Thursday, 02 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

A mídia depois de aberta a ‘cortina de ferroÂ’

Fabiano Golgo, de Praga

 

Quando Gorbachev surpreendeu o mundo com sua política de abertura (glasnost) e reestruturação (perestroika) do regime socialista, os primeiros efeitos visíveis apareceram na mídia soviética: a voz dos jornalistas deixou de ser amarrada ao escritório central do partido único. Isso não significou a transição imediata para uma imprensa verdadeira, apesar de estar oficialmente livre para dizer o que bem entendesse. O problema inicial era a total inexistência de uma cultura jornalística, pois nem mesmo antes de Lênin a Rússia contava com uma imprensa desengajada (os tzares não eram lá muito diferentes de seus sucessores, rebatizados de secretário-geral). Como disse o dissidente-mais-tarde-presidente Vaclav Havel, “quem passa muito tempo na prisão tem medo dos horizontes abertos (…), manca frente à liberdade conquistada”.

Mesmo hoje (vide cobertura russa do conflito Otan-Iugoslávia, em que os noticiários televisivos simplesmente ignoravam as imagens de refugiados albano-kosovares), a mídia “livre” segue uma linha um tanto engajada aos interesses dos proprietários dos veículos (o que não deixa de acontecer no resto do mundo democrático) em que a censura é empresarial em vez de governamental – mas, no caso russo, extrapola certos parâmetros de decência, indiferente à nudez dos reis que a manipulam.

Essa tendência também aparece em vários níveis por quase todo o antigo bloco socialista (dos países bálticos aos antes soviéticos, da Bulgária à Macedônia, Eslováquia, Croácia, Iugoslávia ou Romênia). Males menos óbvios ocorrem na Polônia, na Hungria e na República Tcheca. A culpa é da falta de tradição de imprensa livre? (Em alguns países, nunca antes existente; em outros, suprimida por tantas décadas que perdeu-se na memória dos seus contemporâneos ainda vivos.)

Ilha de qualidade

Se formos começar pelos que hoje são mais distantes dos anos-fantoche, temos que colocar a Polônia no alto do pódio. O país foi o primeiro a arrancar de seus opressores um esboço de democracia, graças ao movimento de massa sob o nome Solidariedade (Solidarnosc) encabeçado por Lech Walesa. A pressão popular não conseguiu ser dissipada pela lei marcial do general-caolho Wojciech Jaruzelski. Então, para evitar a queda imediata do regime autoritário e marionete dos soviéticos, a liderança vermelha ofereceu ao povo a oportunidade de eleger diretamente a bancada do pouco influente Senado, enquanto manteve “biônica” uma maioria segura de parlamentares, concedendo as cadeiras restantes ao pleito livre. (Interessante que os milicos brasileiros chegaram ao Planalto com a suposta missão superior de livrar o país da satânica conspiração comunista, mas usavam de métodos quase idênticos aos deles para se manter no poder.)

Assim, surgiu na Polônia o primeiro jornal livre, com o então apropriado nome Gazeta Wyborcza (Gazeta das Eleições). Na época, o diário visava cobrir os fatos políticos e sociais que tinham a ver com o inédito sufrágio. Hoje, apesar do nome deslocado, segue cumprindo seu papel com dignidade, profundidade e neutralidade invejáveis. É, sem dúvida, um dos jornais mais sérios do mundo, inclusive vendendo mais que El País e Suddeutsche Zeitung e se igualando a Le Monde e ao La Repubblica, com circulação de 590.600 exemplares diários. Embora favorável às leis de mercado, o espaço é garantido às mais diversas posições, inclusive as remanescentes comunistas. É graças ao periódico que os antigos dissidentes poloneses continuam tão em voga quanto antes, em contraste com o que aconteceu a seus equivalentes tchecos e húngaros, que deixaram de ser o grito dos sufocados para usufruir em Miami o dinheiro do copyright das glórias passadas.

Mas Gazeta Wyborcza é uma ilha no deserto do Leste e Centro europeus. Na própria Polônia, a influência direta da Igreja Católica na mídia nos remete à Idade Média. As emissoras de rádio, por exemplo, soam feito sermão de domingo em sua maneira de noticiar supostos fatos pecaminosos de comportamento social. O poder político emanado pela filial do Vaticano é quase cômico, não fosse trágico ver o punho engajado de seus interlocutores, na missão supostamente neutra do jornalismo.

Perguntas demais

Os antes admirados tchecos, que ostentavam uma avançada democracia liberal desde o início de sua existência, em 1918, e mostraram ao mundo, por um semestre em 1968, durante a Primavera de Praga do eslovaco Alexander Dubcek, que o socialismo poderia ter uma face humana e imprensa livre, hoje os tchecos exibem um jornalismo amador e oportunista, sem coragem frente aos poderes e beirando o boulevard americano.

Dos quinze diários da capital Praga, apenas um, o Mlada Fronta Dnes, ainda carrega algum conteúdo opinativo em suas páginas. Os outros seguem a cartilha do USA Today, com manchetes fáceis, matérias robóticas, enxutas, dando destaque às coisas de fácil consumo. Só não há o sensacionalismo policial porque a Repúbica Tcheca é por demais pacífica e com pouquíssimos incidentes de violência para serem noticiados.

Para um país onde o povo é conhecido pelo alto nível de sua educação, que desde a Revolução de Veludo de 1989 tem um presidente intelectual, Vaclav Havel (repetindo a tradição do presidente de sua primeira república, o filósofo Tomás Garrigue Masaryk), a situação é paradoxal. Os tchecos fizeram fama por se manterem na vanguarda da alta cultura, mesmo quando oprimidos pelos Habsburgos austríacos, dando razão à frase da rainha Vitória: “Os boêmios [habitantes da região oeste do que hoje é o país] vão à ópera de chinelo, mas vão!” Agora, com os prazeres imediatos oferecidos pelo way of life dos novos conquistadores – os americanos e os alemães –, a mídia apelou para as imagens sem conteúdo. As emissoras de TV, mesmo a estatal, seguem a mesma linha. A aberração maior é a TV Nova, a primeira emissora privada, de propriedade de um obscuro empresário sediado no paraíso fiscal das Bermudas, cujo currículo ostenta o fato de ser o filho da magnata dos cosméticos Esteé Lauder. Nesse canal, o noticiário dá destaque a reportagens [in]dignas da revista Caras ou do Jornal Nacional, nunca deixando de encerrar com alguma historieta sobre algum animalzinho simpático ou alguma estrela vazia à la Xuxa (se bem que os tchecos não conseguiram produzir tal figura).

Já os dois canais estatais, Ceska Televize 1 e 2, apresentam noticiários com grande enfoque na política e na economia, mas pecam pela total aceitação das versões oficiais. Os repórteres simplesmente reproduzem os releases de partidos e lideranças. Perguntados pela revista The New Presence sobre essa prática irresponsável, o chefe de redação – ingênua ou desavergonhadamente – declarou que “os políticos cortam de recepções e eventos os repórteres que perguntam muito”. Um correspondente da emissora na Inglaterra, Jan Koukal, foi trazido por Jan Puchalsky, o jovem novo presidente da emissora pública (que vive de uma taxa voluntária paga na conta de luz pelos cidadãos, como pretendia a TV Cultura de São Paulo), para revitalizar a sala de redação de seus telejornais, e deu com a cara na parede quando tentou evitar que o entrevistado do noticiário noturno fosse escalado ainda de manhã, em descompasso com a atualidade das notícias. Os repórteres fizeram greve, declarando-se indispostos a tamanho transtorno. O que rege a ética de trabalho tcheca é o vício criado por quatro décadas de comunismo, quando todo mundo ia para o emprego para bater o ponto, não para trabalha. Afinal, a estabilidade artificial do sistema os garantia.

Pastiche de Milosevic

Um dos grandes desafios dos empresários importados para tocar empresas é o de conseguir fazer com que seus empregados realmente cumpram suas tarefas. O jornalismo não foge à regra: vigora a lei do atalho, a do caminho mais fácil. Conversando com um editor da revista semanal Quo, ouvi a seguinte pérola: “O leitor quer belos gráficos, textos rápidos e muita cor”. Não se pode negar que as novas gerações, em qualquer lugar do mundo atingido pela cultura televisiva e a do Windows, não tem paciência para ler. As palavras viraram, neste final de século, mera muleta para as imagens.

A Eslováquia (que os vitoriosos da Primeira Grande Guerra puseram artificialmente com os primos linguísticos tchecos), desde que ganhou pacificamente sua independência, em 1993, caiu nas mãos de um líder populista e corrupto, Vladimir Meciar, pugilista tornado político, que dava verdadeiros knock outs na imprensa que ousasse não lhe celebrar os atos, mesmo quando beiravam a cretinice. Além de sucatear a riqueza nacional – vendendo para seus amigos e testas-de-ferro as estatais, privatizadas a toques de sua caneta – e promover os ódios racistas contra as minorias húngaras e ciganas de seu país, acabou fechando uma dúzia de jornais e rádios, copiando à risca uma lei de Slobodan Milosevic. Como se não bastasse, a TV pública simplesmente ignorava a oposição em seus noticiários, mais ou menos como a Rede Globo conseguiu fazer com o governador-caudilho de seu estado por anos a fio. Nas eleições parlamentares do ano passado, tentou abocanhar a popular emissora privada TV Markiza, colocando um aliado seu na direção, o que gerou protestos populares, invasão do prédio e tomada de operações pelos próprios funcionários da estação. Depois de dias de caos, Meciar acabou perdendo a briga e as eleições. Hoje a situação da imprensa foi remediada, mas sua atuação deixa a desejar, sem forte impacto na população.

Abuso de poder

Quanto à Hungria, a situação é preocupante. Enquanto o jovem primeiro-ministro Victor Orbán é celebrado por sua liderança e visual yuppies, suas práticas quanto à liberdade de imprensa são bem antigas. Recentemente, seu gabinete deslanchou uma “estratégia” pela “abertura de espaço para as posições de direita” na mídia húngara. E não foi algum plano de gaveta, discutido entre as grossas paredes do castelo de Budapeste, mas uma batalha aberta de corte de apoio publicitário (leia-se propaganda de estatais, que ainda há muitas neste lado do mundo) nos veículos que abrem espaços à oposição.

Há uma clara tendência esquerdista na mídia húngara. E o rótulo de conservador-direitista do partido do governo, o Fidesz, fez brotar antipatia imediata em boa parte dos editores e chefes de redação. Cada passo de Orbán e seus afiliados é escrutinado em miúdos, o que deveria ser celebrado. A atitude oficial tem gerado apreensão internacional e somente a imagem neoliberal travestida de moderna do governo tem diluído um pouco as preocupações.

Mas a tal mídia que está sendo combatida quase que criminosamente pela administração nacional não pode ser enquadrada apenas como pobre vítima do poder. A sua atuação não é das mais objetivas: beira o panfletário de esquerda ou, às vezes, é simplesmente desaforada, perdendo a estatura pelos desvarios verbais que somente a inescrutável língua húngara permite. As ofensas pessoais se confundem com análise opinativa. As informações anônimas de fontes não-declaradas são a base de boa parte de um noticiário claramente tendencioso, de oposição. Mas o “remédio” do governo para os males da imprensa é pior que a própria doença. Em um lado do mundo marcado por uma história de totalitarismo que invariavelmente alijou o exercício do jornalismo responsável, a política de “redistribuição de recursos de publicidade de estatais” e o financiamento de grupos de direita para a compra de veículos de comunicação devem ser encarados como puro abuso de poder.

 

Aluízio Batista de Amorim (*)

 

A queda no interesse pela leitura de jornais é o tema mais recente em discussão no meio jornalístico americano. Uma pesquisa recente que captei pela Internet acessando o interessante site do Instituto de Estudos e Pesquisas em Comunicação (Ipecom), sediado em Porto Alegre <www.acesso-com.com.br>, informa que, entre outubro de 1998 e março deste ano, a circulação dos jornais americanos caiu 0,5%. Tal fato levou a Associação Nacional de Jornais – órgão que congrega os jornais dos Estados Unidos e do Canadá – a contratar um antigo guru da Coca-Cola na área de marketing. Trata-se do conhecido marketeiro Sérgio Zyman, que agora é dono da sua própria agência, a Z Group. A tarefa de Zyman é, no prazo de dois anos, impedir que os leitores continuem migrando em massa para outras mídias, como a TV e a Internet.

Esta tendência de fuga dos leitores para a mídia eletrônica não é recente e nem localizada nos Estados Unidos. Não disponho de dados sobre o Brasil, mas verifica-se aqui, também, a mesma tendência. Isto pode ser facilmente constatável pelo comportamento das empresas jornalísticas, que têm lançado mão das denominadas “ferramentas” de marketing para conseguir vender seu produto.

É assim, portanto, que vendedores de refrigerantes passam a vender também jornais. E é verdade também que os jornais que tratam de um bem cultural que é a informação viraram, de uma hora para outra, vendedores de enciclopédias, fascículos diversos, provões de vestibular, CD-ROMs, livros, sem falar em cupons para sorteios variados. A informação, a matéria-prima dos jornais e a razão de sua própria existência, é preterida. Em troca, os jornais de hoje são pasteurizados, assépticos e contaminados por um vírus terrível que é o lobismo. Não que os jornais do passado tenham sido imunes ao ataque dos lobbies. Eles sempre foram presa fácil da ação lobista, mas nos últimos anos a contaminação tornou-se crônica.

Torvelinho sem fim

Na mesma medida em que os jornais se beneficiam da revolução tecnotrônica, tornando-se plasticamente mais atraentes e tendo a sua produção facilitada por todo tipo de automação, no plano editorial a queda é vertiginosa. A veiculação sistemática de noticiário e reportagens pautados pela ação dos lobbies vai desfigurando os jornais, os quais não conseguem mais saciar o leitor que busca informação. Outro fator que contribui para tornar os jornais anódinos decorre da burocratização das redações.

Lançarei mão do instrumental teórico das ciências sociais, que pode contribuir muito para que leitores e jornalistas entendam melhor as crises que acometem o fazer jornalístico. Para efeito da análise a que me proponho, tomarei dois conceitos sociológicos: racionalização e burocracia. Ao utilizá-los, fico a dever ao grande filósofo e sociólogo alemão Max Weber. Ninguém melhor do que Weber analisou a modernidade e os efeitos perversos da racionalização e da burocracia. Faço a seguir uma digressão concisa com a finalidade de apurar bem os dois conceitos.

Ao analisar o aparecimento do capitalismo, Weber mostrou que esse tipo de formação social surgiu apenas na Europa, espraiando-se depois pelo resto do mundo. O capitalismo sempre existiu, porém a forma capitalística racional é apanágio da civilização ocidental. Antes havia o capitalismo de botim ou capitalismo aventureiro, pirata. Naquele capitalismo, o objetivo era amealhar fortuna e entesourar sem qualquer planejamento e previsão.

No capitalismo moderno não dá para entesourar porque sua característica, pautada na empresa duradoura e não em ações aventureiras, requer o chamado investimento produtivo. O tesouro tem de crescer e, para que isto aconteça, os capitalistas dispõem da ciência moderna, particularmente da ciência matemática, que permite calcular e planejar com a mínima margem de erro. O planejamento, por sua vez, depende de um quadro administrativo regular e obediente, pautado por um conjunto de normas fixas – o regulamento. Decorre daí o aparecimento do direito racional, um sistema de normas abstratas com a pretensão de subsumir todos os fatos e as ações perpetrados pela sociedade. O quadro administrativo que aplica ou obedece às regras emanadas do sistema jurídico é a burocracia.

Weber, quem melhor estudou a burocracia, previa para o futuro o triunfo do “especialista sem coração”, o burocrata frio e calculista, um autômato que permitiria o funcionamento da máquina burocrática tal qual um relógio. Incorre em equívoco aquele que pensa que pode eliminar a burocracia. Ao contrário, ela é vital para as organizações modernas, sejam elas públicas ou privadas. Mas é também um instrumento de dominação política, razão pela qual Weber identificava a burocracia como “a jaula de ferro” que aprisiona o homem moderno. Opero esta análise utilizando o conceito de burocracia em seu tipo puro, formulado por Weber. Ordinariamente a burocracia é tida como prejudicial às organizações por impor um ritmo lento na tramitação de documentos, por resistir a mudanças. Isto é verdade, mas o conceito weberiano de burocracia é mais complexo e abrangente. É ela que permite conferir impessoalidade à administração das empresas e do próprio Estado. É a burocracia que permite que as administrações públicas e privadas funcionem como uma máquina. E, por paradoxal que possa parecer, o exercício da democracia não pode prescindir da burocracia, na medida em que é a impessoalidade de regras abstratas que permite a existência, ainda que formal, da igualdade de todos perante a lei.

Na verdade, a burocracia contamina todas as atividades. O sistema capitalista dela necessita para continuar existindo. Tudo é calculado, tudo é passível de previsão e tudo tem que dar resultado. Os investimentos obedecem a uma lógica insana e intermitente: novos investimentos-mais lucros-novos investimentos, num torvelinho sem fim.

“Desencantamento do mundo”

Como nada escapa à burocracia, e esta é uma das características mais marcantes da cultura ocidental, a atividade jornalística também é burocratizada. Explica-se, daí, a tensão permanente entre a redação de um jornal e os quadros administrativos das empresas jornalísticas. Para as chefias burocráticas, os jornalistas são diletantes e incomodativos. A criatividade, o inconformismo, a dúvida e o inarredável compromisso com a ética, atributos que devem formar o perfil do profissional jornalista, são desestimulados em favor de uma postura flexível, tolerante e conivente com a lógica capitalística.

As empresas jornalísticas, como qualquer empresa, devem dar lucro, e aí trava-se uma luta incessante entre aquilo que deve (por questões de ordem ética) ser publicado e o interesse na performance econômica do sistema empresarial. Mais sensível aos interesses dos lobbies, a racionalidade burocrática acaba prevalecendo e imprimindo a linha editorial dos grandes veículos de comunicação que formam a opinião pública.

A famosa “pauta”, que se traduz pela escolha de determinada abordagem jornalística e o enfoque a ser dado, é a tentativa de racionalizar o noticiário de um veículo de comunicação, isto é, torná-lo previsível no seu conteúdo. A matéria-prima verdadeira da atividade jornalística emerge da irracionalidade do mundo e do acontecer social. Do contrário, não existiria a notícia. Notícia é o “novo”, o imponderável, o acontecimento. É a novidade que confere sentido à própria vida das pessoas, pois se soubéssemos com antecipação tudo o que iria acontecer não haveria lugar para a utopia. Com certeza, o homem não empreenderia, não formularia planos, até porque a antecipação do futuro estabeleceria para cada um de nós o dia e a hora da própria morte, o que o cinema mostrou com os replicantes em Blade Runner, de Ridley Scott. A racionalização opera o que Weber chamou de “desencantamento do mundo”, na medida em que pretende o controle absoluto do futuro por mecanismos de previsibilidade.

Se os jornais, as emissoras de rádio e TV – a mídia dominante – não veiculam os acontecimentos na sua essência, perdem o encanto e a razão de ser, decorrendo daí a fuga de leitores, telespectadores e ouvintes para mídias alternativas. É possível que a racionalidade burocrática que cada vez domina mais todas as esferas da atividade humana acabe por decretar a morte da mídia tradicional.

No lugar das notícias, da informação verdadeira sobre os acontecimentos, os jornais oferecem ao leitor sorteios de automóveis, fascículos de enciclopédias e CDs, entre outros objetos de consumo. A venda do jornal não se deve mais ao conteúdo noticioso do veículo, mas aos seus acessórios, os quais devem, em vez das notícias, motivar os consumidores a adquirir o produto jornal, dentro do velho esquema da mercadoria casada.

(*) Jornalista, bacharel e mestre em Direito pela UFSC