Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A onda contra o Jornal Nacional

Na série de sessões do Roda Viva sobre a mídia brasileira (TV Cultura, 1996), este Observador manifestou várias vezes a sua estranheza diante do cínico encarniçamento das empresas concorrentes e da maioria dos profissionais contra a TV Globo. 

Como se as mazelas da imprensa brasileira fossem oriundas e localizadas apenas na Vênus Platinada. Hipocrisia e desfaçatez – o problema situa-se na esfera das escalas. Com uma audiência de 80 milhões de espectadores, oferecendo na mesma bandeja informação e entretenimento, a Rede Globo é somente a mais visível. E paga por isto. 

Acontece que no mundo midiático brasileiro ninguém tem autoridade para atirar a primeira pedra, todos participaram das mesmas mumunhas contra o Interesse Público: 

* Autocensura durante o regime militar. 
* Sujeição da Ética ao Marketing. 
* Cartelização corporativa. 
* Desbragada apelação sensacionalista. 
* Contratação de mão-de-obra barata e inexperiente em detrimento da qualidade informativa. 

Ora, se o grupo anti-Roberto Marinho pretendesse efetivamente mudar o panorama jornalístico brasileiro, teria que mudar os procedimentos e comportamentos para isolar o adversário. Só joga pedra na Geni quem é exatamente igual a ela. 

Desta forma, endeusa-se tudo que é anti-Marinho – das novelas mexicanas aos perdigotos fascistóides despejados por Boris Casoy. Os media-criticsesquecem as mazelas das empresas para as quais trabalham e só enxergam as que faz Big Brother. Acontece que os formadores de opinião são justamente os leitores, ouvintes ou espectadores dos Sete Anões, que acabam creditando a Guliver o que há mais errado e deslustrante. 

Tudo isto vem a propósito da última coqueluche dos especialistas em mídia: a audiência do Jornal Nacional caiu de 50 pontos para 30! Queda que, por sinal, insere-se na trajetória previsível das redes abertas de televisão. 

Acontece que o telejornalismo da Globo hoje atravessa a melhor fase da sua história (desde a abertura democrática). O Padrão Globo de Qualidade Jornalística (se é que existe), embora ainda esteja longe de satisfazer as nossas necessidades de contextualização e continuidade, está no caminho certo para lá chegar. Matérias mais longas, mais esclarecimento, mais reportagem (em lugar da controvérsia apenas), mais serviço público, mais defesa do consumidor, mais internacional, mais densidade, mais crítica. 

Com exceção de Gabriel Priolli (Gazeta Mercantil, 24/1/97), todos estão apostando no retrocesso e na crise quando, supostamente, deveriam estar a serviço da sociedade (e das respectivas audiências), estimulando a manutenção das conquistas. 

A verdade é que o Jornal Nacional mudou para melhor. Se, com isto, desfez-se daqueles telespectadores que não sabem onde fica a Bósnia e de Ruanda só querem as imagens macabras, é problema é dos que apostam na desinformação. 

O tribalismo brasileiro, com a sua compulsão antropofágica, mostra mais uma vez a sua capacidade de ceifar o que é bom, liquidar a inovação e deixar tudo no pé em que estava. Afinal, se o telejornalismo da Globo melhorar muito, como é que ficarão os jornais e revistas que fizeram de Caras o novo paradigma do jornalismo pátrio?