Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Ana Carolina Gitahy e Bruno Lopes

INTERNET GRÁTIS

“Duelo de tubarões”, copyright Jornal do Brasil, 17/02/03

“Com seus provedores gratuitos, teles conquistam mercado de acesso à internet, mas estão ameaçadas por nova regulamentação, em estudo pela Anatel

No surgimento da internet no Brasil, na metade da década de 90, em cada esquina aparecia um provedor de acesso. O Ministério das Telecomunicações, querendo evitar que esse setor fosse monopolizado pelas empresas de telecomunicação, em 1995 o classificou como serviço de valor agregado, que possibilitou a entrada de vários pequenos provedores. O setor, entretanto, atualmente é dominado por grandes grupos e provedores gratuitos ligados a empresas de telecomunicação. Um nova regulamentação, que está em consulta pública pela Anatel, poderá afetar os provedores gratuitos e balançar o mercado.

Pela nova regulamentação proposta pela Anatel, o internauta residencial poderá escolher ter acesso através de uma linha telefônica normal, pagando pulsos de acordo com sua utilização, ou por uma tarifa plana. Os internautas de cidades do interior ainda poderiam ter acesso por um número não-geográfico, pagando uma tarifa menor que a do interurbano. Quando ele usar a tarifa plana ou o número não-geográfico, contudo, a operadora deixaria de receber o repasse garantido pela tarifa de interconexão. E foi a possibilidade de lucrar com a receita gerada pela interconexão que fez pipocar provedores gratuitos financiados por empresas de telecomunicação.

A partir de 2004 as operadoras de telefonia fixa poderão atuar nas áreas das concorrentes, e aquelas que anteciparam as metas de universalização, como a Telemar, já receberão tal autorização. Hoje, se a Telemar decidir se instalar em São Paulo, por exemplo, e oferecer sua própria rede para o acesso ao IG na região, vai gerar um desequilíbrio na tarifa de interconexão e passará a receber por isso. Para ganhar com essa tarifa, ou pelo menos se defender dos concorrentes, a Brasil Telecom lançou o iBest, a GVT, o Pop, e a Telefonica, o iTelefonica – todos gratuitos.

Pela regulamentação dos provedores, as telefônicas que têm concessão de telefonia fixa (STFC) não podem prover acesso, mas nada impede que ela abra outra empresa com essa finalidade ou seja acionista de um, segundo a própria Anatel.

Quando no final de 2002, a Anatel falou em mudar as regras dessa tarifa, o IG protestou e acusou a agência de ?virada de mesa?, em editorial publicado em seu portal. Conseguiu fazer barulho e adiar o prazo da consulta, que terminou no sábado.

– O fim dessa tarifa pode levar ao desinteresse das empresas de telecomunicação em manter seus provedores gratuitos – avalia o analista do IDC Rusty O?brian.

A saúde financeira dos provedores pagos também não parece muito boa. Nessa briga, o UOL parecia ter vantagem por ter sido o primeiro grande provedor, mas dá sinais de fraqueza e passa por um processo de reestruturação desde a saída de Caio Túlio Costa de seu comando. Boa parte do conteúdo tinha origem nas publicações da Editora Abril, que viu sua participação acionária no portal diminuir à medida que novas rodadas de investimentos eram feitas. O contrato entre o UOL e a Abril acabou em dezembro do ano passado, e desde essa época o conteúdo das revistas da editora passou a estar disponível gratuitamente para todos os internautas.

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Analista prevê consolidação e cortes

Provedores precisam mostrar resultados em 2003

A America Online, que chegou em 1999 ao país, não conseguiu cumprir suas promessas de liderança no mercado de provedores. A AOL nos Estados Unidos também passa por dificuldades financeiras, e o New York Times publicou matéria afirmando que a diretoria da empresa estuda a possibilidade de encerrar suas operações na América Latina se ela não se tornar rentável. Apesar dessa informação ser confirmada nos bastidores da empresa, oficialmente a AOL nega.

– Reduzimos o nosso prejuízo pela 10? vez consecutiva. O novo resultado nos dá um folga no caixa até o primeiro trimestre de 2004. A possibilidade de fechamento das operações da empresa foi uma má interpretação de uma coisa que dissemos, de que não haveriam novos investimentos sem um plano de negócios sólido – afirma o CEO da AOL Latin America, Charles Harrington.

O Terra Brasil, que é uma subsidiária do Terra Networks, da Espanha, que pertence ao grupo Telefónica, diz que está em uma situação privilegiada e tem US$ 1,7 bilhão de dólares em caixa. Seu provedor, com 1 milhão de assinantes, é o segundo colocado entre os provedores pagos e quarto colocado em audiência entre os portais. Mas como a empresa é de capital fechado, ela não publica balanços anuais e não revela seus números contábeis. Mas se formos avaliar a situação do Terra Networks, mundial, ela segue o padrão de todos os outros provedores: prejuízo decrescente. Nos primeiros nove meses de 2002, 332 milhões de euros.

O analista do IDC, Rusty O?Bryan, não acredita no fechamento dos grandes provedores em 2003, mas explica que a sua sobrevivência está ligada à paciência dos investidores.

– A paciência está acabando, mas os investidores não têm outras opções rentáveis de investimentos, eles acabam sendo mais tolerantes. No mercado brasileiro, deve haver reestruturação e consolidação, mas só dá para pensar em lucro a partir do segundo semestre de 2004.

Segundo as contas da Abranet, os pequenos provedores continuam surgindo, mas usando o acesso à internet para vender outros serviços, como a montagem de redes locais ou consultoria de segurança na internet.

– Atualmente o acesso à internet é commodity, que pode ser comprada das empresas de telecomunicação. Para sobreviver, é preciso inovar, fazer o que poucos fazem – afirma Aleksandar Mandic, que criou um dos primeiros provedores do Brasil e agora oferece um serviço de e-mail sofisticado.

ENTENDA A TARIFA DE INTERCONEXÃO

Como a tarifa de interconexão funciona: Quando há um desequilíbrio entre chamadas originadas e recebidas entre duas operadoras, aquela responsável pela origem das chamadas deve pagar a tarifa

Como o tráfego de internet se comporta: As pessoas sempre ligam para um provedor, e nunca o contrário, e ficam muito tempo ocupando a linha telefônica

Como as operadoras pretendem usar os provedores gratuitos: A partir de 2004 as operadoras de telefonia fixa poderão atuar em todo o território nacional. Uma operadora que tiver um provedor gratuito com muitos usuários na área de sua concorrente, e um provedor com poucos usuários em sua própria área, ganhará com a tarifa de interconexão

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Quem é quem no mercado de provedores

UOL

desde quando: 1996,

principais acionistas: Folha e Abril

n? de assinantes: 1,5 milhão

diferenciais: conteúdo exclusivo (jornais e revistas)

situação atual: redução consecutiva de prejuízo, mas ainda perde quase R$ 100 milhões por ano. Como todo o mercado, está pressionado para dar lucros e cortar gastos. Ainda é o maior provedor brasileiro.

TERRA

desde quando: 1999

principais acionistas: O Terra Brasil é uma subsidiária da Terra Networks, que é da Telefónica.

n? de assinantes: 1 milhão difer enciais: serviços (e-mail protegido, servidor de jogo)

situação atual: não publica balanço, mas diz que tem US$ 1,7 bilhão. É segundo colocado em número de assinantes (entre os provedores pagos e o quarto em acesso).

IG

desde quando: 1999

principais acionistas: GP/ Oportunity, Telemar e Brasil Telecom

n? de assinantes:4 milhões (segundo o provedor, este é o número que se conecta ao menos uma vez por mês)

diferenciais: é grátis

situação atual: não mostra balanço, mas diz que opera no azul. Se a CP417 mudar a tarifa de interconexão, o provedor pode deixar de ser gratuito.

AOL

desde quando: 1999

principais acionistas: Grupo Cisneros e Banco Itaú

n? de assinantes: cerca de 500 mil (estimativa)

diferenciais: facilidade e segurança da rede

situação atual: É o maior provedor do mundo, mas não decolou no Brasil. A matriz nos EUA já falou em fechar na AL. A AOL vem reduzindo o prejuízo o que lhe garante caixa até o primeiro trimestre de 2004.”