Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Será o jornalismo dominado pelo Facebook?

Mark-Zuckerberg

Zuckerberg: sua rede cada vez mais poderosa

É cada vez mais clara a consolidação da influência das redes sociais sobre o jornalismo. O Facebook firmou parceria com veículos como New York Times e BuzzFeed para passar a hospedar conteúdo jornalístico em sua própria página em vez redirecionar o leitor a links para sites externos.

Além disso, mais uma vez o algoritmo de notícias do feed foi alterado – com isso, editores foram advertidos de que poderiam notar um “declínio” no alcance e encaminhamento de tráfego de suas postagens.

A cada anúncio do Facebook, cresce a desconfiança de analistas de mídia sobre o papel que a rede social terá, num futuro próximo, na indústria jornalística.

O jornalista Mathew Ingram, que escreve sobre mídia e a evolução do conteúdo das mídias sociais para a revista Fortune, ressalta o aumento do controle do Facebook sobre as empresas de comunicação, determinando quem vai prosperar e quem vai perecer. Ingram questiona as recentes mudanças no algoritmo tendo como justificativa a “otimização” de distribuição de conteúdo: “otimizar” sob o ponto de vista de quem?

Ele sabe, no entanto, que editores de notícias e empresas de mídia de todos os tipos já não têm mais escolha quando se trata de lidar com o Facebook, independentemente de seus termos de uso. “Escolher evitar o Facebook simplesmente não é uma opção se você quiser que seu conteúdo seja encontrado”, escreveu o colunista em artigo para a Fortune. Atualmente, a rede social conta com 1,44 bilhão de usuários.

Trevor Timm, diretor-executivo da Freedom of the Press Foundation – organização sem fins lucrativos que apoia o jornalismo dedicado à transparência e à prestação de contas –, escreveu um artigo para a Columbia Journalism Review também externando sua preocupação. Ele crê que este novo poder da rede criada por Mark Zuckerberg pode estabelecer tanto o direito da livre expressão quanto impor a censura.

Timm cita o caso da revista New Yorker, que foi banida do Facebook durante determinado período de 2012 por postar uma charge contendo nudez. Ele também critica o próprio funcionamento dos algoritmos do site, que filtra o conteúdo na timeline de cada usuário e não mostra tudo que é publicado pelos seus contatos.

Em geral, a grande preocupação de Timm é que, ultimamente, os jornais vêm precisando muito mais do Facebook do que o Facebook dos jornais. Isto fica bem explícito no movimento mercadológico, bastante favorável às redes sociais. Quando o jornal Washington Post foi adquirido pelo CEO da Amazon, Jeff Bezos, em 2013, o valor pago na transação foi de 250 milhões de dólares. Já quando o Facebook adquiriu o aplicativo de bate-papo WhatsApp pouco depois da negociação feita por Bezos, pagou nada menos do que 19 bilhões de dólares – valor 76 vezes superior à marca Washington Post.

Poder político

Embora a imprensa ainda pise em ovos no que diz respeito ao poder das redes sociais, alguns governos – repressores, diga-se – têm posições mais sólidas.

A Turquia, por exemplo, bloqueou o Facebook e o Twitter em todo o país porque os usuários estavam compartilhando a foto do promotor Mehmet Selim Kiraz, rendido e morto em março de 2015 por dois militantes armados de um grupo de extrema-esquerda turco. A imagem em questão mostrava Kiraz sob a mira da pistola de um de seus algozes.

O governo do Egito também chegou a bloquear redes sociais em 2011 para evitar que estas servissem para organizar e reverberar protestos quando a população se encontrava insatisfeita com os rumos políticos e econômicos do país.

Na China, o uso de redes sociais também é restrito. O microblog Weibo vive sob intervenção governamental (seja através da exclusão de perfis ou da censura de postagens). Google e Facebook? Só podem ser acessados via VPN (redes virtuais privadas que criptografam os dados e dificultam a “espionagem” do que é visto).

Facebook minimiza críticas

Durante um discurso no Festival Internacional de Jornalismo na Itália, em abril, Andy Mitchell, diretor de parcerias de notícias do Facebook, rejeitou a ideia de que a plataforma social seja uma espécie de “porteiro” da descoberta da notícia, justificando que quem controla seu feed de notícias é o próprio usuário, pois a função do algoritmo é apenas refletir os cliques do internauta.

George Brock, professor de jornalismo da City University de Londres, contestou Mitchell durante o evento e escreveu posteriormente em seu blog que o Facebook não é uma máquina neutra que retransmite notícias e que o algoritmo escolhe, sim, o que as pessoas vão ver. Ele lembrou também que o conteúdo veiculado no Facebook deve atender a padrões e operar dentro das leis de cada país, por isso não pode ser totalmente livre.

Mathew Ingram alega que o Facebook sempre vai tentar retratar o algoritmo como uma simples e inofensiva extensão dos interesses de seus usuários, pois desta forma ele não afasta as empresas de mídia que ainda desejam replicar seu conteúdo na rede social.

Lucro de 500 milhões em um trimestre

O fato é que, querendo ou não, o Facebook ainda é referência para usuários comuns e empresários. E isto ainda se reflete em números.

No primeiro trimestre de 2015, a receita obtida com publicidade em dispositivos móveis representou 73% da receita publicitária total e apresentou um crescimento de 59% no período, resultando num rendimento de US$ 2,59 bilhões.

A receita total foi de US$ 3,54 bilhões e o lucro líquido foi de US$ 512 milhões.

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