Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Ademar Gomes

"É claro que Daniella Perez foi vítima de um crime bárbaro, absurdo. Mas é preciso admitir que as provas contra Guilherme de Pádua e Paula Thomaz são uma brincadeira. (….) Na verdade, só foram presos porque se trata de um caso famoso. Foram condenados pela mídia, que é muito poderosa quando mobiliza o clamor público".

("Drible na Justiça", entrevista a Veja, 5/2/97. Ademar Gomes é presidente da Associação dos Advogados Criminalistas de São Paulo.)

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Luís Nassif

"Também não havia 'milagre' na recuperação do radialista [Osmar Santos´´. Dadas as circunstâncias do acidente, ele estava alcançando a recuperação possível, como andar tropegamente e balbuciar algumas palavras. E não sairá muito mais disso.

A avaliação dos médicos de Lins [que primeiro operaram Osmar´´ é a mesma de cirurgiões da capital consultados pela coluna. Mas como tirar da mídia essa oportunidade esplendorosa de poder relatar a seus leitores um milagre médico?

'Nunca nos deram chance de rebater', queixa-se o neurocirurgião Ivan Tadeu, o primeiro a atender Osmar Santos. '[José Roberto´´ Pagura [que atendeu Osmar no Hospital Albert Einstein´´ disse que tinha tirado cabelo de dentro do crânio, sujeira. Não era nada disso. (….) Escrevi carta para Veja discordando, mas nada foi publicado'.

Qual o resultado final dessa mistura incestuosa entre vaidades médicas e sensacionalismo da mídia? Primeiro, a falsa impressão de que apenas os grandes centros médicos estão aparelhados a salvar vidas humanas. Santos foi salvo em uma Santa Casa de Misericórdia, conveniada do SUS.

Mas, antes e depois do acidente, a mídia persistiu em mitificar os grandes hospitais sofisticados e em desancar o SUS.

Depois, o engodo do 'milagre' médico, uma banalização perigosa da ciência médica, que permite a hospitais fixarem preços absurdos, a seus médicos cobrarem honorários estratosféricos e aos pacientes pagarem conformados porque milagre não tem preço.

Finalmente, a competição desleal entre médicos. O maior ou menor sucesso passa a depender não apenas da competência médica, mas do menor ou maior escrúpulo do médico em fazer sua própria mídia, e em crucificar colegas."

(c) Folha de S.Paulo

("Osmar Santos e o marketing da saúde", Folha de S.Paulo, 2/2/97.)

(Aguarde: em breve, o OBSERVATÓRIO iniciará a discussão sistemática da questão da saúde, da doença, entre outros capítulos da conturbada relação entre jornalismo e ciência.)

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Antonio Callado

Do Callado jornalista não se falou o bastante quando ele morreu, em 28 de janeiro de 1997. Callado foi escritor importante, mas igualmente um jornalista soberbo, raro. No livro "3 Antônios e 1 Jobim – O encontro de Antonio Callado, Antonio Candido, Antônio Houaiss, Antonio Carlos Jobim"(entrevistas por Zuenir Ventura, Rio de Janeiro, Relume-Dumará, 1993; os trechos são transcritos abaixo fora da ordem em que foram publicados), ele dá uma notícia de seu trabalho em jornais:

"Mas passei por um tempo muito difícil, sobretudo depois da morte do meu pai. Tive que trabalhar, e aos dezessete anos já estava em jornal. (….) Estreei num jornal chamado A Notícia. Depois fui trabalhar no Correio da Manhã. (….) Isto foi em 1937.

(….) Tão logo entrei numa redação de jornal tive o primeiro contato com a censura. (….) A censura de 1937 não foi mais branda nem menos feroz do que a censura que se instalou no Brasil depois do AI-5, em dezembro de 1968. Ambas eram censura com o censor presente dentro da redação, lendo praticamente o jornal inteiro, e o jornalista aprendendo aquela técnica humilhante de escrever de maneira muito inteligente e sutil para que o censor não entendesse o que estava escrito. O problema é que, em geral, o leitor também não entendia. Quando o sujeito escreve uma coisa muito sutil, o leitor no dia seguinte também não percebe do que se trata. (….) Foi em grande parte por isso que optei por morar fora do país em 1941.

(….) Londres, naquela época, era o centro da guerra. Eu ia visitar, como jornalista e escritor, o centro de uma guerra mundial. Queria ver de longe essa periferia fascista que era o Brasil de 1941."

"(….) Eu me lembro do contato que tive com o Graciliano Ramos. Foi um contato relativamente breve, mas que deixou marca profunda em mim. Trabalhamos juntos no Correio da Manhã, quando eu voltei da Europa, em 1947. Ele fazia aquele trabalho de rever o que a gente escrevia para as páginas de tópicos e notícias. Graciliano era um profundo conhecedor da língua portuguesa, sobretudo da gramática. Tinha o extremo bom gosto de escritor brasileiro que não se apega às regras gerais da língua, mas as conhece profundamente. Ele cultivava a língua portuguesa com grande empenho e prazer. Fazia parte de um grupo de alagoanos famosos… Ele, Aurélio Buarque de Holanda e o Pedro da Costa Rego, o redator-chefe. O Aurélio e o Graciliano Ramos fiscalizavam a prosa daquele jornal. É claro que tinha que sair um jornal bem escrito. O Correio da Manhã teve uma fase em que foi o jornal mais bem escrito deste país. E o Graciliano era, em grande parte, o mestre. (….) Trabalhou muito para realizar aquela obra literária extraordinária e, finalmente, produzir no Brasil um jornal bem escrito, como eu gostaria que fossem todos os jornais deste país."

"(….) Àquela altura eu já era repórter de certa experiência e me dava muito bem com o Brito [Manuel Francisco Nascimento Brito, dono do Jornal do Brasil´´. Resolvi fazer a sugestão de que ele me mandasse ao Vietnã do Norte. (….) Em 1968 era muito fácil ir ao Vietnã do Sul, porque os americanos facilitavam a viagem. Mas ao Vietnã do Norte ninguém tinha ido, afora uns cubanos. Houve muita repercussão na imprensa com a notícia da minha viagem. Era uma ousadia mandar um redator a um país em guerra com os Estados Unidos.

(….) Quando finalmente cheguei ao Vietnã, colhi material para escrever não apenas uma série de reportagens [esplêndidas, por sinal; N.R.´´, mas um livro, Vietnã do Norte: advertência aos agressores, sobre o que me ficou da guerra, da resistência heróica e belíssima daquele povo que expulsou os americanos na base da teimosia. (….) Para o Jornal do Brasil foi um feito jornalístico noticiar a guerra vista pelo outro lado."

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Milton Santos

"A História contemporânea permitiu duas formas de violência inéditas: a do dinheiro em estado puro e a da informação. É a união desses dois elementos, movidos por um mercado chamado global, que vai permitir que a globalização se instale.

(….) Como razão universal, o dinheiro está deslocando o próprio homem [da´´ posição central no planeta. O centro do planeta é o dinheiro em estado puro. A violência da informação vem do fato de que quase todas as mídias são impotentes diante do processo de produção da notícia. A impotência vem da concentração exacerbada do exercício de produzir notícias, não só notícias, mas imagens, e sobretudo pelo fato de que, a partir da televisão, a noção de continuidade da História se rompe."

(Entrevista a O Estado de S.Paulo, 19.1.97.)

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Miguel Reale

"Mais recentemente, tem-se falado no 'imperialismo' dos meios de comunicação eletrônica, com a televisão à frente, ao modelar a opinião pública segundo suas preferências e interesses. Mas talvez haja exagero no emprego da palavra imperialismo, visto que ainda não ocorre propriamente uma 'imposição irrefragável', ou seja, dotada de poder de império até o ponto de não deixar nenhuma alternativa aos indivíduos e coletividades por ela abrangidos. Dir-se-á, todavia, que decresce dia a dia a capacidade geral de resistência das massas populares aos atuais 'donos do poder', que não são mais, ou não são apenas os que têm em suas mãos o destino do Estado, mas, sim, os detentores soberanos da informação, mesmo porque estes freqüentemente condicionam as eleições para os postos de governo."

("Novo imperialismo?", O Estado de S.Paulo, 11/1/97.)

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Pesquisas no banco dos réus – Max Frankel

Embora as pesquisas de opinião tenham corretamente previsto a reeleição do presidente Clinton, no ano passado , passaram muito longe da marca, quase tão distantes do resultado final quanto as pesquisas de 1948, que projetaram a vitória de Dewey sobre Truman.

Naquela época, ao menos, os pesquisadores tinham a desculpa da inexperiência. Eles pararam de entrevistar eleitores uma semana antes das eleições e, assim, deixaram de registrar muitas mudanças de opinião.

Talvez os erros de 1996 tenham sido semelhantes no aspecto de que as pesquisas deixaram de acompanhar as reações de última hora a toda publicidade em torno do repugnante levantamento de fundos do presidente.

Mas houve um desequilíbrio peculiar nos erros atuais. A maioria das pesquisas projetou com precisão os votos para Clinton e Perot, enquanto subestimaram significativamente a força de Dole. Se as projeções no decorrer da campanha foram igualmente distorcidas, tanto Dole como os eleitores sofreram.

Quanto à mídia, reagindo a esses pesquisas, nunca concedeu ao candidato republicano a mais remota chance de vitória; diariamente, ele era retratado como debatendo-se e lutando debaixo de um fado impossível.

A margem final de Clinton de 8 pontos em um páreo entre três homens foi, é claro, enorme – quase duas vezes a margem de Truman em 1948.

Mas somente a pesquisa de Reuters Zogby apresentou uma projeção final correta de 49-41-8. As outras pesquisas principais estimaram uma margem em dois dígitos.

A pesquisa The Times-CBS mediu uma diferença de 16 pontos, estimando 50-34 a favor de Clinton, com 9% para Perot. Usando os mesmos dados, rateou os eleitores "indecisos mas propensos" e ampliou a previsão para uma margem de 18 pontos.

Como as letras miúdas alertaram os leitores para um possível erro de amostragem não superior a mais ou menos 3, qualquer previsão de uma diferença de mais de 10% foi um erro constrangedor.

Não há provas que indiquem que essas pesquisas enganosas e o jornalismo distorcido que elas inspiraram tenham realmente induzido Dole para longe da presidência. É até possível que as muito divulgadas pesquisas tenham tirado mais votos de Clinton ou, ao menos, tenham mantido os eleitores de Clinton em suas casas no dia da eleição.

As autópsias prematuras indicam que houve erro em decidir quem entre as pessoas pesquisadas eram "prováveis eleitores". Mas isso não serve de consolo para a indústria da mídia cuja cobertura política foi inteiramente calcada nos resultados das pesquisas.

"Quem está à frente?": eis uma questão perfeitamente válida durante uma campanha política. Mas a infiltração das pesquisas a tem transformado, virtualmente, no único assunto de preocupação da mídia.

O mesmo, é claro, pode ser dito a respeito da maioria dos candidatos políticos. Eles também pesquisaram o público furiosamente, adaptando seus discursos e propagandas às descobertas das pesquisas e observando o resultado de cada palavra que falavam nas pesquisas de opinião.

Como Alison Mitchel escreveu em The New York Times no final da campanha, ela estava "tão impregnada das resultados das pesquisas de opinião pública que o presidente Clinton chegou a transformar uma pergunta padrão de pesquisas sobre se o país estava 'no caminho certo' em um slogan de campanha".

Assim, não são apenas os institutos de pesquisa que precisam refletir sobre seu ofício. Enquanto os políticos permitirem que as pesquisas comandem suas campanhas, os jornalistas os perseguirão com as próprias. Mas muitas publicações, preguiçosamente, atrelaram sua cobertura política aos resultados das pesquisas e ignoraram as evidências de erro grosseiro. É hora de uma introspecção da mídia.

Uma margem de erro ainda mais desconcertante e escancarada agora persegue a avaliação da produtividade nos Estados Unidos.

Essa não é uma estatística política confidencial. O ritmo da produtividade afeta diretamente as projeções oficiais do déficit federal, as quais influem no debate sobre os cortes nos benefícios na área de assistência médica e previdência social nos próximos 20 anos.

Um problema, concordam os especialistas, é que o índice de Preços ao Consumidor, que mensalmente avalia o custo de uma cesta de produtos e serviços mais comprados pelo consumidor, parece estar exagerando ao prever aumentos anuais de preços de 1% a 2%.

Como os benefícios da previdência social, pensões governamentais e cobranças de Imposto de Renda são ajustados regularmente para levar em consideração a inflação , um exagero anual persistente de 1% pode elevar o déficit federal em 10 anos em uma quantia que pode chegar a US$ 150 bilhões – aproximadamente o tamanho do déficit do ano passado.

Uma boa palavra, "aproximadamente". Para complicar ainda mais as coisas, os Estados Unidos e outras nações industrializadas estão produzindo mais e mais coisas que não conseguem mensurar com um mínimo grau de confiabilidade.

Como a revista The Economist observou recentemente: "Os números relativos à produção de milho, carvão e roupas abundam, mas dados mais úteis sobre os setores cujo crescimento é mais rápido hoje em dia, como computação, telecomunicações, serviços e finanças são muito mais difíceis de surgir. Muitas dessas atividades não podem ser vistas e não podem ser colocadas em termos numéricos… Além disso, as estatísticas econômicas padrão deixam de lado muitos dos benefícios da tecnologia da informação, que cada vez mais tomam a forma não de economia de custos ou de aumento do volume, mas sim de melhoria na qualidade, economia de tempo, conveniência e mais opções para o consumidor."

Todas essas atividades apreciáveis, mas de difícil mensuração, são agora parte dos produtos principais dos Estados Unidos. Isso significa que estamos condenados a viver com cálculos do PIB cada vez mais grosso modo. Ora, esse cálculo é o avô de todas as estatísticas governamentais em relação às quais a maioria das atividades econômicas são mensuradas.

Subestimando o PIB e superestimando a inflação, corremos o risco de representar erroneamente uma economia florescente como uma economia em estagnação. E isso significa o risco de cortar funções governamentais que não podemos nos dar o luxo de perder.

Não existe uma reparação rápida para esta inexatidão. Mais um motivo para as publicações e os políticos que lidam com essas estatísticas vitais pararem de fingir certeza.

Apesar da engenhosidade da nossa tecnologia, estamos passando por uma síndrome de torre de babel: quanto maior nosso poder na área de computação, menos capacitados nos tornamos para contabilizar as coisas mais importantes para nós. Nossas crenças, gostos e comportamentos estão sendo analisados com tanta intensidade que a menos parcela de informação errônea pode distorcer profundamente nossa compreensão.

Esqueça a realidade virtual. Estamos cada vez mais dependentes de números e fatos virtuais. Com dados exatos, muitas vezes precisamente errados, nosso entendimento de política e economia permanece soberanamente impreciso.

(c) The New York Times/Agência Estado

("Margens de erro", O Estado de S.Paulo, 27/1/97. Max Frankel é editor da página de editoriais e editor executivo do jornal The New York Times.)

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Emir Sader

Vivemos num mundo habitado por cifras. Saber a verdade das coisas parece nos remeter à sua qualificação, fazendo da aritmética o modelo essencial do pensamento humano. Nesse cenário, as pesquisas de opinião parecem refletir o mundo tal qual ele é. Existiria uma "opinião pública", que as pesquisas simplesmente auscultam? Ou será que as pesquisas de opinião, na realidade, é que constituem essa opinião pública, ventríloquo que responde reflexamente a um ato que, ao perguntar, lhe dá vida?

"Quero saber a verdade. Quero números". Desconfiando dessa certeza imediata, a editora do Wall Street Journal, Cynthia Crossen, se pôs a colecionar pesquisas que dizem uma coisa e rigorosamente o seu oposto, em vários planos da atividade humana – das pesquisas eleitorais aos vários ramos do consumo. Pode-se provar que as fraldas descartáveis ou as de pano fazem bem ou mal, que um cercal tem propriedades mágicas ou até faz mal à saúde, que um modelo de automóvel nos protege ou nos mata, que um candidato possui qualidades imaginadas ou que é um farsante. Entre uma e outra existem ainda as meias verdades que, nas mãos de uma imprensa cúmplice com o marketing, bombardeiam e dificultam a capacidade de discernimento das pessoas, propagando que, ao contrário, estão a serviço da democratização das escolhas das pessoas.

"Todos os dias a consciência coletiva dos norte-americanos é exposta a 12 bilhões de peças de propaganda visual, 2,5 milhões de comerciais e rádio e mais 300.000 comerciais de televisão". Especialmente em época de desregulação, quem defende – mais que o consumidor – o cidadão desse bombardeio? Basta dizer que ele pode desligar o rádio ou a TV ou mudar de canal? Se, perguntadas, as pessoas tendem a desconfiar dos anúncios que se baseiam em pesquisas, na hora de comprar elas não dispõem senão das informações interessadas da propaganda, sendo exceções serviços independentes como o do Procon de São Paulo.

Convencida da falta de controle sobre as pesquisas e sobre o poder que elas assumem diante de indivíduos indefesos, Cynthia Crossen propõe em O Fundo Falso das Pesquisas algumas formas de resistência da cidadania. A primeira e mais elementar é que sempre se divulgue o nome dos financiadores, do custo das pesquisas e dos pesquisadores, ao lado dos resultados. Como afirma um estudioso francês sobre o problema: "Se não importa quem pode encomendar a um instituto especializado uma sondagem sobre qualquer coisa, sob condição de pagar a conta, a informação publicamente produzida responde em primeiro lugar às necessidades da administração e é em seguida colocada à disposição dos cidadãos.

Mas quem pode se ocupar dessa vigilância, se os governos se retiram cada vez mais de qualquer forma de responsabilidade pública? Talvez as universidades, que teriam independência diante dos interesses comerciais. Mas, como diz Cynthia Crossen, as torneiras dos recursos públicos foram fechadas conscientemente e, como resultado, "as universidades vêm barganhando entusiasticamente sua independência por dinheiro". Tudo o que se deve fazer para resgatar a autonomia dessas instituições é redestinar fundos para ela", conclui ela.

Tampouco deveria ser permitido que as instituições que recebem verbas governamentais possam assinar contratos que exijam sigilo. As informações que, parcial ou totalmente, recebem dinheiro público devem seu trabalho ao conjunto da comunidade e não a empresas privadas. O mesmo vale para governos que, com dinheiro público, contratam pesquisas a institutos privados e, se não lhes são favoráveis, não as divulgam ou o fazem de forma parcial.

Outra possibilidade seria que a mídia nos protegesse do "fluxo de informações duvidosas que nos assalta todos os dias, mas ela não o faz, e nunca o fez". O critério da mídia é a venda da mercadoria notícia e o prestígio junto às empresas de publicidade, e não o fundamento real das informações.

Ela formula sugestões metodológicas aos pesquisadores, para que não sejam cúmplices de manipulações: deixem de entrevistar pessoas nos shopping centers, pelo correio ou por telefone, que constituem uma amostra dirigida.

Finalmente Cynthia apela aos próprios consumidores, propondo-lhes algumas perguntas, tais como: será que os números estão corretos e o que significam? Como a pesquisa foi conduzida? Quem pagou pela pesquisa? Que interesse têm os financiadores nos resultados da pesquisa?

Somente assim poderíamos minimamente "resgatar nossos números, nossas verdades", termina ela um livro que deveria se constituir num breviário de defesa do cidadão, indefeso diante de poderosos interesses privados promiscuamente confundidos com o Estado, que deveria justamente se ocupar em distinguir o privado do público e se constituir no guardião dessa diferença, marca profunda da modernidade.

(c) Gazeta Mercantil

("Um Breviário Do Cidadão. Livro de Cynthia Crossen critica pesquisas encomendadas", Gazeta Mercantil, 24.1.97. Emir Sader é cientista político.)