Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Vítimas de abusos da imprensa criticam novo órgão regulador

Em carta a Sir Alan Moses, presidente do Ipso, novo órgão regulador da imprensa britânica, 30 vítimas de abusos de veículos jornalísticos disseram não acreditar que o órgão fará qualquer diferença prática. O Ipso (Independent Press Standards Organisation, ou Organização Independente de Padrões da Imprensa), que substitui oficialmente a Press Complaints Commission, partiu de uma iniciativa da indústria e representa a maior parte da imprensa britânica, incluindo os grupos News UK, Associated News e Trinity Mirror. Alguns grandes veículos, no entanto, decidiram ficar de fora da organização. Foi o caso do Financial Times e das editoras que publicam o Guardian e o Independent

A Press Complaints Commission, agência que lidava com a regulamentação da imprensa britânica, há anos vinha sofrendo críticas por seu desempenho; o auge da crise se deu quando descobriu-se que o tabloide News of the World havia grampeado, por anos, milhares de linhas telefônicas de celebridades, políticos e até membros da família real britânica.

Em busca de confiança nos jornais

Dentre os que assinaram a carta a Sir Alan Moses estavam a irmã da estudante Milly Dowler (assassinada no Reino Unido em 2002, aos 13 anos) e os pais da menina Madeleine McCann (desaparecida em Portugal em 2007, aos quatro anos de idade, e nunca encontrada). Em ambos os casos, as famílias sofreram com os abusos e a perseguição da imprensa.

“Queremos um sistema de regulamentação independente e eficaz, que de fato restaure a confiança nos jornais britânicos e ofereça a imprensa livre e responsável que o melhor do jornalismo britânico merece”, dizia trecho da carta.

O documento também se queixava do fato de o Ipso não cumprir muitas das recomendações do relatório Leveson, reforma proposta em 2012 com o intuito de regulamentar as atividades das empresas jornalísticas britânicas.

Mediação

Em coletiva de imprensa por conta do lançamento oficial do Ipso, o presidente do órgão, que já foi juiz, criticou jornalistas por serem “excessivamente sensíveis” e defendeu o fim da cobertura “ingênua e infantil” que a imprensa faz de seus críticos. Apesar de não seguir as recomendações de Lorde Brian Leveson, que presidiu o inquérito criado após o escândalo dos grampos para avaliar e encontrar soluções para a qualidade e os padrões éticos da imprensa, Sir Alan Moses elogiou o trabalho do ex-colega.  

O Ipso irá receber queixas do público sobre a imprensa e repassá-las, após análise, aos jornais envolvidos. Quando necessário, o órgão também participará da mediação de questões que, após este primeiro contato, continuem sem solução. Sir Alan prometeu que o Ipso oferecerá um julgamento justo e barato, corrigindo, segundo ele, o sistema atual, onde “apenas os ricos podem buscar reparação pelas violações de privacidade e difamação”.  

 

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