Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

As últimas do Projeto Folha

Quase um ano depois de inaugurar com o habitual estardalhaço o seu parque gráfico e tonitruar para a plebe ignara a nova fase do Projeto Folha denominada "Cor Total" (interrompida logo depois por "problemas técnicos"), o jornal mais badalado do país anuncia que a partir de agora tem sócios estrangeiros. 

Na edição de 21 de janeiro de 1997, através de uma discreta chamada na capa e uma página inteira sepultada no caderno Dinheiro, o Folhão reconhece que está fazendo exatamente aquilo que este OBSERVATÓRIO antecipou na edição que foi distribuída um dia antes: os grandes grupos da mídia brasileira vão começar a furar sistematicamente o artigo 222 da Constituição brasileira e admitir sócios estrangeiros. 

No caso, os acionistas do Grupo Folha fizeram-no de forma disfarçada e atravessada – porque o texto constitucional é impreciso -, mas o resultado é inequívoco: o jornalão capitalizou-se com a entrada de recursos de sócios não-brasileiros (a Quad Graphics), na área da infra-estrutura industrial (também poderia fazê-lo na propriedade dos imóveis). 

A Letra da Lei foi respeitada mas não o Espírito da Lei. Perguntem a Montesquieu o que acha disto. 

Este Observador, que há mais de dois anos vem reclamando solitariamente do Legislativo uma alteração substancial no texto do infeliz artigo da Carta Magna, saúda entusiasmado a infração da Folha, como já o fez na edição de 20/1 com as novas parceiras das Organizações Globo. Todos têm a ganhar – a sociedade, o mercado e os profissionais. 

Mas este Observador também lamenta que a desconcentração da mídia brasileira – imperiosa necessidade estratégica no projeto de modernização do país – tenha que ser feita à sorrelfa e à socapa, envergonhadamente, no terreno baldio das jogadas escusas (veja abaixo). 

Se uma trapaça legalmente justificada fosse tentada pelo governo federal, os 24 opinionistas do Folhão prontamente desembestariam montados nos fogosos corcéis da ira sagrada para punir o infrator. 

Mas a mulher de César pode mais que o próprio César. Antes assim, melhor para todos que a imprensa seja exatamente igual à sociedade que reflete. Ficam todos nus e, assim, tomam vergonha. 

Aguardem para breve outra rajada em cima do 222. Revisão Constitucional é para ser feita por profissionais.