Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Sucursais de Pequim e Xangai são ‘inspecionadas’ pelo governo

Os escritórios da Bloomberg News em Pequim e Xangai sofreram “inspeções” surpresa de autoridades chinesas no fim de novembro, após a revelação de que a agência havia cancelado a publicação de uma matéria, apurada durante um ano, sobre laços financeiros entre um bilionário chinês e funcionários do governo. A publicação da reportagem teria sido suspensa para evitar problemas com a administração chinesa. No entanto, em vez de amansar o governo, a decisão teria irritado as autoridades.

O editor-chefe Matt Winkler nega que tenha proibido a publicação da matéria, mas jornalistas da agência relataram uma reunião em que ele teria explicado sua decisão de não ir adiante com o texto ao comparar a situação da imprensa na China com a atuação de jornalistas na Alemanha nazista, pois a Bloomberg, segundo ele, corria o risco de ser expulsa do país.

A revelação sobre a reunião e a prática de autocensura foi divulgada pelo New York Times no início de novembro, mas a agência mundial de informações para o mercado financeiro refuta a acusação. A Bloomberg insiste que a publicação do longo artigo foi apenas adiada, e não cancelada, por ele ainda não estar pronto. Para complicar ainda mais o cenário, o repórter que escrevia a reportagem, Mike Forsythe – e que é suspeito de vazar as informações sobre a reunião –, deixou a agência após 13 anos de trabalho.

Intimidação

Não foram divulgados detalhes sobre as visitas, realizadas no mesmo dia nas sucursais de Xangai e Pequim. Algumas pessoas da agência dizem que elas foram identificadas como “inspeções de segurança”. Jornalistas da Bloomberg, entretanto, as veem como um ato de intimidação.

No ano passado, o governo reagiu fortemente a uma premiada série investigativa sobre a fortuna acumulada por famílias de funcionários públicos. A China chegou a negar vistos para jornalistas da agência e orquestrou uma campanha para que empresas do país não comprassem terminais financeiros da Bloomberg.