Wednesday, 29 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1289

Alberto Dines

ECOS DA GUERRA

“Kennedy e Bush”, copyright Jornal do Brasil, 15/11/03

“O pesadelo do Iraque fica cada dia mais penoso e o passado comparece como consolo. No feriado da última terça, Veterans Day, o país celebrou os heróis das outras guerras e por um dia se esqueceu desta. Na próxima semana, vai reencontrar-se com um de seus mitos preferidos.

Os 40 anos do assassinato de John Fitzgerald Kennedy (que serão lembrados no próximo sábado) trazem de volta os valores que a sociedade americana tanto preza e, desde a eleição de George W. Bush, parecem soterrados. Galhardia, elegância intelectual, retórica, charme, bandeiras sociais e direitos humanos estão sendo evocados por novos livros, seriados de TV e, sobretudo, pela marca dos Kennedy: a tragédia.

Como na Antiguidade, a presença dos fados – mesmo através de intervenções fatais – confere aos seus eleitos uma aura que costuma ser negada àqueles que apenas dispõem de poder e nenhuma atenção dos deuses.

A diferença com os Bush não é apenas partidária, ideológica, cultural ou religiosa. O clã do Texas é o artífice da brutalidade, enquanto o de Massachussets tem sido sua vítima preferencial. Isso faz diferença. George W. Bush é o filho de um político milionário, empurrado no tapa e aos trambolhões para aproveitar as vantagens oferecidas pelo pai. John Kennedy também teve pai rico, poderoso, ambicioso, mas a morte prematura do irmão primogênito (cuidadosamente preparado para a Presidência) ofereceu-lhe os desafios para forjar sua fibra e, sobretudo, sua força moral. O livro que escreveu quando preparava sua candidatura (Profiles in Courage, coletânea de biografias premiada com o Pulitzer) dá uma idéia do tipo de coragem que buscava. Em Dallas, Texas, juntam-se as duas trajetórias.

Os espelhos usados por Plutarco em Vidas Paralelas para comparar lideranças gregas e romanas poderiam produzir fascinantes avaliações se aplicados no confronto entre os Bush e os Kennedy. Mesmo com as prosaicas ferramentas fornecidas pelo noticiário cotidiano vislumbram-se discrepâncias transcendentais. A principal delas é a recorrência da mentira.

Kennedy também embarcou em desastrosas aventuras (a tentativa de invasão de Cuba e a ampliação da intervenção no Vietnã são algumas delas). Foram assumidas com clareza, sem recorrer a logros. O 11 de Setembro não pôde ser disfarçado e foi escancarado em suas catastróficas dimensões, mas seus desdobramentos estão sendo manipulados pelo grupo Bush de forma primária, quase estúpida. A começar pelo pretexto para a incursão punitiva no Iraque. Tanto se trapaceou para justificar a invasão que, agora, quando a Casa Branca finalmente anuncia sua estratégia de evitar novos Saddams, convertendo o Oriente Médio num bastião da democracia, ninguém a levou a sério.

O conservador William Safire, há dias, chegou a reclamar do descaso da mídia para essa peça oratória que tinha a pretensão de equiparar-se aos famosos 14 Pontos com os quais Woodrow Wilson justificou a entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial. Proclamada há meio ano, poderia ser vista como bandeira para uma política duradoura. Produzida às pressas, em meio à enxurrada de disparates diários, amesquinhou-se. Virou farsa. Também aqui há marqueteiros que defendem a escola Cantinflas – falar muito, sempre, mesmo que ninguém recorde o que foi dito.

A chamada ética protestante criou na sociedade americana o mito da busca da verdade, mentir não é apenas infração moral, é crime. Porém, sob a égide do fundamentalismo e da arrogância, transformou-se numa sucessão de embustes. Nas livrarias estão algumas provas: pelo menos três best-sellers tratam das mentiras de Bush (*).

A Nova Fronteira de Kennedy foi mais do que um conjunto de programas, era uma causa, visão de mundo idealista, antecipada no memorável discurso de posse. Já esta improvisada apresentação da ?Era da Liberdade? não passa de um estratagema – mais um – sem chance de empolgar, inclusive, os países da coalizão. Fantasia libertária, formal, que passa ao largo do presídio de Guantánamo, da nova doutrina e dos novos procedimentos de segurança nacional.

A mensagem kennediana, ainda que no contexto da Guerra Fria, pretendia converter-se num apelo cívico, convocação da sociedade mundial para grandes empreitadas. O hino bushista, executado algumas oitavas abaixo, é pura patriotada para consumo daqueles que confundem poder com grandeza.

O exercício da política admite eufemismos, recursos retóricos e doses de cosmética, mas abomina a mentira. Sobretudo quando flagrante e flagrada. Kennedy foi executado em Dallas porque sabiam que cumpriria suas promessas. Bush poderá ser reeleito porque há muita gente que precisa das suas trapaças.

(*) Lançamentos recentes sobre as mentiras de Bush: The Lies of George W. Bush, de David Corn, Lies and the Lying Liars Who Tell Them, de Al Franken, Big Lies: The Right-Wing Propaganda Machine and How it Distorts.”

“Verdade, justiça e modo de vida”, copyright Correio Braziliense, 15/11/03

“?Certamente o que aconteceu no Iraque foi um crime do nosso presidente, não foi??. A frase apareceu recentemente numa carta ao editor no jornal texano Austin American-Statesman. Uma das respostas foi: ?Qual foi o crime que o presidente cometeu? Não conheço nada legalmente criminoso nos acordos das Nações Unidas. No fim, para que serve o nosso exército?? Tais palavras, por fortes que sejam, levantam várias questões importantes nas mentes de muitas pessoas no mundo inteiro, inclusive de muitos americanos. Claramente, invadir um país por razões falsas ou manipuladas é um crime no padrão de justiça mundial dos séculos XX e XXI. Mas, por que, nos dias de hoje, o governo americano pode e outro não? Ou seja, por que é criminoso para um país e não para outro?

Na verdade, se qualquer outra nação atacasse e ocupasse outra sem justificativa e de maneira ?preventiva? como aconteceu no Afeganistão e no Iraque, ela provavelmente seria condenada e castigada pelas Nações Unidas (economicamente, até militarmente), talvez pelos próprios Estados Unidos. No entanto, os americanos parecem isentos de punição. Como o presidente Bush (ou o presidente americano) ganhou essa posição ?prestigiosa? de ?supergoverno?, ou ?juiz, jurado e executor? se queira, da qual nenhum outro país pode compartilhar? Com tanto debate e crítica internacional, dá para perceber que existe uma dupla definição, fedendo da hipocrisia: as ?regras? dos Estados Unidos, e as ?regras? dos outros. Tais padrões internacionais, justos ou hipócritas, envolvem questões filosóficas que têm sido consideradas por séculos na história humana… Por exemplo, em A República de Platão, o filósofo Sócrates faz uma pergunta para o sofista Trásmeco: ?O que é justiça?? ?O mais forte tem o direito de decidir o que é justiça?, responde Trásmeco. Apesar de argumentar em favor da essência pura e ética do pensamento, parece que Sócrates perde tal argumento platônico pelo pragmatismo sofista. Ou seja, o mais forte sempre ditará as regras e o padrão de justiça.

Desde os grandes filósofos gregos, os seres humanos têm procurado uma justiça mais ?justa?, conseguindo grandes avanços na idade da razão dos séculos XVII e XVIII com filósofos como Rousseau, Voltaire e John Locke, mas ?o mais forte? ainda tem a razão e o direito no século XXI. Em conseqüência, muito da política e história do século XX (o mais violento da história humana) tem sua base nas escrituras existenciais do século XIX, em especial de dois alemães: Marx e Nietzsche.

Superman

Sem dúvida, Karl Marx é o filósofo mais influente da política moderna. Mas Nietzsche deu idéias fundamentais ao governo mais violento e destrutivo na história: o nazismo de Hitler. Com suas teorias do chamado übermensch (?super-homem?) e a ?vontade ao poder?, teve uma forte tentativa de realização da ?raça ariana?, o que inspirou as atrocidades do holocausto e outros milhões de vítimas de guerra por uma ideologia cruel.

Nos Estados Unidos, o desenho animado Superman, do escritor Jerome Siegel e do artista Joe Shuster, foi apresentado às crianças logo depois do surgimento do nazismo em 1933, sendo publicado, com ou sem coincidência, no mesmo ano em que começou a Segunda Guerra Mundial, em 1939. Inspirado por personagens como Sansão e Hércules e uma aparente combinação de filosofias platônicas e nietzscheanas, Superman chegou aos Estados Unidos do planeta Krypton – ?um planeta distante tão avançado e evoluído que produziu uma civilização de super-homens – seres que representam a raça humana no topo da evolução?. Com seus poderes sobre-humanos, o seu lema era: ?lutar pela verdade, justiça e o modo de vida americano?.

Sem dúvida, o Superman foi uma grande propaganda política para a luta contra o übermensch nazista que foi finalmente derrubado em 1945. Depois da derrota do diabólico übermensch, surgiu uma nova vilã, vestida de vermelho e armada com foice: a ?malvada? URSS, que inicialmente foi a grande aliada de Superman contra o übermensch na Segunda Guerra Mundial. Infelizmente, Superman não concordou com a política comunista da URSS, o que deu início às suas cruzadas pela democracia durante a ?guerra fria?. Daí, Superman virou o herói do mundo lutando contra os comunistas no mundo inteiro: Coréia, Vietnã, Cuba, Nicarágua, Haiti etc. – lutando para deixar o mundo ?mais seguro? de acordo com ?a democracia e a vida americana?. Para Superman, a URSS era um guerreiro insaciável que buscava dominar o mundo em nome do comunismo malvado. Para a URSS, o Superman era um guerreiro implacável que também buscava dominar o mundo em nome do capitalismo destrutivo.

Finalmente em 1962, os dois se enfrentaram no Oceano Atlântico em uma guerra de superpotências que quase acabou com o mundo: a crise de mísseis cubanos. Mas, de novo, o nosso Superman salvou o mundo, eventualmente matando a URSS vermelha, continuando sua luta pela verdade, justiça e o modo de vida americano que até hoje impera. O Superman, dando seqüência à sua luta contra ?a legião dos malfeitores? – Coréia do Norte, Vietnã, Afeganistão, Iraque, Irã, Nicarágua, Haiti, Cuba, etc. – em nome da ?democracia?, ?liberdade?, ?direitos humanos?, ou o que ele quiser chamá-lo. Até o golpe de estado no Brasil em 1964 foi apoiado por Superman. Tal golpe foi ?a vitória mais importante da liberdade no meio do século XX… O melhor governo que o Brasil já teve?, segundo o embaixador americano Lincoln Gordon.

Claro, se Superman falar ou fizer que é ?verdade, justiça e o modo de vida americano?, então é. E se qualquer vilão dele falar ou fizer, ele condena e castiga porque a visão infravermelha do Superman só pode enxergar a verdade e a justiça dentro da maneira americana. Qualquer outra pessoa no mundo que lutar por outro tipo de justiça ou verdade será vista como um vilão, seja ele vermelho, verde, azul ou amarelo. E neste caso, o Superman é o responsável pelo ?consenso?, ?harmonia? e ?paz? do mundo.

Eu, como quase todas as crianças americanas da minha idade, queria ser o próprio Superman e lutar por essa tal verdade, justiça e o modo de vida americano. Muitas delas continuam querendo. Crime e castigo Hoje em dia, Superman ocupa a única cadeira da ?sala de justiça?. Ele é juiz, jurado e executor, talvez pelo seu ?bom senso?? e ou ?placar de guerra? – um posto que poucos na história, do nosso mundo ou de Krypton, já ocupou. O pai de Superman, Jor-El, ocupava a cadeira da justiça em Krypton antes da destruição do planeta, o que privilegiou o menino na vinda para a Terra. Antes de Superman, outros nomes ilustres ocuparam tal cadeira… Hitler quis este posto, mas foi derrotado. Antes dele, Napoleão chegou à cadeira prestigiosa, para ser logo derrubado também. O interessante é que os dois massacraram uma grande parte da Europa em nome da ?salvação? e ?justiça? – o que Tolstoi chama ironicamente em Guerra e paz de ?le bien publique?.

Contudo, a determinada Rússia (mais tarde URSS) derrubou os dois, respectivamente, em 1820 e 1945 (com a ajuda de Superman). Depois eles foram condenados por crimes contra a humanidade por causa dos seus atos ?heróicos?. ?Do sublime ao ridículo é um passo só?, falou Napoleão antes de fugir derrotado da Rússia. No livro Crime e castigo, Dostoievski descreve Raskólnikov, um pobre estudante de direito que se considera, erradamente, o próprio Superman. Em adoração do ?seu herói? Napoleão, ele se separa do mundo e começa a acreditar que tudo é permitido para ele, igual ao que ocorre a qualquer herói. Sendo assim, sente a necessidade e o direito de ?limpar? o mundo dos ?piolhos? em nome de le bien publique. Num momento de ?justiça?, Raskólnikov entra em casa e mata uma penhorista e a filha dela: ?Não matei uma pessoa, matei um piolho?, prega Raskólnikov.

No entanto, depois o nosso ?herói? perde seus ?superpoderes? e sua ?causa? quando cai em si e descobre algo que não sabia que era capaz de sentir: amor. A realidade e beleza da vida finalmente chegam a Raskólnikov, que se torna novamente homem e é castigado com um exílio na Sibéria pela justiça russa. O nosso Superman ainda não perdeu seus superpoderes, mas sofreu um ataque horroroso em 11 de setembro. Como conseqüência ele ficou mais furioso do que antes e decidiu exercer seus superpoderes para limpar a terra dos ?piolhos? ? terroristas: os novos vilões Osama Bin Laden e Saddam Hussein.

Apesar de tantos poderes, ele ainda não aplicou o seu castigo a eles, mas muitos inocentes já sofreram por sua nova causa. Feliz, ou infelizmente, o mundo está questionando o uso dos seus superpoderes e as suas intenções ?humanitárias?, o que está parecendo todo dia mais hipócrita e menos justo. No entanto, desde a fundação do país de Superman, os pais percebiam a mesma hipocrisia: ?Tremo de medo por meu país quando reflito que Deus é justo, que Sua justiça não dormirá para sempre?, escreveu Thomas Jefferson, o autor da constituição americana. Como Raskólnikov, é provável que o dia está por vir que Superman seja julgado e castigado. ?Deus lhe pague?, diria Chico Buarque. (Steven Byrd é estudante de doutorado em lingüística na Universidade do Texas, Estados Unidos.)”

 

EUA / NBC

“NBC rompe relações com a Paxson Communications”, copyright The New York Times / iG, 9/11/03

“Na última quinta-feira, a NBC deu o primeiro passo para quebrar sua relação problemática com a Paxson Communications, exercendo o direito de exigir reembolso total de seu investimento na companhia, uma decisão que pode custar a Paxson US$ 600 milhões.

A ação provocou uma disputa entre as duas companhias, similar à que levou a uma medição há dois anos, depois que a NBC decidiu comprar a rede espanhola Telemundo, apesar das objeções da Paxson.

A NBC venceu a primeira.

Brandon Burgess, vice-presidente executivo para desenvolvimento de negócios da NBC, disse que a rede perdeu a paciência com a Paxson, porque ?ela se tornou incapaz de ser administrada e seu plano de negócios não estava funcionando?.

Executivos da Paxson emitiram comunicados, declarando a ação da NBC uma vitória para a Paxson, porque ela poderia libertar a companhia para outros investimentos ou mesmo uma compra.

Eles também negaram que a Paxson tenha obrigação de pagar a NBC por seu investimento, retratando a oportunidade como um pedido.

?De forma alguma o pedido da NBC criou um evento de liquidação?, afirmou o chefe financeiro da companhia, Tom Severson.

O presidente da Paxson, Lowell W. Paxson, que segundo um porta-voz estava muito ocupado para responder a comentários, também emitiu um comunicado no qual afirmou: ?Nós acreditamos que o pedido da NBC forneceu clareza para o mercado e que as nossas discussões nos próximos meses com sócios estratégicos e os compradores da companhia serão beneficiadas com a eliminação temporária do controle da NBC?.

Burgess afirmou que a posição da Paxson não vai mudar os fatos. ?Esse é o mesmo não-senso que passamos com essas pessoas todas as vezes?, afirmou. ?Os fatos são, eles nos devem dinheiro, ponto final?. As ações da Paxson fecharam em 99 centavos na última quinta-feira, a US$ 6.

Em 1999, a NBC, que é de propriedade da General Electric, comprou uma ação de 32% na Paxson, dona de 61 estações de transmissão, bem como a PAX-TV, uma rede devotada à programação familiar, por US$ 415 milhões.”

 

INTERNET

“União na luta contra o ?spam?”, copyright O Globo, 12/11/03

“Um grupo de nove entidades empresariais, que criou o Comitê Brasileiro Anti-Spam, apresentou ontem o ?Código de ética antispam e melhores práticas de uso de mensagens eletrônicas?, que entra em vigor dia 1 e estabelece regras para estratégias de comunicação comercial via e-mail. O objetivo é coibir o envio indiscriminado de mensagens eletrônicas não solicitadas pelos destinatários, os chamados spams , que já caracterizam pelo menos metade dos e-mails que circulam hoje pela internet.

Além de perda de tempo, esse lixo eletrônico representa prejuízo: segundo a consultoria Ferris Research, o mundo corporativo perde US$ 10 bilhões por ano com o combate ao spam e com a queda de produtividade por parte de seus funcionários.

Especialista em direito digital e presidente do Comitê Brasileiro Anti-Spam, Patrícia Peck disse ontem que caberá à entidade monitorar a aplicação do Código de Ética, o que implica recebimento de denúncias, triagem das reclamações, contato com os denunciados e esclarecimentos às possíveis vítimas:

– O comitê vai representar o mercado até que exista uma legislação específica.

Patrícia diz que o comitê espera que o mercado possa se adequar ao novo código em seis meses:

– Em três meses já será possível medir a redução da quantidade de reclamações relativas a spams .

?Spam? custa US$ 49 por funcionário

Os códigos de ética do Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar) e da Associação Brasileira de Marketing Direto (Abemd) serviram de base para o código apresentado ontem (disponível no site www.brasilantispam.org). Por trás do Comitê Anti-Spam estão nomes como a Associação Brasileira dos Provedores de Acesso (Abranet), a Associação de Mídia Interativa (AMI), a Associação Brasileira das Agências de Publicidade (Abap) e a Associação Brasileira de Anunciantes (ABA).

Esta é a mais veemente tentativa de entidades brasileiras de brigar contra o spam , que pode chegar a 80% do total de mensagens na internet em 2004, segundo a Ferris Research. No Brasil, não há cifras fechadas sobre os prejuízos nessa luta dispendiosa. Mas os números mundiais dão uma idéia de quanto o spam pesa no bolso das empresas. Segundo pesquisa do Radicate Group, o custo do spam por usuário corporativo deve crescer de US$ 49, em 2003, para US$ 257, em 2007. A consultoria estima ainda que, este ano, sejam enviados por dia cerca 14,5 bilhões de spams .

– É uma barbaridade – resume Henrique Faulhaber, diretor do Sindicato das Empresas de Informática (Seprorj) e do provedor ISM. – Os gastos com spam passam por servidores, banda e tempo do usuário, que tem que separar o joio do trigo.

Ainda assim, corre-se o risco de jogar fora o trigo. Por isso, grandes empresas estão limitando o uso de e-mail entre os funcionários. Reportagem publicada ontem pelo Forbes.com diz que o banco Merrill Lynch, além de outros grupos financeiros, suspenderam o uso de e-mail entre seu pessoal. Além disso, a gradativa perda na confiança nessa ferramenta de comunicação estaria levando empresas a cortarem investimentos em projetos, temendo fraudes.

Ou seja: o spam representa mais do que a chateação de apagar mensagens indesejáveis. Em pouco tempo, perdem todos. Marcelo Sant?Iago, presidente da AMI, dá um exemplo:

– Agências de publicidade e de marketing digital, por exemplo, poderiam hoje criar campanhas de e-mails, mas isso não está acontecendo. Na outra ponta, perde o anunciante, que deixa de usar um canal de marketing bastante barato e muito eficiente.

Diretora da Advice NetBusiness, empresa de marketing online, Risoletta Miranda diz que o spam está preocupando cada vez mais gente. Afinal, 34 milhões de americanos movimentaram nada menos que US$ 7,1 bilhões em 2002, somente com encomendas via e-mail. Com um detalhe importante: pelo menos US$ 1,5 bilhão saiu de mensagens não solicitadas, ou seja, spams .

– É o assunto do momento nos EUA – resume ela. – A mensagem eletrônica é o canal que tem maior retorno sobre investimento.

Segundo Risoletta, as empresas que usam spam podem acabar matando essa galinha de ovos de ouro – assim como aconteceu com o telemarketing, recurso que em pouco tempo começou a significar perturbação, mais do que boa estratégia de vendas.

O coordenador de Software e Serviços do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), Antenor Corrêa, diz é difícil definir o que são os spams . Isso, segundo ele, impede formular regras para disciplinar as empresas.

– É difícil ter um tratamento unificado, universal, em lei – afirma Corrêa, que faz parte do Comitê Gestor da Internet no Brasil. COLABORARAM Elis Monteiro e Enio Vieira”

“Lixo eletrônico”, copyright Folha de S. Paulo, 15/11/03

“Como sempre, a culpa deve ser minha. Mal e porcamente assumi o computador, um 386 da idade da pedra da informática, evoluí penosamente para notebooks que me pareciam mais sofisticados do que os arranjos do Wagner Tiso para as músicas do Ary Barroso.

Cheguei (também como sempre) a uma mediocridade operacional que dá para me manter naquilo que costumam chamar de ?mercado?. Já me ensinaram como evitar o excesso de mensagens indesejadas, mesmo assim sobra um lixo eletrônico, sobretudo nos dias de folga da secretária, quando sou comunicado de shows que não me interessam e de viagens que não pretendo fazer.

De tempos para cá, não há dia em que não apareçam uns cinco ou seis processos infalíveis para aumentar, engrossar ou tornar mais eficiente o pênis dos usuários. Pomadas, pílulas, injeções, próteses e até mesmo rezas e mandingas usadas nas ilhas Papuas e em outros lugares exóticos, onde os nativos são famosos pelo equipamento de que são dotados.

Se alguém adotasse qualquer desses métodos, precisaria de um carrinho de mão para transportar seu aparelho reprodutor, que ganharia dimensões tais que seria impossível levá-lo por aí, nos aviões, nas igrejas, nas casas de família que ainda frequenta e até mesmo nas casas ditas de tolerância, onde poderia causar mais pasmo do que admiração.

Creio que já reclamei dos bonequinhos e das bicicletinhas que invadem o texto que estou lendo ou escrevendo. Com a proximidade do Natal, que a cada ano chega mais cedo, já neste início de novembro surgem uns papais-noéis abomináveis. acompanhados daquela musiquinha à base de sininhos.

Não sei qual foi o problema desta manhã, o fato é que, ao abrir a telinha, encontrei um desses bons velhinhos tomando viagra genérico e usando um sistema malaio para sua eficiência sexual. Como dizia Machado de Assis, tudo é possível.”