Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Reflexões sobre a renúncia de Bill Keller

A escolha de Jill Abramson para suceder Bill Keller no cargo de editora-executiva do New York Times era, de certa forma, esperada, avalia a New York Magazine [2/6/11]. O controverso papel de Keller como colunista da revista do jornalão ao longo deste ano também evidenciava um eventual retorno do editor-executivo ao jornalismo em tempo integral. Ainda assim, quando ele apareceu na sala de Arthur Sulzberger Jr. no mês passado para lhe dizer que queria renunciar, o publisher ficou surpreso. “Só havia contado minha mulher e Jill sobre a minha decisão”, revela Keller.

O então editor-executivo relembra que disse ao publisher que estava no cargo há oito anos, o que era suficiente e que queria voltar a escrever. Sulzberger não conseguia entender os motivos para Keller deixar o cargo em um momento em que tudo estava indo tão bem. A cobrança pelo acesso ao conteúdo online estava sendo bem-sucedida, a publicidade estava se estabilizando, o jornal havia recebido dois Pulitzer e a investida do The Wall Street Journal no mercado do jornalão havia se mostrado ineficiente. “Não queria deixar para minha sucessora uma crise. Ela terá muitas para lidar”, explicou Keller.

Se houve algum embaraço na conversa entre os dois, era porque a relação entre ambos nunca foi íntima. Em 2001, quando se buscava alguém para substituir o então editor-executivo Joe Lelyveld, Sulzberger optou por Howell Raines em vez de Keller – que era escolha de Lelyveld. Na época, Keller ficou profundamente magoado. “Isto foi superado, mas, certamente, complicou a relação”, revelou.

Decisão planejada

Há um ano, ele contou à sua mulher, a escritora Emma Gilbey Keller, que estava pronto para deixar o cargo e que queria voltar a escrever. Emma lhe aconselhou a ficar. Meses depois, em um jantar com Jill, ele lhe contou que queria seguir adiante e ela passou quase uma hora convencendo-o a mudar de ideia.

Keller não queria começar sua coluna antes de renunciar, mas o editor da revista Hugo Lindgren lhe pediu para escrever na publicação, que foi relançada. O objetivo era escrever sobre líderes estrangeiros, mas sua coluna acabou tornando-se conhecida por defender antigas mídias – e suas colunas acabaram enfurecendo muitos da redação. O editor de mídia Bruce Headlam e o colunista de mídia David Carr conversaram com ele para lhe explicar que as suas colunas estavam prejudicando o jornal a cobrir a indústria midiática – em especial sobre sua coluna sobre agregação e o Huffington Post, na qual ele chamava blogueiros de “recicladores de mídia” e repórteres de mídia de “búfagas”, que são as aves que comem parasitas de bois ou outros animais.

No mês passado, ele escreveu uma coluna criticando o Twitter, chamando a ferramenta de “inimigo da contemplação”. A equipe de mídias sociais do jornal reclamou que ele estava assinalando que não gostava do Twitter, mesmo com o jornalão encorajando leitores a aderirem à nova ferramenta. Keller reuniu-se com a equipe para esclarecer seus pontos de vista e acabou concordando em convencer Jill a se juntar ao Twitter.

Desafios da nova editora-executiva

Em entrevista a Mallary Jean Tenore [Poynter, 3/6/11], Jill conta que a transição digital completa será provavelmente seu maior desafio. “Meus objetivos são manter a cobertura vibrante e forte, tentar continuar com nosso plano de integrar todos os aspectos da redação digital e online”, contou. “Será desafiador, em um período de fazer a transição para um mundo dominado pelo impresso para um dominado pelo digital”.

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