Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A difícil arte de escrever sobre política

ELEIÇÃO 2002

Chico Bruno (*)

Os pré-candidatos à Presidência da República se encarregam de abastecer o noticiário com atitudes e declarações tão estapafúrdias que fica difícil escrever sobre a política brasileira.

As editorias de Política da imprensa brasileira estão comendo o pão que o diabo amassou para informar aos leitores os últimos acontecimentos. As intenções declaradas dos pré-candidatos Ciro Gomes e Anthony Garotinho podem ser classificadas, no mínimo, como heresias. Eminentes mestres do pensamento da esquerda brasileira já falecidos devem estar se contorcendo no purgatório, no céu e no inferno.

As ações e declarações de Ciro e Garotinho compõe um samba do crioulo doido de fazer inveja ao notável Sérgio Porto. Se fosse vivo, com certeza Sérgio estaria perplexo com a ousadia dos dois. Garotinho sonha em colocar no mesmo palanque Maluf e Arraes. Ciro se encanta com a possibilidade de juntar numa mesma aliança Roberto Freire e ACM. Infelizmente, para sorte dos dois, não temos no jornalismo atual um colunista com a verve de um Sérgio Porto, apesar de termos competentes analistas políticos.

Lunus, ainda a esclarecer

Em vista disso, Ciro e Garotinho vão dizendo e fazendo o que bem entendem, sem serem admoestados pela imprensa, que apenas trombeteia os disparates proferidos pela dupla. Os analistas políticos, infelizmente, não se dão ao trabalho de saber, por exemplo, o que Arraes ou Capiberibe, refundadores do PSB, acham das propostas. Apenas Erundina, por iniciativa própria, botou a boca no trombone contra a pretensão do fluminense (denominação dada a quem nasce no Estado do Rio) Garotinho.

Da mesma forma, a imprensa não procura saber quem tem maioria no diretório nacional do PPS, se Ciro, pré-candidato, ou se o senador Roberto Freire, presidente do partido sucessor do PCB, para poder antecipar quem vai roer a corda da pretensão do paulista/cearense Ciro Gomes. A imprensa apenas cumpre, de forma burocrática, a tarefa de noticiar o bate-boca entre os dois. Nada além disso.

E age assim por preguiça ou por comodidade? Por falta de competência, com certeza, não é, isso ela tem de sobra, com raras exceções. Talvez, quem sabe, seja por desencanto com a política tupiniquim, que ultimamente tem produzido uma penca de políticos de segunda classe, como os dois a que se refere essa análise.

Quem perde é o leitor, o ouvinte e o telespectador, confusos em meio às ações e declarações desses senhores, que colocam seus interesses pessoais acima dos partidos a que pertencem e, com isso, arranham a imagem de seus correligionários.

Vale lembrar que a imprensa não pode renunciar a desvendar toda a verdade que envolve o episódio da Lunus, somente porque Roseana Sarney Murad renunciou à pretensão de concorrer à Presidência da República ? assim como não pode manter leitores, ouvintes e telespectadores confusos pelos atos de Ciro Gomes e Anthony Garotinho. É preciso informar com correção e ética. Um pouquinho de trabalho não faz mal a ninguém.

(*) Jornalista