Friday, 04 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

A culpa é dos políticos

FRANÇA

"Não adianta culpar as pessoas que escolheram o líder de extrema-direita Jean-Marie Le Pen", concluiu o diário ? também de direita ? Le Figaro. O fato é que "uma proporção crescente do eleitorado está exasperada pela complacência e indiferença da classe política". De forma geral, segundo a BBC (23/4/02), foi desta maneira que a imprensa francesa respondeu à passagem de Le Pen ao segundo turno das eleições presidenciais: os políticos devem parar de criticar os eleitores e tirar conclusões do resultado das urnas.

O esquerdista Libération concordou, observando que aqueles que "se consideram abandonados pelo governo e esquecidos pelos políticos" foram os que deram o voto não apenas a Le Pen, mas à candidata trotskista Arlette Laguiller. O problema não é o número de votos que o líder recebeu, mas a abstenção de 30% do eleitorado; é tempo, portanto, "de passar a limpo a democracia francesa".

O diário econômico La Tribune também pediu um novo projeto social que dê esperanças a estas pessoas. "Os franceses não entendem o significado do que fizeram, reclamam os socialistas. E eles, entenderam o significado destes votos?", pergunta. Já o centro-esquerda Le Monde analisa as eleições no contexto das sucessivas derrotas dos governos social-democratas por todo continente. Os movimentos europeus de extrema-direita não são idênticos, observa o jornal, mas aproveitam-se dos medos populares da imigração.

Funcionários do Canal Plus assumiram o controle da rede e atacaram ao vivo o presidente da Vivendi Universal, Jean-Marie Messier. No dia seguinte, uma multidão se aglomerou na frente da empresa pedindo a renúncia do chefão. A manifestação simboliza mais um protesto de funcionários, políticos e cineastas contra a demissão do executivo-chefe Pierre Lescure, visto como guardião da identidade nacional da rede, em oposição ao americanizado presidente da Vivendi, que mora em Nova York e se tornou um dos produtores mais poderosos do planeta, após comprar, nos Estados Unidos, o canal TV USA.

O Canal Plus é o maior investidor da indústria cinematográfica francesa, e com a partida de Lescure teme-se que a emissora abandone o compromisso com a cultura nacional.

John Carreyrou e David Woodruff [The Wall Street Journal, 18/4/02] contam que figurões como Jacques Chirac e Lionel Jospin juntaram-se ao coro contra Messier. Um dos funcionários que bloquearam o trânsito na frente do Canal Plus pintou na fachada do prédio a seguinte mensagem: "Messier é um idiota universal."

Messier é detestado porque declarou que "a exceção cultural está morta". É justamente a lei de exceção cultural, reação ao poderio de Hollywood, que permite o subsídio ao cinema sem que a prática seja considerada protecionista pela União Européia.