Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Tiro acidental vira alvo de piadas

A recente trapalhada do vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, virou piada nacional – e um prato cheio para os apresentadores de programas de entrevistas. Cheney atirou acidentalmente em um senhor de 78 anos durante uma caçada de codornas em um rancho no Texas, no sábado (11/2). O advogado Harry Whittington, companheiro de caça do vice-presidente, foi atingido perto do coração.


O trágico incidente deu o que falar na mídia americana. Como era impossível negar as implicações cômicas do ocorrido, elas não foram evitadas. O tom mais leve dos primeiros dias, entretanto, deu lugar a uma cobertura mais séria depois de terça-feira, quando a vítima sofreu um moderado ataque cardíaco. Mas isso não pôs um fim definitivo às piadas.


Em duas noites, o apresentador Jay Leno contabilizou 20 piadas sobre o assunto. ‘O cara em quem ele atirou… teve um pequeno ataque cardíaco’, brincou Leno na noite de terça. ‘Ao que Cheney respondeu: ‘oh, seu bebezão, eu tenho desses o tempo todo. Vamos lá, supere isso!’’. Para constar: o vice-presidente já sofreu quatro infartos.


David Letterman contou 21 piadas. Jon Stewart anunciou ao seu público que, depois do ataque cardíaco, mudaria o nível da história de ‘incrivelmente hilária’ para ‘ainda engraçada mas um pouco triste’.


Sem limites


Segundo Matthew Felling, diretor de mídia do Centro para Mídia e Políticas Públicas de Washington, a abordagem cômica para um assunto sério é compreensível, pois quase não há limites quando se trata de piadas sobre política. Para piorar, incidentes com figuras importantes de um governo sempre atraem maior atenção. Houve a vez em que Bush-pai vomitou em um jantar no Japão, a ocasião em que Bush-filho engasgou com um biscoito, a época em que o então presidente Gerald Ford não parava de tropeçar e o episódio em que Jimmy Carter contou ter sido atacado por um coelho durante uma pescaria, exemplifica Jocelyn Noveck [AP, 15/2/06].


O incidente pode ter conotação mais séria do que os outros casos, mas pegou a mídia dos EUA em um momento de calmaria de assuntos. ‘O Super Bowl acabou, o furacão Katrina acabou, e não há previsão de furacões destruindo o Golfo’, diz o professor Jerry Herron, da Wayne State University. ‘Então isto será grande até o próximo grande evento’. A procura pelo tema tem sido considerável. Na tarde de quarta-feira, o sítio de monitoramento de blogs Technorati listou 2.960 entradas sobre o incidente de Cheney.


A graça sobre o assunto, porém, pode acabar de vez se a saúde de Whittington piorar ou – na pior das hipóteses – ele morrer. ‘Aí realmente não haveria graça nenhuma’, conclui Felling.