Tuesday, 15 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1309

A TV em voz alta

MODA NOVA

Vera Silva (*)

Por volta dos 10 anos de idade, a maioria de nós já sabe pensar em silêncio. Até esta idade, principalmente antes dos 6 anos, falamos o tempo todo porque pensamos em voz alta.

Mas por que estou escrevendo sobre isso?

É simples. A nova moda nos telejornais é pensar em voz alta. Os apresentadores, após lerem a notícia, comentam-na e seus comentários se parecem com solilóquios infantis pela incoerência, a confusão lógica, a incorreção gramatical e a imprudência.

Enquanto noticia, o jornalista, pelo simples fato de editar a notícia já está opinando sobre o que é ou não notícia, mas ir além disso, discutindo a notícia na TV como se estivesse no bar conversando com amigos, sem compromisso com o que fala, é demais. É um desrespeito com o telespectador.

Programas do tipo ratinho, barra pesada, bbb, cidade alerta e outros tais freqüentam de há muito a telinha, mas transformar os telejornais em editoriais sem avisar os telespectadores é abusar da liberdade de imprensa. Não quero ligar a TV para me informar e ser obrigada a ouvir o que os apresentadores pensam sobre esta ou aquela notícia. Quero a notícia, a reflexão pertence ao telespectador. Os editoriais devem ser apresentados como tais e não cabem no corpo das notícias.

Além disso, a julgar pelo conteúdo dos comentários que tenho ouvido nos telejornais, R.A.Barkley tem razão quando afirma que "a internalização [da fala autodirigida] ajuda a auto-reflexão, a seguir regras e instruções, a usar o autoquestionamento como um modo de resolver problemas e construir ?regras de ação?, que são base para a compreensão das regras para usar as regras ? rapidamente e sem ficar mudando de uma para outra". Ou, como diriam os antigos, "em boca fechada não entra mosca". Inclusive na minha, diria você que me lê.

(*) Psicóloga