Thursday, 02 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A hora do parto já passou

CASO JADER

Chico Bruno (*)

Há um ano e seis meses a imprensa brasileira se dedica diariamente ao caso Jader Barbalho, suspeito de se aproveitar de aplicações do Banco do Estado do Pará, de desapropriar uma fazenda fantasma, que atende pelo sugestivo nome de Paraíso, e de receber gordas comissões para aprovar, com sua influência, grandes projetos na Sudam.

As denúncias jorram em revistas e jornais do país. Mas, até o momento, nenhuma delas foi consistente ao ponto de ser possível a abertura de um processo criminal. Essa demora na aparição de provas está fazendo com que muita gente já desconfie das denúncias.

Aliás, já tem gente com dificuldade para entender o que esta acontecendo neste episódio. O desvio do dinheiro do Banpará, num primeiro momento, era de R$ 20 milhões, hoje caiu para R$ 2,5 milhões. Os TDAS, gerados pela fazenda Paraíso, que se suspeita inexistente, foram denunciados a partir de fitas gravadas, nas quais um casal afirmava que o dinheiro acabou nas mãos de Jader; dias depois, o próprio casal desmentiu as gravações perante um delegado da polícia federal. As denúncias de gordas comissões que Jader teria recebido estão sub judice, pois o deputado Mário Frota esta interpelando judicialmente a revista IstoÉ para que prove que a voz das gravações é dele. Segundo o deputado do Amazonas, a voz é de um ex-assessor, que se tornou seu desafeto.

Realmente o caso Jader está se tornando um verdadeiro samba do crioulo doido, e com isso perdendo a credibilidade para boa parcela da opinião pública. Afinal, faz um ano e seis meses que o assunto rende na imprensa, e não se consegue abrir um processo sequer contra o cidadão Jader Fontenele Barbalho.

Isso começa a ter muita semelhança com a CPI do Narcotráfico, que durou uma eternidade, consumiu muito dinheiro, gastou toneladas de papel, consumiu horas e mais horas de vôo pelo país e não produziu, até agora, nenhum efeito prático. Quem não se lembra da CPI dos Anões do Orçamento? Uns renunciaram, outros foram cassados, mas ninguém está atrás das grades: alguns até já voltaram à vida pública e desfilam pelo Congresso Nacional lépidos e fagueiros. E o que é pior, na prática a CPI do Orçamento não conseguiu exterminar as maracutaias em torno do Orçamento Geral da União, que nunca deixaram de existir e continuam crescendo. Nos dois episódios a grande imprensa cobriu com afinco e, infelizmente, hoje não cobra do Ministério Público que cumpra seu papel, que é solicitar que a Justiça processe os implicados. Fica a opinião pública sem saber por que motivo isso não acontece.

Balanço bem-vindo

Agora, surgem notícias nos jornais e revistas de que, finalmente, os procuradores irão propor à Justiça a abertura de ação penal contra Jader Barbalho. As matérias afirmam que nota técnica da 5? Câmara será utilizada como indício de provas contra o senador paraense no caso do Banpará. Infelizmente, nenhum jornal ou revista solicitou parecer jurídico sobre a tal nota técnica ou divulgou seu inteiro teor, haja vista que o advogado de Barbalho a classificou como inconsistente. A publicação na íntegra ou um parecer jurídico sobre a nota técnica ajudaria a um melhor entendimento desses novos indícios de prova, e é uma demonstração de que a imprensa quer servir aos leitores com total isenção.

Não custa bater na tecla de que se está fazendo muita marola em maré morta, pois em verdade quantos Jaderes Barbalhos existem entre homens públicos e empresários brasileiros? Com certeza há uma penca, basta ler e reler com atenção o que foi publicado por jornais e revistas no decorrer dos últimos 10 anos pelos menos.

Que veículo da imprensa brasileira se habilita, com um jornalismo investigativo sério ? sem essa de jornalismo fiteiro ? publicar série sobre os caminhos e os descaminhos da corrupção, apontando corruptos e corruptores, nos últimos 10 anos da cena brasileira? A opinião pública com certeza gostaria de saber quem são esses personagens que enriqueceram e enriquecem à custa do dinheiro público. A hora é essa, tem que ser agora.

(*) Jornalista

    
    
                     

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