Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Um protesto, duas versões

Congressistas americanos se queixaram de manifestantes que se reuniram diante do Capitólio no dia 20 de março para protestar contra democratas que se preparavam para aprovar reformas no sistema de saúde. Antes de o dia terminar, o Washington Post e outras organizações de mídia já haviam noticiado uma série de incidentes feios, com direito a cuspe no rosto e duras agressões verbais.

O deputado democrata negro Emanuel Cleaver II, do Missouri, disse que um manifestante cuspiu nele. Já o deputado Barney Frank, democrata e gay assumido, de Massachusetts, recebeu insultos preconceituosos. Dois democratas negros, André Carson, de Indiana, e John Lewis, da Georgia, contaram que também sofreram agressões racistas. Os episódios foram divulgados por dias em colunas e matérias no Post – grande parte da responsabilidade pelas agressões foi direcionada a ativistas do movimento de direita Tea Party, que organiza protestos pelo país contra medidas do governo de Barack Obama.

Muitos leitores, no entanto, reforçando a opinião de blogueiros conservadores, insistiram que os relatos foram exagerados; alguns defenderam a ideia de que os incidentes sequer aconteceram. O blogueiro e comentarista conservador Andrew Breitbart acusou Lewis e Carson de inventar as acusações de agressões racistas para ‘criar a impressão de que o movimento ‘tea party’ é racista’. Ele inicialmente ofereceu US$ 10 mil à instituição United Negro College Fund por gravações em vídeo que provem os insultos. Agora, está oferecendo US$ 100 mil. ‘Ninguém esperava este desafio. Que idiota desafiaria John Lewis, ícone do movimento de direitos civis? Bem, eu sou este idiota’, afirmou Breitbart.

As evidências

Vídeos postados no YouTube mostram o incidente em que cuspiram em Cleaver II, quando ele e outros políticos negros passavam pelos manifestantes. Entre vaias e coros de ‘matem a proposta de lei’, as imagens mostram o deputado reagindo e gritando. Ele vira-se, aponta o dedo e parece censurar alguém que não para de gritar. Na medida em que continua a andar, pode ser visto limpando o rosto. É certo que ele foi atingido por saliva, mas não se sabe se tratou-se de um ataque deliberado. O vídeo sugere que não foi algo intencional.

O Post e outros veículos deixaram a impressão de um ataque premeditado. Com vídeos do incidente em sites liberais e conservadores, assim como questionamentos sobre o episódio na blogosfera e nos canais a cabo, o Post falhou em não fornecer mais clareza sobre os fatos, opinou o ombudsman Andrew Alexander, em sua coluna de domingo [11/4/10]. Em relação ao episódio de Frank, um vídeo da ABC News mostra que os manifestantes gritaram insultos homofóbicos. Não há, entretanto, registro dos ataques racistas contra Lewis e Carson.