Sunday, 05 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Suzana Singer

‘Muita gente que passou dos 40 anos pode agora deixar os óculos de lado na hora de ler a Folha. No sábado, consegue escolher um filme no roteiro da Ilustrada sem sujar o nariz de tinta. Os ganhos vieram do aumento, de 12%, no tamanho das letras -o pulo do gato do novo projeto gráfico. De um dia para o outro, o jornal ficou mais legível.

O advogado Roberto Borenstein, 53, assinou a Folha na segunda-feira, depois de perceber que os textos estavam mais fáceis de ler. ‘Os jornais estão diminuindo cada vez mais a letra para economizar papel. É uma idiotice porque, se é ruim de ler, a gente perde o interesse’, diz.

Se as letras maiores são quase unanimidade, outras mudanças causaram incômodo em muitos leitores. De 147 mensagens enviadas à ombudsman sobre o novo projeto gráfico, só 18 foram de elogio. As críticas, no entanto, quase não apareceram no jornal.

O azul forte, que domina as páginas, foi definido como ‘enjoativo’, ‘berrante’, ‘horroroso’. ‘É cor de Fusca velho’, afirma o corretor de seguros Marcelo Borsari, 35.

Eliane Stephan, designer responsável pelo projeto, diz que o azul ‘ilumina’ as páginas e faz uma ligação com a internet. ‘Azul luminoso é das cores mais usadas em sites, blogs, no Twitter, por exemplo. É um jeito de colocar a Folha em conversa com a mídia digital’, diz.

A cor ‘cheguei’, associada a títulos mais fortes -com mais preto- , deu a alguns leitores a impressão de que a Folha amanheceu no domingo passado mais ‘popular’, ‘provinciana’ ou ‘antiquada’.

‘Ficou colorido demais. As novas fontes são grandes, grossas e arredondadas. Parece jornal antigo ou popular, aqueles, com perdão da palavra, bregas mesmo’, afirma a estudante Lívia Baena, 19.

Eliane Stephan discorda. ‘Vemos o cyan (azul puro) nas mais sofisticadas publicações impressas. É uma cor contemporânea.’ Ela não se importa se acharem o jornal ‘retrô’, ‘com visual dos anos 70’. ‘Não vejo assim, mas até gosto desta percepção. Achei legal a associação com a cor de Fusquinha, porque é meio pop’, diz.

Para ela, a maior quantidade de preto nos títulos deixa a Folha mais ‘incisiva, corajosa’. ‘Quando se aumenta o corpo do texto, torna-se necessário dar mais peso aos outros elementos gráficos, como títulos’, explica. Fica tudo mais forte.

A reação do economista Michael Rachid, 35, e de outros leitores foi ruim. ‘Parece que a Folha grita, esperneia por minha atenção. Ficou abrutalhada’, escreveu ele, do Rio de Janeiro.

O que fica claro nas mais diferentes reações dos leitores é que design gráfico não é ciência exata. Tem muito a ver com gosto.

Eliane compara com moda, em que não existe mais ‘a última moda’, mas inúmeras influências e tendências. ‘Cada um se identifica com o que melhor se encaixa às suas ideias, ao seu modo de vida.’

Pegando esse paralelo, dá para dizer que a Folha adotou, com o aumento das letras, por exemplo, uma calça bem mais confortável. Na hora de escolher o modelo, arriscou e, reestilizou uma boca de sino, que muitos acham ‘vintage’, e outros, ‘cafonérrima’.

Sinal dos tempos

Não chegou nenhuma reclamação sobre o nu frontal do fotógrafo David LaChapelle, na última Serafina. Em compensação, seis leitores, defensores dos animais, escreverem inconformados com a reportagem sobre touradas. Uma leitora parou de ler a revista na metade e foi para o quintal jogar o exemplar no lugar da coleta seletiva.

Questão de coerência

Na segunda-feira, a Folha manchetou que a Prefeitura de São Paulo proibirá estacionar em ruas do centro expandido a partir de 2012, quando serão construídas garagens pagas.Tratava-se de declaração do secretário dos Transportes e não valia ter sido alçada a assunto principal. Na quinta-feira, o jornal publicou um desmentido: ‘a prefeitura diz agora que centro continuará com vagas nas ruas’. A notícia, de apenas nove parágrafos, saiu, sem nenhum destaque, na última página do caderno Cotidiano 2.

Querido Waltinho

O filme inacabado de Walter Salles, baseado no livro ‘On the Road’ (Jack Kerouac), virou ‘hit’ na Ilustrada. O cineasta nem conseguiu acabar a obra e ela já ganhou cinco textos na Folha, dois publicados anteontem. No dia 1º de maio, teve uma chamada surreal: ‘Folha assiste com exclusividade à primeira hora de filme de Walter Salles’.

Nada se cria…

Um leitor escreveu no Twitter sobre a coincidência entre o título principal da Ilustrada de domingo passado e a capa da ‘Superinteressante’ de 2007. Em ambos: ‘Lost e o fim da TV’. A Redação diz que a repetição ocorreu porque ‘esse é um dos temas mais discutidos na televisão desde que o seriado começou’.’