Friday, 03 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Reinventar para sobreviver

Tempos difíceis – e de reinvenção – para as semanais americanas. A Newsweek está sendo vendida, a U.S. News & World Report migrou-se quase que totalmente para a rede e a Time está menor – a circulação caiu de 4 milhões para 3,25 milhões. Segundo o editor da Time, Rick Stengel, ‘era preciso consertar o teto enquanto o sol ainda brilhava’. Há quatro anos, quando ele assumiu o cargo, a revista era maior, mas a publicação é uma das poucas sobreviventes – com jornalismo sério – do gênero atualmente.


Algumas capas recentes da Time mostram que ainda é possível impactar. A de agosto mostrava uma jovem afegã de 18 anos, exibindo o nariz e as orelhas mutiladas como forma de denunciar a crueldade do Talibã contra as mulheres. Como comenta Howard Kurtz [Washington Post, 30/8/10], o impacto pode não ter sido tão grande quanto o da capa de 1996, com a pergunta ‘Deus está morto?’, mas é necessário considerar que a audiência também está menor. O site da revista – que só publica matérias com duas semanas de atraso – aumentou a quantidade de leitores em 47% nos últimos dois anos, para sete milhões de visitantes ao mês, segundo a Nielsen.


Para efeitos de comparação, Sidney Harman, o magnata que está comprando a Newsweek do The Washington Post Co., disse que ficaria feliz se em três anos a empresa não desse mais prejuízo. Já a Time estima registrar lucros de mais de US$ 50 milhões este ano. ‘Nunca tive satisfação ao ver a espiral decrescente ao redor de nós, mas, obviamente, cria oportunidades’, afirmou Stengel.


O editor teve que reduzir a equipe ao longo de quatro anos, ficando basicamente com freelancers, mas conseguiu reunir um time de escritores de ponta – incluindo Michael Grunwald, David Von Drehle e o vencedor do Pulitzer Barton Gellman. Ele também trouxe Mark Halperin da ABC, Michael Crowley da New Republic e Fareed Zakaria da Newsweek. No entanto, grandes nomes deixaram a publicação, como Michael Kinsley, Andrew Sullivan e Bill Kristol. Também não há um colunista conservador para equilibrar o liberal Joe Klein.


Tanto a Newsweek quanto a Time abandonaram os resumos das notícias da semana – um pouco irrelevante na era digital. A Time adotou o que Stengel chama de ‘análise informativa’, que são matérias com um claro ponto de vista – em geral, de esquerda ou de centro. Já a Newsweek, que está mais inclinada para a esquerda e ainda apostou, no ano passado, em colunas e artigos de opinião – o que não deu muito certo.


Uma mudança importante para a Time foi passar a publicação de segunda para sexta, para a revista se tornar uma leitura de final de semana. A capa é revelada semanalmente, todas as quintas, no Morning Joe, na MSNBC. Outro ponto positivo é o blog Swampland, com colaboradores como Klein. ‘Foi importante ter uma relação mais interativa com os leitores’, comenta Klein.