para possibilitar a implementação da nova medida, que ainda depende de aprovação do conselho diretor da agência reguladora.


O gerente-geral de fiscalização da Anatel afirma que a abertura dos dados será solicitada ao cliente no momento em que ele ligar para fazer a reclamação. Mas como assegurar que isso será de fato a regra, e não a exceção?


Em um país onde balcões de compra e venda de sigilos de todas as áreas -bancário, fiscal, telefônico- são tão banais quanto uma ligação perdida, essa nova brecha deve ser recebida com cautela.


O inciso XII do artigo 5º da Constituição estabelece que ‘é inviolável o sigilo (…) das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial’. A Anatel argumenta que não acessa o conteúdo de ligações, e portanto não existe violação -tese que divide os especialistas.


Parece razoável considerar que mesmo informações sobre os contatos telefônicos de um cidadão já constituem um grau indesejável de intromissão. As fontes sigilosas de jornalistas, por exemplo, fundamentais para reportagens investigativas, ficariam expostas -para citar apenas um caso.


Defensores do novo plano argumentam que as próprias operadoras já têm acesso a esses dados e, uma vez que é função da Anatel fiscalizá-las, é natural que disponha das mesmas informações.


O problema é que ao abolir um dos filtros -a solicitação formal às operadoras- em uma questão já controversa, a futura medida da Anatel expande a possibilidade de malfeitos. Não há nenhuma garantia a impedir que um técnico da agência, em qualquer lugar do país, chegue ilegalmente aos dados de uma pessoa por motivação política ou financeira.


O queijo suíço da Receita Federal serve de alerta para o risco de expandir o acesso a informações pessoais. Mesmo em um sistema que deveria ser confiável, com senhas e registros, os vazamentos são uma constante, como demonstrou o caso da violação dos sigilos de tucanos na campanha.


A Anatel deve ter à sua disposição todas as ferramentas adequadas para a fiscalização do serviço de telefonia no Brasil, ainda falho e caro se comparado a países emergentes e desenvolvidos. Mas isso não pode ocorrer à custa do direito dos cidadãos de preservar sua privacidade, já tão vulnerável a abusos em outras esferas do poder público brasileiro.


 


 


Ministério estuda transferir para Anatel fiscalização de radiodifusão


O Ministério das Comunicações estuda transferir para a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) a atribuição de fiscalizar e sancionar o setor de radiodifusão (rádio e TV), a exemplo do que ocorre com o de telefonia.


A medida garante mais poder para a agência reguladora, que poderá multar radiodifusores em caso de descumprimento das normas técnicas, e demonstra uma mudança de posição com relação ao governo anterior.


Desde 2006, a Anatel definiu que cabia ao ministério a aplicação das sanções.


O ministro Paulo Bernardo disse que ‘está convencido de que esta é a melhor alternativa’, mas que a mudança ainda depende de análise técnica.


 


 


INTERNET


Camila Fusco


Internet enfrenta novo risco de bolha


O otimismo excessivo dos investidores em torno de empresas de internet aponta para os riscos de o mundo viver uma nova bolha pontocom.


Segundo especialistas ouvidos pela Folha, a valorização que empresas como Facebook, LinkedIn e Groupon ganharam nos últimos meses é um dos principais indicadores do fenômeno.


‘Estamos na iminência de IPOs [oferta inicial de ações, na sigla em inglês] promissores, mas ao mesmo tempo perigosos. Algumas empresas têm seu valor de mercado calculado com base em métricas remanescentes da época da bolha pontocom’, diz Greg Sushinsky, investidor do Vale do Silício há 20 anos.


O Facebook é o exemplo mais gritante de valorização exacerbada semelhante à que aconteceu no fim dos anos 1990 e início de 2000.


Em pouco tempo, a rede social popularizada nos corredores da universidade americana Harvard em 2004 foi alçada à condição de uma das empresas mais valiosas da internet.


O valor de mercado, estimado em US$ 50 bilhões, ultrapassou, por exemplo, o do maior site de leilões virtuais do mundo, o eBay, e o do portal Yahoo! somados.


A proporção sobre o que se especula ser o resultado anual da empresa -faturamento de US$ 1,5 bilhão e lucro de US$ 500 milhões- é de cem vezes.


‘Ao contrário do Google, ainda não está claro o modelo de negócios para o Facebook sair do estágio inicial. Não sabemos como ele conseguirá ampliar as receitas para justificar sua valorização, que no caso de um IPO pode subir mais’, afirma.


O Google abriu o capital em 2004 e, antes mesmo de o IPO acontecer, já dava sinais concretos para os investidores de quais os negócios poderiam sustentar sua receita nos anos seguintes.


O Facebook ainda não tem esse nível de informação divulgada e, apesar disso, especula-se que a abertura de capital aconteça em 2012.


OUTROS EXEMPLOS


A rede social corporativa LinkedIn e o site de compras coletivas Groupon são outros dois exemplos de valorização expressiva nos últimos anos.


O LinkedIn tem valor de mercado estimado em US$ 2 bilhões, e o Groupon registra crescimento meteórico. Foi criado em novembro de 2008 e já chega a US$ 7,8 bilhões.


Apesar da preocupação com uma nova bolha, as empresas estão mais preparadas do que as de 2000.


‘As companhias que buscam IPO hoje estão num estágio muito mais inovador. Elas têm plataformas, e não apenas websites sem nenhum modelo de negócios’, diz Paul Bard, analista da Renaissance Capital, especialista em abertura de capital.


Resta saber, segundo os analistas, se alguma dessas promessas iminentes de IPO vai se converter no falido Second Life.


A rede que prometia uma segunda vida, criada há oito anos, chegou ao ápice entre 2005 e 2006, com quase 5 milhões de usuários e centenas de empresas criando ilhas virtuais para fazer negócios.


Sem conseguir provar sua verdadeira relevância, a ‘bolha Second Life’ murchou aos poucos e o que prometia acumular bilhões de dólares em valorização não passou de pó.


 


 


Álvaro Fagundes


‘Playboy’ dribla censura da Apple e lança versão no iPad


Pornografia no iPad? Não, disse a Apple, ou pelo menos não na forma de aplicativo.


A empresa é conhecida por regras que vetam pornografia nos seus aparelhos, mas parecia ter se curvado depois que Hugh Hefner, o fundador da ‘Playboy’, escreveu no Twitter que as edições da revista estariam no tablet e sem censura.


Porém, as regras da Apple continuam valendo. Para driblar as restrições, a ‘Playboy’ fará o mesmo que outros produtores de conteúdo pornográfico: disponibilizar o material por meio do navegador da Apple, o Safari.


A publicação afirmou que está lançando um serviço de assinatura via internet com todos as edições que será compatível com o iPad e vai utilizar funções do tablet .


Disse ainda que está planejando um aplicativo para o iPad sem mulheres nuas, seguindo todas as normas da Apple. O lançamento deverá ocorrer nos próximos meses.


Recentemente, o presidente-executivo da Apple, Steve Jobs, afirmou que ‘quem quer pornografia pode comprar um telefone com Android’, em uma referência ao sistema do rival Google.


 


 


TECNOLOGIA


Amanda Demetrio


Sistema da Apple barra a criação, diz inventor da web


Ter um programa disponibilizado aos usuários de iPhone traz uma série de deveres ao desenvolvedor: ele precisa escrever o software dentro das regras da Apple, usar padrões específicos e, ainda, aguardar pela autorização final da empresa.


Esse tipo de sistema mais fechado cria barreiras e bloqueia uma quantidade enorme de criatividade, segundo um dos criadores da World Wide Web, Tim Berners-Lee.


E ele diz ainda que quem tentou ser assim antes, fracassou depois de um tempo. Berners-Lee esteve no Brasil nesta semana para participar da Campus Party. Leia trechos da entrevista concedida à Folha.


Folha – Qual o maior problema da internet atualmente?


Tim Berners-Lee – Estamos em tempos muito empolgantes, mas, quando falo sobre a os problemas da internet, a primeira coisa que me vem à mente é a preocupação de que alguém (grande empresa ou governo) a controle.


O sr. acha que alguém já controla a internet?


Acho que, essencialmente, A web ainda é neutra.


Empresas como a Apple, que apostam em sistemas fechados, comprometem a essência de liberdade da internet?


Quanto a esse modelo, existe o fato de que você não pode carregar o que quiser no seu telefone, mas eles exigem que o programa atenda a uma lista de exigências.


Com isso, as pessoas esperam um mínimo de qualidade. Historicamente, sempre existiram iniciativas globais mais fechadas, mas elas falharam diante do entusiasmo da web aberta.


Aqui mesmo, nesta Campus Party, enquanto falamos, as pessoas estão lá fora inovando na rede, trazendo novas ideias e as compartilhando com seus amigos. Tudo isso sem ter que passar pelos critérios de uma loja de aplicativos. Um sistema mais fechado barra essa quantidade de criatividade.


Geralmente, quando surgem essas iniciativas fechadas, o mundo aberto acaba saindo mais forte.


O sr. já disse que a web ainda Não está pronta. O que vem?


Estamos trabalhando bastante. São iniciativas como o HTML 5 (nova linguagem HTML, usada para escrever páginas da internet) e toda a plataforma de aplicações para a web (programas que são acessados por meio de rede). Com essas aplicações, você pode criar um programa que pode ser usado em qualquer computador.


Com a exposição pública via internet, o conceito de privacidade pode acabar?


Não acho que a privacidade vai acabar. Penso que o mundo vai evoluir para uma nova convenção em relação ao assunto.


Por exemplo, eu coloco fotos de viagem que fiz na adolescência na internet e um possível empregador encontra. Se ele for responsável, Pedirá para mim se pode usar as informações.


A mesma coisa em relação a empresas de seguro. Por exemplo, os registros de navegação dos nossos computadores podem dizer qual a probabilidade de termos câncer no futuro -por dizer que tipo de site frequentamos, por exemplo- e essas informações podem ser vendidas.


Mas a empresa responsável não levará isso em conta para determinar aumento do seguro. Acho que haverá mudança no sentido de fazer um uso aceitável desses tipos de dado, sem acabar completamente com a privacidade.


 


 


Investidor em tecnologia que mira o Brasil quer menos risco


Fundos de investimento que miram empresas de tecnologia no Brasil têm apetite menor para riscos do que no Vale do Silício.


Isso porque o ambiente de empreendedorismo e inovação está em desenvolvimento e os fundos buscam experiências que já deram certo.


Essa foi a conclusão de debate que reuniu ontem empresários e especialistas em empreendedorismo na Campus Party.


‘O Brasil tenta seguir o modelo do Vale do Silício, mas a quantidade de fatores que permitem essa riqueza ainda é tímido’, disse Daniel Heise, presidente da Direct Talk, especializada em tecnologias para o atendimento ao consumidor.


Segundo Heise, é comum os fundos olharem para faculdades como Berkeley e Stanford como formadoras de engenheiros com mentalidade empreendedora. ‘No Brasil, são poucas as que conseguem ter esse viés.’


Para Marco Perlman, fundador da Digipix, empresa de soluções para utilização de imagens digitais, há uma ‘sensação de manada’ entre investidores internacionais de que o Brasil é a próxima onda de inovação.


No entanto ainda existem poucos investidores-anjo, dispostos a colocar recursos em empresas iniciantes.


‘Muitos vem para cá tentando entender o que é o fenômeno da web por aqui. Entram aos poucos para sentir a temperatura dos negócios.’


Para convencer os investidores sobre o potencial dos negócios, a recomendação é partir para encontros reais, já que muitos fundos só operam por indicação.


 


 


TELEVISÃO


Keila Jimenez


‘De Pernas Pro Ar’ já tem vaga na TV


Novo campeão de bilheteria -2 milhões de expectadores até esta semana- a comédia ‘De Pernas Pro Ar’ já tem data para estrear na TV: 1º de novembro, no Telecine.


Na TV aberta, o longa de Ingrid Guimarães deve chegar à Globo em 2012.


Sem cenas adicionais para a TV, ‘De Pernas Pro Ar’ não será dividido em microssérie como ‘O Bem Amado’, atualmente no ar na Globo.


O argumento do longa, que já desperta interesse da TV para virar sitcom, ainda não tem nada fechado nesse campo, mas pode ganhar continuação no cinema. A ideia é começar a gravar a sequência no fim do ano.


TRAPALHÃO No especial ‘Acampamento de Férias 2 – A Árvore da Vida’ (Globo), Didi (Renato Aragão) suja Tenorious (Odilon Wagner) com lama; no ar dia 24


A PERGUNTA É…


É coincidência ou numerologia a troca de letras entre a companhia área de ‘Insensato Coração’ (Globo) e a empresa de aviação de ‘Vale Tudo’ (Viva), ambas de Gilberto Braga? O avião que caiu na nova trama das 21h é da CTA, a empresa de Odete Roitman (Beatriz Segall) é a TCA.


Tour O Discovery Travel & Living, do Discovery, está no Pará gravando o programa ‘Anthony Bourdain: Sem Reservas’. A visita fará parte da nova temporada da atração.


A FRASE É…


‘Brasileiro não sabe votar mesmo!!! Palhaçada!!!’


FERNANDA PAES LEME


atriz reclamando, no Twitter, da eliminação da transexual Ariadna, anteontem, no ‘BBB 11’ (Globo)


O NÚMERO É…


Em queda de audiência, o 1º paredão do ‘BBB 11’ (Globo), anteontem, registrou 27 pontos. O do ‘BBB 10’ marcou 29. (Cada ponto equivale a 60 mil domícilios na Grande SP).


Sem conversa O Pan do México, em julho, é assunto enterrado na Globosat. Depois de longa negociação com a Record, dona dos direitos de transmissão da competição, a programadora de TV paga diz que a novela acabou, que a Record não quis mesmo vender.


Sequência ‘Junto e Misturado’ de Bruno Mazzeo, pode ganhar uma segunda temporada na Globo.


Arrumação Daniela Beyruti, filha de Silvio Santos, volta dos EUA na próxima semana. Na mala: mudanças no artístico da emissora.


Nacional A Mixer já está produzindo a 2ª temporada da animação ‘Escola pra Cachorro’ (Nickelodeon e Cultura).


Interior ‘Morde & Assopra’, próxima novela das 19h da Globo, terá gravações em Marília (SP) a partir do dia 22.


Folia A Band já montou sua equipe de Carnaval: Salvador ficará com Patrícia Maldonado e Betinho, Recife, com Edgard Piccoli e Nadja Haddad e Olinda, com Débora Villalba e Luiz Megale.


com SAMIA MAZZUCCO


 


 


Clarice Cardoso


Criadora de ‘Grey’s Anatomy’ leva médicos à selva amazônica


‘Grey’s Anatomy’, um dos dramas de maior sucesso da TV americana, acaba de emprestar seu DNA a ainda mais um programa.


Depois de ceder uma de suas doutoras para a derivada ‘Private Practice’, o seriado médico ganha mais uma filial em ‘Off the Map’, que ainda não tem data para chegar ao Brasil.


Criada por uma roteirista de ‘Grey’s’, ‘Off the Map’ tem também o dedo e o aval da produtora Shonda Rhimes, a chefona da franquia.


Desta vez, a clínica médica está localizada num lugar um tanto inóspito: o coração da Amazônia. É ali, ‘em algum lugar da América do Sul’, que Ben Keeton (Martin Henderson) resolve praticar medicina sem tecnologia, sem remédios de ponta. ‘Como se fossem os anos 1950.’


Tudo começa com a chegada de três jovens doutores à selva, numa vilinha que fala espanhol (mas onde uma paciente brasileira deve pousar, indicam as fotos já divulgadas pela Disney dos EUA).


E, apesar de os dramas românticos já se esboçarem no primeiro episódio, ‘Off the Map’ radicaliza a premissa de ‘Grey’s Anatomy’ com muito mais ação e aventura.


Na salada de referências, há de ‘Lost’ a McGyver e Indiana Jones: grandes caminhadas pela selva, socos na cara no lugar de anestesia e transfusão de água de coco em uma cirurgia.


 


 


 


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 20 de janeiro de 2011


 


TELECOMUNICAÇÕES


Karla Mendes


Anatel pode parar na Justiça por ‘quebra de sigilo’


As operadoras de telefonia podem acionar a Justiça contra a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), caso a autarquia implemente, de fato, um sistema de fiscalização remoto integrado aos sistemas das empresas, que dará acesso a informações sobre todas as ligações telefônicas. A proposta já passou por consulta pública, mas ainda não foi analisada pelo Conselho Diretor da agência.


A Anatel argumenta que o objetivo primordial dessa medida é coibir abusos das empresas contra os consumidores, como cobranças indevidas e que isso não significará a quebra do sigilo telefônico, pois o conteúdo das chamadas será preservado. Advogados que atuam no setor, porém, ressaltam que o simples acesso aos dados telefônicos configura, sim, quebra de sigilo, e que a medida é ilegal e inconstitucional.


‘A chamada telefônica é protegida por lei. É sigilosa. Só as partes interessadas podem revelá-la’, defende Pedro Dutra, advogado especializado em telecomunicações, que atua para diversas empresas. Só de a agência saber que uma pessoa ligou para outra em determinada data e horário e o tempo de duração da chamada já configura violação, na visão do advogado. ‘Isso é ilegal, desnecessário e ineficaz.’


O gerente regulatório da Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (TelComp), Jonas Antunes, alerta que a Anatel teria de levar o assunto para aprovação no Congresso Nacional. ‘A Anatel não pode discutir esses temas por meio de um simples regulamento. Ela não tem respaldo nenhum na Constituição Federal.’ Ele criticou o fato de a empresa já estar adquirindo equipamentos para adotar o sistema, mesmo antes da aprovação do Conselho Diretor.


O advogado Floriano de Azevedo Marques Neto, que também atua no setor, lembra que a Anatel tentou colocar uma cláusula prevendo o acesso a esses dados nos contratos de concessão, mas houve forte reação das empresas. ‘Se houver essa obrigação, é possível que haja reação judicial’, disse.


Procurado, o Sinditelebrasil, que representa as operadoras, informou que só se manifestará após a proposta ser implementada. Nos bastidores, porém, é dado como certo que as empresas recorrerão à via judicial se Anatel levar adiante a iniciativa.


Transparência. Uma fonte do governo disse ao Estado que não há risco jurídico na implantação desse sistema pela Anatel. Na visão dessa fonte, o simples acesso aos dados telefônicos não implica em quebra de sigilo. ‘Assim como a Receita Federal está para a questão fiscal, a Anatel é incumbida de fiscalizar.’


O empenho da agência em implementar a proposta, explica a fonte, é dar mais transparência a informações como quantidade e duração das chamadas. ‘A Anatel deixará de ser refém das empresas para ter acesso a esse tipo de informação’, ressaltou.


Hoje, se um usuário registra queixas na Anatel sobre cobranças indevidas, por exemplo, a agência tem de solicitar as informações desejadas para a operadora, que pode filtrar os dados da forma como desejar antes de repassá-los ao órgão regulador. Com o novo sistema, essa dependência chegará ao fim.


 


 


TECNOLOGIA


Tatiana de Mello Dias


Diretor da Linux defende empreendedorismo digital


Antes mesmo que começasse a primeira grande palestra internacional de ontem, Jon ‘Maddog’ Hall já atraía os olhares na Campus Party. O diretor-executivo da Linux Internacional é um dos gurus do software livre no mundo, e sua aparência de Papai Noel (lembrada pelo próprio com um ‘ho-ho-ho’ ao pegar os microfones) não esconde a experiência: são 42 anos trabalhando na indústria da computação.


Maddog veio apresentar o projeto Cauã, que tem por objetivo aumentar a inclusão digital e criar empreendedores na área de software livre. Quando subiu ao palco, recebido por aplausos, gritos e assovios, já disse a que veio. ‘Muita gente chega para mim e pergunta: Maddog, como posso fazer dinheiro com software livre?’ A solução proposta por ele passa por três pilares: educação, inclusão digital e profissionalização.


Maddog aposta na criação de bolhas de Wi-Fi para aumentar o acesso à internet. Isso seria feito por meio dos próprios colaboradores, que se tornariam emissores de sinal. O projeto, segundo ele, poderá criar milhões de empregos de alta tecnologia, torna os computadores mais simples e eficientes, cria uma computação mais amiga do meio ambiente e usa um financiamento sustentável no setor privado.


O modelo é baseado em thin clients, computadores simples e leves, com processadores Atom. Maddog calcula dois thin clients por pessoa (uma em casa, e outra no trabalho), e mais 92 milhões de terminais POS. No total, seriam 400 milhões de pontos no País.


O acesso seria implantado por um esquema próprio de redes: quem trabalha com software livre seria um empreendedor que implantaria o sistema ao seu redor. Para isso, é preciso investir em capacitação técnica – que, reiterou Maddog, a maioria dos presentes ali já tinha – e noções de business. ‘Como conseguir dinheiro de seus clientes’, trocou em miúdos o guru do Linux.


Passo inicial. Segundo Maddog, a média de salário na área é de R$ 4 mil por mês. Iniciantes embolsam R$ 2 mil. O mercado de trabalho é grande – segurança, software, redes, automação. A inclusão geraria demanda por profissionais em várias áreas, e o passo inicial é fazer um investimento em uma rede eficiente e um bom equipamento.


Segundo Maddog, os computadores thin clients seriam produzidos por pequenas empresas no Brasil. Teriam configuração simples e custariam US$ 200.


E como ser um empreendedor? Maddog foi claro: aprenda software livre, entenda a proposta, compre seu material e comece a fornecer o serviço aos consumidores. A implementação é totalmente aberta e é de propriedade da comunidade.


PONTOS-CHAVE


Televisão


A Campus TV está funcionando, tendo habilitados quatro canais, a fim de captar diferentes atividades ao mesmo tempo. São eles: Criatividade, Inovação, Ciência e Arena Campuseiros.


Nasa


O engenheiro da Nasa Mike Comberiate e o brasileiro Marco Figueiredo, consultor da agência, anunciaram que querem levar dez estudantes brasileiros para um estágio na agência.


Palestra


Um dos destaques de hoje na Campus Party é a palestra de Stephen Crocker, que tem trabalhado com internet desde a criação da rede. Atualmente, é o CEO da empresa Shinkuro.


 


 


POLÍTICA CULTURAL


Jotabê Medeiros


Ana já se impõe no Minc


Todo ministro tem de ir aonde o povo está? As primeiras ações da ministra Ana de Hollanda frente ao Ministério da Cultura já permitem delinear um perfil nessa linha. A nova dirigente tem demonstrado gosto pelas ações de campo, pela presença na frente de combate, pelo efeito simbólico que possa ter um ‘dirigente ralador’.


Sua primeira ação de governo foi uma visita a três comunidades do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, palco de batalha entre traficantes e polícia no fim de 2010. Esta semana, mal ouviu as notícias sobre os danos causados pelas enchentes, Ana deslocou-se com sua comitiva para a cidade histórica de Goiás, acompanhada do presidente do Iphan, Luiz Fernando de Almeida, de onde anunciou recursos de R$ 500 mil para ações emergenciais no patrimônio histórico local.


‘Não podemos ficar sempre correndo atrás dos desabamentos quando eles acontecem. Temos de ter medidas preventivas. Já tinha conversado com a presidenta Dilma, com outros ministros, agora estou um pouco mais focada nessas questões da chuva e vou procurar a todo instante integrar grupos de estudos interministeriais para prevenir, para nos organizar’, disse Ana.


Em Goiás Velho, a ministra viu dois casarões históricos de século 19 destruídos pelas águas, conversou com moradores e acompanhou a transferência do acervo do museu Casa de Cora Coralina para a sacristia de uma igreja, onde ficou a salvo das águas. ‘Essa atitude da ministra foi superimportante, porque o drama do patrimônio aqui acabou ficando um pouco eclipsado pela grande tragédia que aconteceu no Rio, e a cidade de Goiás foi duramente castigada’, disse Almeida, presidente do Iphan. ‘Quero voltar aqui em momentos alegres. Agora vim em uma missão de solidariedade, para ajudar a cidade’, discursou a ministra.


No dia 12, no Complexo Cultural Funarte, Ana teve sua primeira reunião com servidores do MinC e recolheu suas reivindicações, que incluem cumprimento de acordos do passado – alguns da greve que parou o MinC no início de 2007. Ana, segundo sua assessoria, concordou com a necessidade de melhorar os vencimentos, alegando que conhece bem a situação salarial da pasta, pois já trabalhou na Funarte. Admitiu que os salários pagos na área estão abaixo da média paga nos demais ministérios, e comprometeu-se a encaminhar a reivindicação à ministra do Planejamento Orçamento e Gestão, Míriam Belchior. ‘Preciso de funcionários satisfeitos, para a realização de um trabalho eficiente’, afirmou.


Esse estilo de rápida ação-reação de Ana surpreende até o tradicional ritmo de Brasília. A notícia bate no seu gabinete e ela vai ao front. Na semana passada, após ler o noticiário, ligou imediatamente para o ministro Antonio Patriota para inteirar-se do assunto da proibição da venda dos livros do escritor brasileiro Paulo Coelho no Irã, segundo informou a coluna Direto da Fonte, de Sonia Racy no Estado.


Nesta sexta-feira, Ana continua seu périplo e vai a Tiradentes. Sai de Brasília direto para o Festival de Cinema local. Certamente, enfrentará as demandas de um dos setores mais organizados da cultura nacional, o cinema – que vê com certa apreensão a divulgação de novas medidas que possam afetar o funcionamento da Secretaria do Audiovisual e da Ancine.


Visitas. Os efeitos das visitas, por enquanto, buscam mais dar visibilidade a certas questões e são um cartão de visitas da nova ministra. No Complexo do Alemão, por exemplo, ela apenas sacramentou a participação do MinC no financiamento dos pontos de cultura que já existiam no local. ‘Serão R$ 180 mil em recursos para cada Ponto de Cultura, a serem pagos em parcelas anuais, durante três anos’, disse Ana.


O mundo cultural ainda acompanha com cautela e atenção os primeiros movimentos da nova ministra. ‘Acho que em 15 dias não dá para fazer esse tipo de análise. Precisamos de um pouco mais de tempo para ver o que de fato serão as suas prioridades e qual será sua forma e ritmo de ação. O que me parece mais importante até agora é uma disposição efetiva para o diálogo com os diferentes atores da área cultural’, diz o produtor cultural João Leiva.


Nesses primeiros dias de governo, Ana reabilitou colaboradores e intelectuais que tinham rompido com a gestão Gil-Juca, como Antonio Risério (que voltou a ser um assessor especial), e abriu o caminho para nova colaboração com outros, como Marcelo Ferraz, que já dirigiu o programa Monumenta.


Ontem, uma portaria da Secretaria Executiva, publicada no Diário Oficial, mostra também que há uma certa confusão orçamentária no MinC nesse início de governo. A portaria sofreu alteração ‘em virtude da classificação do orçamento programado não ser suficiente para atender às atuais necessidades’. Parte dos editais de 2010 terão de ser pagos com recursos do orçamento de 2011.


 


 


TELEVISÃO


Etienne Jacintho


Discovery foca enchentes


Depois de lançar Rio de Janeiro – Segurança em Jogo, logo após as ocupações dos morros cariocas, no fim do ano passado, o Discovery Channel vai apresentar, no dia 6 de fevereiro, às 21 horas, mais um documentário feito em parceria com a Mixer, com tema que está em evidência: as enchentes. Águas Mortais foi gravado em agosto de 2010 e discute os eventos climáticos que assolaram toda a América Latina – como os deslizamentos causados pelas chuvas em Angra dos Reis e Ilha Grande, no Rio.


‘Vamos mostrar o que aconteceu no Rio, em São Paulo e em países como o Peru e o México’, conta o diretor Rodrigo Astiz. Ele conta que pensou em fazer o documentário após as chuvas fortes, atípicas, que ocorreram no ano passado. ‘Fiquei me perguntando se todos esses eventos estariam relacionados e o que poderia ser feito para evitar tragédias’, diz Astiz.


A atração mostra a opinião de meteorologistas e climatologistas sobre questões como o aquecimento global e traz ainda as soluções apontadas por membros da Defesa Civil, médicos e engenheiros para amenizar os efeitos das enchentes.


O Estado acompanhou a equipe do documentário em visita ao piscinão da Chácara Francisco Morato com o geólogo Luiz Vaz. Ele defende que a prevenção das enchentes em São Paulo vai além dos piscinões. Para ele, a cidade não pode crescer desordenadamente e as áreas próximas do Rio Tietê devem sofrer intervenções para dar maior vazão às águas. De lá, a equipe partiu para a Universidade de São Paulo (USP), para conversar com Rodolfo Scarati Martins, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica, que está desenvolvendo um asfalto poroso para absorver a água mais rapidamente em caso de chuva forte em grandes centros urbanos.


‘Não dá para impedir a chuva de acontecer, mas há como pensar o que fazer para minimizar os efeitos para as pessoas atingidas e os danos econômicos’, fala Astiz, que já realizou, em parceria com a Discovery, três documentários. Além de Rio – Segurança em Jogo, dirigiu Jean Charles de Menezes e São Paulo Sob Ataque. A parceria do grupo com a Mixer prevê mais dois títulos, também com direção de Astiz. Ambos devem ser lançados ainda este ano.


 


 


 


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