Thursday, 02 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A cobertura da mídia escrita

11 DE SETEMBRO

O aniversário dos atentados terroristas vai tomar as páginas de jornais e revistas americanas nos dias que antecedem o 11 de setembro. Embora a decisão de expandir a cobertura não tenha sido difícil ? os veículos já anunciaram a publicação de seções especiais ou séries de artigos ? como lidar com a tragédia ainda está sendo muito debatido nas redações. A escolha das fotos tem sido cuidadosa: o Plain Dealer de Cleveland já declarou que não vai republicar a famosa imagem de um homem pulando da torre, e o San Diego Union-Tribune decidiu não imprimir as fotos dos seqüestradores, para evitar que sejam glorificados, explica a editora de Cidade, Karen Clark.

A promoção da cobertura e o uso de publicidade também estão sendo feitos com cautela: o Washington Post e o New York Daily News pretendem imprimir apenas anúncios em memória das vítimas. Mesmo revistas especializadas, como a Rolling Stone, vão reservar espaço ao assunto: músicos, atores e bombeiros que participaram do resgate nas torres gêmeas foram convocados a falar sobre as mudanças no ano que passou. A New Yorker de 9 de setembro vai ser inteiramente dedicada ao aniversário, assim como o especial da Newsweek, a ser lançado no dia 2; neste mesmo dia, chega às bancas a edição dupla da Time, que promete matérias exclusivas.

Alguns jornais anunciaram edições comemorativas de fôlego: o Newsday vai publicar um caderno de 76 páginas em homenagem às vítimas e U.S. News & World Report, um de 96 páginas, intitulado A Nation Changed. O Wall Street Journal não publicará seção especial, mas uma série de matérias durante toda a semana, mesma estratégia do USA Today e da agência Associated Press. Já o Houston Chronicle promete reportagens sobre os ataques em todas as sete seções do jornal, incluindo a revista de programação da TV e o caderno de entretenimento. “Queremos mostrar como isto afetou nossas vidas em todos os sentidos, de viagem a esportes”, explica o editor administrativo Tommy Miller.

Após a publicação do best-seller “One Nation”, que rendeu US$ 1,3 milhão para fundos de caridade, a revista Life vai publicar outro livro, “The American Spirit”, registrando como os americanos enfrentaram os atentados. A introdução é assinada pelo presidente Bush. O livro “September 11, 2002: A collection of Newspaper Front Pages Selected by the Poynter Institute” também já gerou mais de US$ 200 mil aos fundos dedicados às vítimas. Informações de Peter Johnson [USA Today, 13/8/02] e Joe Strupp [Editor & Publisher, 12 e 13/8].

É grande a preocupação das redes de TV americanas com o delicado assunto dos ataques terroristas de 11/9 na extensa cobertura que planejam para a data em que o desastre completa um ano. Será dada ênfase a reconstituições dos acontecimentos daquela terça-feira, documentários sobre suas conseqüências e entrevistas com pessoas envolvidas.

CBS e NBC terão edições ampliadas de seus noticiários matutinos. Na CNN, Aaron Brown e Paula Zahn enfrentarão maratona de 12 horas ancorando programação a partir da cobertura do prédio da emissora em Manhattan. Entre os planos semelhantes, há enfoques distintos. O canal A&E, além de fazer reconstituição minuto a minuto do ataque ao Pentágono ? evento que ficou relegado a segundo plano pela imprensa ?, vai reprisar o perfil de Mohamed Atta, líder dos seqüestradores dos aviões. Na PBS, canal público, será exibido America Rebuilds, documentário sobre a reconstrução pós-ataques com imagens obtidas graças a permissão especial de acesso do ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani. No Sundance Channel, informa o USA Today [13/8/02], passarão curtas-metragens sobre os atentados e as emoções que eles geraram.

De acordo com a AP [19/8/02], o risco de gerar trauma nas crianças também está sendo levada em conta. A NBC contratou o psiquiatra Harold Koplewicz, fundador do Centro de Estudos da Criança da Universidade de Nova York, para aconselhar a direção. Ele gravou flashes com dicas para os pais e participará de debate. “Se mostraremos novamente as imagens dos edifícios desmoronando, os pais devem se preocupar com o efeito disso sobre os filhos”. O psiquiatra explica que a maioria das crianças com menos de cinco anos não entende o videoteipe, e pensam que está acontecendo de novo. Estudo da Harvard Medical School feito em junho mostra que 50 mil crianças de Nova York correm extremo risco de que os atentados de 11/9 se juntem a outros problemas preexistentes na composição de traumas.

Além de todo o trabalho extra para a programação especial, as redes de TV ainda têm de conviver com a expectativa de prejuízo para 11/9. Estima-se que, devido à debandada de grandes anunciantes, como Coca-Cola e General Motors, as perdas alcancem US$ 100 milhões. Algumas companhias decidiram não retirar totalmente os comerciais da TV. A Ford, por exemplo, querendo demonstrar “sentimento de determinação”, vai patrocinar alguns programas sobre a tragédia. Além disso, manterá os anúncios normais em atrações de esporte e entretenimento.

Segundo The Times [10/8/02], as próprias redes de TV estão divididas quanto a se é apropriado aceitar comerciais no 11/9. A ABC, cuja proprietária é a Disney, fechou acordos de patrocínio. Na NBC, parte do espaço reservado a publicidade será preenchido por mensagens de utilidade pública. Já a Fox, rede pertencente à News Corporation, não passará nenhum comercial.

Apesar de as programações semelhantes do canais aparentemente gerarem situação de extrema concorrência, segundo alguns executivos de emissoras, o clima de rivalidade ?o mais comum no meio jornalístico – será evitado. “Não é como qualquer outro dia. Não vamos rotular nada de ‘exclusivo'”, diz Cathie Levine, porta-voz da ABC News. CBS e CNN igualmente dizem que ainda não assinaram contratos de exclusividade com ninguém. The New York Times [19/8/02] ressalta, no entanto, que personalidades ligadas ao tema receberam convites desse tipo. Bernard Kerik, comissário de polícia em Nova York na época dos ataques, teve propostas de virar consultor temporário de algumas emissoras, o que seria maneira de ganhar exclusividade de seus depoimentos. Ele rejeitou: “Se alguém na minha posição quisesse trabalhar como consultor para assuntos criminais ou algo assim, seria uma coisa. Mas não se trata de crime. É uma das maiores catástrofes na história do país e não acho que alguém deveria ter exclusividade sobre isso”.