Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Artigos

 

“Se não cantaram ‘Parabéns a você’, com algum artista popular famosíssimo ajudando Chico Pinheiro a soprar as velinhas diante das câmeras, terá sido mero esquecimento, na correria da pauta agitada das últimas semanas, ou quiçá um repentino ataque de pudor. Mas, se cantaram (esta coluna não pôde comprovar porque fecha antes), os telespectadores certamente não estranharam, tal a descontração que contagia aquele estúdio. Nesta semana, no dia 31, completou-se o primeiro ano do projeto de telejornalismo local que a Rede Globo vem experimentando em São Paulo, sob a direção de Amauri Soares e a ancoragem de estrelas da casa, como Carlos Nascimento, Carlos Tramontina, Mona Dorf e Mariana Godoy, além do próprio Pinheiro. E a efeméride deve ser mesmo celebrada, pelo que os telejornais ‘Bom Dia São Paulo’ e ‘SPTV’ têm oferecido, tanto ao público telespectador quanto ao próprio jornalismo global.

Nos últimos tempos, a crítica vem elogiando a cobertura da Globo para os assuntos paulistanos, sobretudo para as investigações da chamada ‘Máfia da Propina’ e os trabalhos da CPI que resultou delas, acompanhadas atentamente e analisadas com implacável agudeza. Também impressionou os analistas, pelo ineditismo e a contundência, um recente e já famoso encerramento do ‘SPTV – 1ª Edição’, com Chico Pinheiro entrando ao vivo, direto de um dos cemitérios da cidade, para mostrar as sepulturas de jovens assassinados ‘por falta de segurança, por falta de condições de vida’ e dedicar a imagem a ‘você, de classe média como eu que mora nesta metrópole, que acha bonita a cidade de São Paulo’. Mas, se estes são exemplos mais notórios e eloqüentes – e mesmo surpreendentes pelo contraste com as práticas normais do jornalismo global –, não se resume neles o bom serviço que a rede líder vem prestando aos munícipes, ao trazer-lhes informação relevante, análise atilada e opinião independente; e ao valorizar e estimular neles a cidadania.

Estas são virtudes que, certamente, todos os noticiários deveriam cultuar. Mas neste país de televisão dócil, onde o servilismo eletrônico é uma das facetas mais perversas da política, não é o que ocorre, muito menos no caso da Globo, nascida e nutrida nas entranhas do poder. Assim sendo, qualquer inflexão no rumo da autonomia editorial, da postura crítica e da cobrança de responsabilidades das autoridades públicas deve ser anotada e valorizada, para que o seu ‘vírus’ se propague e o telejornalismo deixe de ser aquele ‘armazém de secos e molhados’, que Millôr Fernandes contrapunha ao bom jornalismo; aquele que é e será sempre necessariamente ‘de oposição’. Ao menos em São Paulo, a Globo pode ter certeza de que seus produtos valem mais do que os bacalhaus, azeitonas e vinhos, em que pesem eventuais exageros na sua receita de popularização do noticiário, que a leva a convidar cantores sertanejos e atrizes de novela a dividir a bancada com os âncoras para alavancar a audiência.

Na contabilidade do ‘SPTV’, há um saldo bastante positivo na cobertura e no encaminhamento de problemas urbanos. Mais de 900 pessoas com atividades na esfera pública foram entrevistadas, e quase 50 comunidades participaram diretamente do quadro ‘Bronca’, uma espécie de tribuna do cidadão armada nas ruas, exatamente para recolher as queixas contra as administrações municipal e estadual. O índice de resolução dos problemas apontados estaria na faixa de 65%, o que é formidável para o prazo curto de um ano e a tradicional inércia das máquinas administrativas. É claro que as soluções foram dadas muito mais para que os responsáveis escapassem de levar lambadas dos jornalistas do que por respeito e preocupação com os reclamantes. Mas a função fiscalizadora é das mais nobres da TV, e é muito útil que a emissora mais poderosa jogue o seu peso a favor dos telespectadores-contribuintes, em vez de se deixar seduzir pela bajulação dos donos do poder e trocar a vigilância pelo adesismo.

Cumpre lembrar, a propósito, que foi exatamente por se colocar ao lado da população, assumindo seus problemas e suas dores, que a Globo deixou de ser uma obscura estação local do Rio de Janeiro e conquistou audiência e recursos para saltar até o patamar de uma rede nacional de televisão. No verão de 1966, quando a emissora tinha menos de um ano de vida e Walter Clark foi contratado para assumir a direção-geral, despencou sobre o Rio uma chuvarada devastadora, que flagelou impiedosamente a cidade e deixou centenas de pessoas no desabrigo. Colhida pela enxurrada que descia dos morros para o Jardim Botânico, a Globo ficou ilhada e poderia ter esperado a água baixar exibindo filmes açucarados, para distrair a atenção, dela própria e de seu ínfimo público. Mas preferiu levar as câmeras para fora e mostrar o caos que martirizava os cariocas, organizando uma campanha de arrecadação de roupas e alimentos que acabou mobilizando a cidade. Com isso, conquistou a atenção da audiência e o coração do telespectador, para não mais perdê-los.

É certo que depois disso, foi se condoendo muito mais das agruras e circunstâncias dos poderosos de turno do que o homem comum das ruas. Mais do que amiga, fez-se instrumento dos manda-chuvas, fossem eles os generais da ditadura ou os civis que os sucederam; Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique, todos foram indistintamente bem tratados, apoiados, defendidos e raramente incomodados, exceto quando seus eventuais podres foram revelados por outrem e tornaram-se notórios demais para serem ignorados. Inebriada com as glórias do sucesso e do poder, a Globo extrapolou a sua missão de prover entretenimento e informação, atuando como ente político e interferindo com mais ou menos ética nas disputas eleitorais, nos debates parlamentares e nas decisões governamentais, e defendendo antes os seus próprios interesses e os de seus protegidos do que o interesse público.

O novo telejornalismo paulista da Globo, portanto, simboliza em alguma medida o reencontro da emissora com as suas origens. Nele vive a preocupação em prestar relevante serviço público ao telespectador, compadecendo-se de suas misérias e advogando as suas demandas junto aos órgãos ditos ‘competentes’, mas que em geral são mesmo incompetentes. Nele se encontram a indignação do cidadão anônimo, seu desejo de justiça e de bom atendimento, ecoando diretamente ou pela garganta dos apresentadores, entre os quais Chico Pinheiro é talvez o símbolo conjuntural, mas está sempre coadjuvado por Tramontinas e Nascimentos. É um telejornalismo, enfim que honra o gênero e cumpre as suas finalidades até no Ibope.

Falta levar a mesma postura crítica ao plano nacional, por exemplo, neste programa jornalístico diário, de nome provisório ‘Brasil TV’, que está sendo pensado para o final da tarde, e que já teve quatro pilotos gravados em São Paulo. É bom ver a Globo ‘apertando’ Celso Pitta, cobrando-lhe a responsabilidade pelo mar de lama na Prefeitura de São Paulo, mas seria também muito bom vê-la inquirindo Armínio Fraga, Pedro Malan, Antônio Carlos Magalhães e Fernando Henrique Cardoso com a mesma volúpia. Prestaria enorme serviço à Nação se cobrasse dos pilotos da política econômica menos compaixão com os bancos do que com o povo faminto. Se cobrasse do chefe do Congresso tanta atenção aos desmandos do Legislativo quanto incomodam-no os do Judiciário. Se cobrasse do supremo mandatário as promessas não-cumpridas.

Mas aí já é pedir demais à Globo. Aí já estaríamos querendo um final feliz de novela. Ainda que fosse um fantástico show da vida.”

(*) “Sintomas de vigilância”, copyright Gazeta Mercantil, 1/4/99

 

“Com um movimento estudado, mas atraente, o veterano Ney Gonçalves Dias soca o ar e anuncia um ‘slogan’ (direto ao sucesso) no acanhado espaço das Notícias do Dia, que ocupa um tardio intervalo do Jô Onze e Meia, no SBT. Como, onde, por que são as perguntas que ocorrem. Sucesso? Como fazer sucesso com modestos flashes noticiosos que não trazem nenhuma contribuição jornalística?

Pode-se discutir o gosto, mas, pelo menos Ney continua mostrando estilo. É um apresentador que sobra no empobrecido noticiário do SBT, com seu apelo fortemente popular. Suas performances no Cidade Alerta, na Record, serão sempre lembradas como aulas de apresentação. Mas o que adianta um bom apresentador sem ter o que apresentar?

Quantas vezes já deploramos aqui o desmanche do telejornalismo do SBT? Talvez tantas vezes quantas lamentamos a transformação gradativa do telejornalismo em entretenimento, tarefa organizada sistematicamente pela TV Globo. Transformar telejornalismo em entretenimento não é um fenômeno exclusivamente brasileiro, mas nos Estados Unidos, onde isso também ocorre, o apuro com a informação, a rapidez e a precisão dos telejornais criam uma compensação.

O trabalho das emissoras ‘all news’ como a CNN, também está aí a desafiar nossa capacidade de desenvolver um bom telejornalismo. Aqui, agilidade e investimentos jornalísticos só aparecem quando o entretenimento é a parte forte da notícia. Recentemente, todo o país acompanhou os terríveis capítulos finais do seqüestro de Wellington, irmão dos cantores Zezé Di Camargo e Luciano. Certamente o caso chamava a atenção por todos os seus ingredientes. Mas o que dizer da modesta cobertura que se dá hoje ao fantástico escândalo na administração municipal de São Paulo? Propinas por todo lado, funcionários fantasmas, amantes infiéis… há de tudo um pouco.

Mas onde está o jornalismo investigativo? Onde está o sentido da notícia? Exceção ao Canal 21 e à Band, os melhores lances desta rocambolesca investigação estão na TV São Paulo, a emissora da Câmara Municipal. Ou seja, a simples transmissão direta dos interrogatórios da CPI já resulta em prestação de serviço de melhor qualidade do que as burocráticas reportagens dos telejornais.

Talvez por essas e outras é que se compreenda a atitude do presidente da República, que almoçou, na outra semana, com os apresentadores do SBT. À falta de um Bóris Casoy, Fernando Henrique foi conversar com Ratinho, Celso Portiolli, Hebe Camargo, Gugu e Serginho Groismann, e pedir a eles que transformem o entretenimento em notícia. Ou seja, que injetem ânimo e otimismo na sociedade, em meio a seus ‘shows’, com notícias positivas.

Então ficamos assim: os telejornais se transformam em entretenimento dominados por notícias emocionais que atinjam o grande público; os ‘show’ se encarregam de formar opinião, ao dar sua visão isenta e responsável do que se passa no país. E as televisões burocráticas da Câmara Municipal, da Câmara Federal e do Senado ficam responsáveis pelas grande coberturas.

E no final da noite, num intervalo perdido, um veterano apresentador soca o ar e se declara no caminho do sucesso com seus três minutos de noticiário requentado.

Tenho a impressão de que alguma coisa está errada…

(*) “Alguma coisa está errada”, copyright Gazeta Mercantil, 7/4/99

 

“RIO – As emissoras públicas devem voltar-se às questões de direitos humanos dando espaço a todos os setores da sociedade, inclusive os minoritários. O mesmo deve ocorrer com os partidos políticos, já que a função da televisão pública é promover o debate em todos os níveis. Essas foram as principais conclusões do encontro da Associação Brasileira de Emissoras Públicas Educativas e Culturais (Abepec) que terminou ontem [9/4/99] no Rio, com a participação de representantes de 19 emissoras que produzem programas e 6 que apenas retransmitem.

Segundo o vice-presidente da Abepec e diretor-presidente da Fundação Roquete Pinto (responsável pela TV Educativa do Rio), Mauro Garcia, a discussão sobre ética foi deixada de lado, já que o próprio secretário nacional de Direitos Humanos, José Gregori, reconheceu não haver queixas da sociedade quanto ao conteúdo da programação. ‘Ele nos disse isso na reunião realizada no mês passado, em São Paulo’, lembrou Garcia. ‘As emissoras públicas podem mudar de status legal, mas não seu foco de interesse, que é a sociedade’.

Outro ponto discutido no encontro foi o lugar das emissoras públicas no mercado publicitário. Atualmente, a Lei das Telecomunicações, datada de 1967, proíbe as televisões públicas de receberem anúncios ou doações, mas a lei que transformou boa parte delas em organizações sociais prevê esse tipo de recurso. ‘É preciso acabar com essa contradição, até para contemplar a realidade que mudou desde 67’, esclareceu Mauro Garcia.

‘Naquele tempo, nossa única função era produzir e transmitir teleaulas e teleconferências, coisa que nem fazemos mais, pois incluímos em nossa programação documentários, noticiários e até espetáculos.’ Garcia disse que, por recomendação do secretário de Comunicação da Presidência da República, Andrea Matarazzo, que esteve no encontro, as emissoras educativas devem fazer um esforço entre as agências de publicidade para tornarem-se conhecidas como um veículo a mais dentro do mercado. Ele garantiu que o governo vai passar a anunciar nessas emissoras. No entanto, Garcia lembrou que a publicidade das emissoras públicas só pode ser institucional. ‘Mas isso não nos exclui, já que há anúncios – como aquele do MacDonald’s, prometendo não aumentar os preços – apropriados a nossa programação.’

Tanto a TV Cultura quanto a TV Educativa do Rio, as principais produtoras de programas, já buscam recursos no mercado publicitário, na forma de apoio cultural. ‘Na TVE, esse dinheiro cobre 12% do orçamento e corresponde a 30% da verba arrecadada’, disse Garcia. ‘Mas a tendência é aumentar essa participação do mercado publicitário, sem diminuir a contribuição do Estado para nossa manutenção.’ As emissoras decidiram também ampliar a faixa de horário em que transmitem programas em cadeia nacional. ‘Hoje ela vai de domingo a quarta-feira e nossa intenção é estendê-la por toda a semana’, concluiu Mauro Garcia.”

(*) “Entidade quer emissoras públicas voltadas para direitos humanos e debates políticos”, copyright O Estado de S. Paulo, 10/4/99

Um encontro de diretores de 22 estações de TVs públicas, educativas e culturais do país (como a Cultura e a TVE do Rio), hoje e amanhã [8 e 9/4/99] no Rio de Janeiro, vai definir um código de ética comum a todas as TVs não-comerciais do país.

O código de ética das TVs públicas vem sendo discutido desde novembro do ano passado, quando o secretário nacional de Direitos Humanos, José Gregori, passou a manter encontros com redes de televisão para discutir o assunto.

Grupos de estudos do Nordeste, Sul e Sudeste devem discutir os pontos em comum e redigir o código de ética ainda no encontro de hoje e amanhã. Segundo Jorge da Cunha Lima, presidente da Fundação Padre Anchieta (mantenedora da TV Cultura) e da Associação Brasileira das Emissoras de TVs Públicas, Educativas e Culturais, o código de ética é o embrião de um documento mais amplo, o “Manual de Redação das TVs Públicas”, que vai englobar ética e linguagem e que deve ser redigido no segundo semestre deste ano. “Esse manual vai abordar o conceito de jornalismo em TV pública, que deve ser baseado nas demandas da sociedade, e não nas do mercado”, diz Cunha Lima.

O documento também terá capítulos sobre o tratamento a ser dedicado à criança e ao adolescente e à informação cultural, bem como os princípios da publicidade institucional (que veta fabricantes de bebidas e cigarros). Informalmente, as TVs públicas já seguem alguns princípios éticos, como a prioridade a programas educativos dirigidos ao público infanto-juvenil.

O encontro no Rio também vai discutir a ampliação da troca de programas entre as TVs educativas, a chamada Rede Pública de Televisão. […] Outras pautas do encontro são o apoio de estatais às TVs públicas e o debate sobre a Lei de Comunicações de Massa, em elaboração.

(*) “TVs públicas terão código de ética e manual de redação”, copyright Folha de S.Paulo, 8/4/99

Isak Bejzman

Não deixa de ser um belo espetáculo colocar dois deputados do lado de cá e dois do lado de lá e deixar que se matem. E o jornalista? Fica no ângulo da mesa mediando o “debate”, sonhando que está esclarecendo o público.

Mais trágico é quando o jornalista assume também o papel de diretor comercial. Compra espaço no rádio ou na TV e transforma seu programa num balcão de negócios.

É óbvio que se o país pretende ser uma democracia o indivíduo tem o direito de expressar seus pontos de vista. Acontece que canal de rádio e TV é concessão pública, e seu uso nesses termos é no mínimo antiético: na realidade, a fachada jornalística está sendo utilizada para promover determinado ponto de vista pessoal ou de um grupo, como seu preposto.

Muitos podem argumentar que jornalistas recorrem a esse balcão porque é sabido que os salários dos profissionais de comunicação são irrisórios. Todavia, num congresso brasileiro de jornalismo que se realizou em Porto Alegre, um jornalista de São Paulo informou à numerosa platéia que o salário mensal dos jornalistas ultrapassa os R$ 8 mil e que todos têm automóvel.

É sabido que o som se propaga infinitamente pelo espaço. Quando a vaia que ele recebeu chegar em São Paulo, por favor, me avisem.

 

O Paraguai é ali

Absurdo o que a Globo fez no início da cobertura da crise no Paraguai. Aproveitar-se da presença de Galvão Bueno em Assunção foi no mínimo um fiasco. Com seu exagero natural, o narrador esportivo deu o ar próprio aos episódios que sucederam ao assassinato do vice-presidente daquele país. Acostumado a ver futebol brilhante da seleção na mais apática das partidas da Seleção Canarinho, Galvão Bueno mascarou com exagero os conflitos. Até parecia que Kosovo era Assunção e o Paraguai, a Iugoslávia. Isso sem contar as participações do repórter Mauro Naves, que só faltou citar a escalação dos guerrilheiros titulares e dos oviedistas reservas em confronto em frente à sede do governo em Assunção.

Ora, o Paraguai fica logo ali. E as fronteiras não estavam tão fechadas assim para a imprensa, não?

Cláudio Messias, Repórter do jornal Voz da Terra, Assis (SP)

Apenas um eletrodoméstico

Assisto há muito tempo ao Observatório na TV e gostaria de emitir minha opinião sobre toda essa discussão sobre a função dos meios de comunicação e o cumprimento de seus papéis perante a comunidade.

Na minha opinião, a televisão deveria ser encarada no Brasil como mero eletrodoméstico para entretenimento, assim como um ventilador quando está calor ou um microondas quando estamos com fome. A informação, cultura, e conhecimento deveriam ser buscados por canais especiais devidamente divulgados e/ou livros, revistas e jornais. E a televisão em sua posição em altar, no centro da sala, ao alto, vista e cultuada como o único meio de informação dessa população sofrida e enganada como a brasileira. A culpa não é da televisão, mas de um misto de inocência subserviente da população e displicência do governo.

Gilberto Miranda Júnior

Orientação de leitura

Alberto Dines, você não acha que a população brasileira, sem o mínimo de orientação para escolher um bom veículo de informação, acaba preferindo o “pseudojornalismo”? Na minha opinião, saber ler não basta, é preciso ter uma orientação de como ler e onde ler. Gostaria que você comentasse. Sou um observador da imprensa, apesar de não ser jornalista.

Bento Francisco dos Santos Júnior

Por uma TV independente

Gostaria de pedir que meditassem sobre os temas abaixo:

1) Existe realmente imprensa livre no Brasil e no mundo, onde o poder econômico e político domina e decide acintosamente o que a mídia deve ou não publicar ou divulgar?

2) Particularmente no caso do Brasil, pode alguém em sã consciência, acreditar que um funcionário da Rede Globo ou mesmo das outras emissoras, inclusive as TVE’s, tem liberdade total para falar, dizer ou escrever o que pensa? Principalmente nas Organizações Globo, onde a “auto-censura” é institucionalizada? Seria acreditar em Papai Noel achar que alguém vai falar o que o sr. Roberto Marinho, Sílvio, Bispo Macedo etc. etc. não querem que saia publicado ou veiculado nos seus meios de comunicação. Fazem umas gracinhas para parecerem independentes e, lógico, os seus empregados que precisam e não querem perder seus empregos cumprem o seu dever de casa.

3) Não seria o caso de se trabalhar por um projeto de lei transformando todas as TVE’s do Brasil em fundações independentes, e que as outras TVs e jornais fossem obrigados a oferecer um espaço realmente livre da pressão do anunciante (governos ou iniciativa privada)? ,para se saber que ali as coisas eram para valer e verdadeiras.

Estamos cansados de Pravdas e Granmas disfarçados em nosso país.

Paulo Emílio Pinto.

Educação e qualidade

Parabéns pelo programa. Ser jornalista é saber que comunicação é a mais antiga das formas de se educar alguém. Quando a maior parte das inserções na TV, jornal, rádio, debates etc. levam para o pessimismo e o empobrecimento do “ser” popular, temos responsabilidade sim no que se faz e no que se pensa numa região, estado e até mesmo uma nação.

Só vejo uma saída, uma REEDUCAÇÃO jornalística, a começar por aqueles que coordenam os telejornais, partidários de uma demonstração televisiva de como as coisas “estão ruins” e como podem ficar “piores”. É inadmissível ver uma das melhores TVs do mundo em mãos tão negativas.

Peço que se pense em fazer um Roda Viva ou um Observatório na TV com este assunto: “Como melhorar a qualidade jornalística da TV”.

Osvaldo Aparecido Pinheiro

Topa tudo por dinheiro

Não consigo entender como os jornais (a maioria) conseguem combater determinados crimes em seus editoriais, enquanto nos cadernos de classificados continuam veiculando anúncios dos criminosos que eles combatem. Tanto no Rio de Janeiro (especialmente O Globo), como em São Paulo, é comum a inserção de mensagens de agiotagem e de prostituição, com endereço, telefone, fotos etc. Nos cadernos principais dos jornais são comuns anúncios de vídeogames de caráter violento, assim como o mais recente, em que o objetivo é o atropelamento de pedestres…

Sylvio P. Leitão Filho

Problemas de produção

Antes de mais nada, a versão do Observatório da Imprensa na TV é uma iniciativa que só merece apoio e aplauso por parte de nós, jornalistas. Igualmente, é um programa bastante produtivo para professores de jornalismo estimularem e provocarem debates aprofundados em sala de aula a partir de temas tratados. O único porém que gostaria de ressaltar é a lerdeza dos avanços técnicos na produção do programa, provocando falhas que, acredito, a esta altura já poderiam ter sido sanadas. Além do difícil corte nas falas de alguns participantes, que provocam perda de ritmo no debate, um dos aspectos mais graves e desagradáveis, quando é chamado ao ar, é a TV UOL. Freqüentemente a conexão dá errado ou apresenta aquela imagem fragmentada, que não funciona no vídeo: não acrescenta enquanto forma e muito menos quanto ao conteúdo, pois dificilmente se consegue decifrar a opinião ou pergunta do participante. Sem contar a eternidade da vinheta que antecede seu aparecimento na tela, de mau gosto e longa demais para o telespectador, gerando uma expectativa quase sempre frustrada.

Na verdade, como todos os programas experimentais sobre tema tão específico, não é nada fácil encontrar a linguagem e o tom certo. Espero que entendam o sentido da crítica, pois a torcida é grande para que o Observatório na TV vingue.

Wanda Jorge

 

Mulher na TV

“Na última reunião do TVer, a entidade criada em junho de 97 para a discussão da qualidade da TV brasileira, foi apresentada a primeira pesquisa do grupo, sobre ‘mulheres e televisão’. O resultado mais surpreendente foi que, para 79% das 253 mulheres entrevistadas no Estado de São Paulo, a programação atual não transmite a imagem da mulher ‘real e verdadeira’.

“No relato bem-humorado de Paulo Roberto Ceccarelli, psicanalista integrante do TVer e doutor pela Universidade de Paris 7, ouviram-se na reunião reações do tipo ‘nossa, como as mulheres estão, hein?!’. O ‘espanto’ foi devido à ‘impressão de que é absolutamente inusitado que as mulheres possam pensar dessa forma’.

“Não apenas quanto à imagem geral das mulheres, refletida na TV, mas quanto aos programas. Para 59%, a programação não tem a ver com ela própria, entrevistada. Mas nem todos os resultados foram da mesma ordem. Em outro ponto do levantamento, 51% das entrevistadas de classe C disseram que a programação da TV no país ‘deixa a mulher mais culta’, no sentido de ajudar na formação.” (Nelson de Sá, “A mulher da televisão brasileira é irreal, diz TVer”, Folha de S. Paulo, 6/3/99)

Parece-me uma falsa questão a discussão e pesquisa sobre a imagem da mulher moderna na TV brasileira, simplesmente pelo fato de haver uma questão que, confesso, não sei se responderei aqui. Ao menos colocarei os fatos em pauta de forma controvertida.

Quando a televisão foi criada, acredito ter sido com o mesmo propósito que o telefone: comunicar. No entanto, ao telefone, fazemos um uso comprometido com a realidade de forma a torná-la mais ágil. A televisão tem mais do que isso. Apropriada da audiência de milhares, muitas vezes milhões e milhões de pessoas, está comprometida com um “mentor”, o que não acontece com o telefone. Ponho, então em questão o que a televisão (ou seu mentor) entende por mundo real, visto que veicula muito mais do que diversão e “um” reflexo da realidade. Disse Marshall McLuhan que a TV herdou o conteúdo do cinema (que herdou, mormente, o da Literatura), e acrescento: também do rádio. Ora, se o cinema foi capaz de iludir o homem, assim segue a sua sucessora.

Se por um lado a alta tecnologia porta o aparelho com uma qualidade de definição cada vez mais nítida, mais estereofônica, enfim, mais real, não podemos inferir sobre o seu conteúdo? Mesmo estes programas e filmes baseados em histórias verdadeiras estão impregnados da leitura de seus autores. Isto me faz lembrar aquele cientista purista que diante de um estudo iniciado a partir do momento empírico, considera a sua presença fator digno de nota na interferência de suas experiências. O que se aplica perfeitamente ao conceptor destes trabalhos baseados em episódios de nossas vidas. Purismos e afetações humanas à parte, o que a TV mostra hoje é jamais ser reflexo da realidade, pois a manipulação exercida pela imprensa, na pessoa do editor, fica escancaradamente clara a partir de uma segunda leitura, vigiada pelo farol do vizinho, isto é, à luz do estudo comparado.

Claro que há um lado bom nesta história. Viver a realidade pura é nunca sublimá-la, como nos ensinou Freud – isto é, todos se afastam daquele sujeito que sempre responde que tudo vai mal. Todos nós temos problemas, mas respondemos que “tudo bem, obrigado, e você?”. Neste ponto de vista, sublimar a realidade é a tarefa que a TV melhor executa, ainda que mostrando acidentes de carro, defuntos, incêndios, desastres ecológicos, sangue explícito, assassinatos e traições, seja em novelas, filmes ou mesmo nos tablóides sensacionalistas eletrônicos tipo Aqui Agora, Ratinho, Rambo e toda uma leva de produções milionárias financiadas pelos anunciantes e elocubradas por editores e diretores de criação especializados em público inculto e subdesenvolvido – algo de que não precisamos importar, temos de sobra.

No âmbito da publicidade, não vejo muita diferença. Mesmo antes da época em que os anúncios de cigarros e bebidas eram livremente exibidos, nossa publicidade já forjava e apelava para o consumo, sublimando o espectador a um nirvana de poder e de frustração. A imagem e o som hoje produzidos pelos anunciantes, em especial dos automóveis, é absolutamente externa à realidade do brasileiro comum. Como algo popular pode custar R$ 11.000,00 ou mesmo R$ 9.999,99 ? Seria o equivalente a 83,3 salários mínimos ou ainda 6 anos e meio de trabalho – sem gastar absolutamente nada com nada ! Vamos entender o que é popular, então? Eis a TV forjando novamente, desta vez adulterando o significado das palavras. Tudo bem que a língua está em movimento e que permite o fenômeno do neologismo, mas convenhamos…

Estarei equivocado, misturando alhos com bugalhos? Estarei fora do espírito da questão, desviando-me para um ponto de vista eminentemente pessoal e míope?

Gostaria ainda de aditar mais um apelo, ressaltando uma inobservância na matéria supracitada: a pesquisa foi feita com 253 mulheres paulistas. Indago: que “nicho” é este (para não dizer tecnicamente “amostragem”)? Só as mulheres paulistas assistem TV ou só a opinião delas é que tem peso? De que modo as perguntas foram formuladas? Como foram conduzidas?

Todos sabemos que é possível manipular pesquisas tanto na fonte, no processo como nos resultados. Na fonte, pela sua formulação; no processo, pelo modo como são executadas as indagações e o seu registro; nos resultados, pelo modo como os dados são arrumados.

A televisão brasileira destina seus programas segundo os conceitos e comprometimentos de seus mentores. Qual destes é mulher? Ora, os nichos dos programas visam a mulher trabalhadora? A mulher bacharelada em Direito? Ou a dona-de-casa? Que mulher ‚ essa que assiste TV à tarde aos programas de Silvia Poppovic, Leda Nagle (Sem Censura), Xênia? Que modelo de mulher assiste a programas do tipo Business, Jô Soares Onze e Meia, Vitrine, Metrópolis, Roda Viva ? Neste momento, pergunto afinal, como é que a TV brasileira poder mostrar o retrato da mulher “real e verdadeira”?

A estratégia da política do “pão e circo” ainda é componente do inconsciente coletivo e não morrerá jamais. A TV cumpre o papel do circo evoluído, que se atualiza metamorfoseado na era eletrônica e digital. O herói jamais morrerá: Rambo e Ulisses são a mesma personagem. Silvester Stalone e Homero têm a mesma função: imortalizar e entreter com seus heróis e sublimar o homem comum, espalhar sua obra.

Desta forma, entendendo o moto perpétuo do inconsciente coletivo, não vamos nos desvencilhar deste componente enquanto não conseguirmos acompanhar a Deutsche TV.

Acredito que a televisão tenha duas realidades, ambas concernentes ao seu conteúdo: a realidade de seus componentes eletrônicos e a realidade que forja diante dos olhos e dos ouvidos de sua assistência.

Vinicius Claro