Sunday, 05 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Até tu, Washington Post?

FALTA DE CRÉDITO

A fim de poupar trabalho, repórteres de grandes jornais
americanos usam informações e depoimentos provenientes
de matérias de jornais menores sem citar a fonte, aponta
o Washington City Paper [5/6/03]. A reportagem usa como exemplo
o caso do chefe de polícia de Tacoma (estado de Washington),
David Brame, que matou a ex-mulher e depois se suicidou. As equipes
dos jornais locais News Tribune e Seattle Times encontraram
trechos em matéria de Blaine Harden, correspondente do Washington
Post
em Seattle, que se pareciam estranhamente com material
que haviam publicado e com informações que ele dificilmente
teria conseguido por conta própria. Saíram no Post,
sem citação apropriada de fonte, por exemplo,
declarações do prefeito de Tacoma, Bill Baarsma.

No fim de maio, o editor do News Tribune, David Zeeck, e
o editor da seção metropolitana do Seattle Times,
Suki Dardarian, enviaram carta ao Post indagando sobre a
origem das informações de Harden. Poucos dias depois
o diário da capital americana publicou correção
admitindo que utilizara “declarações do prefeito sem
citação apropriada” e mencionando de onde Harden as
havia conseguido. Omitiu, no entanto, outras coisas que o repórter
simplesmente copiou. Na verdade, esconde o fato de que ele praticamente
não fez trabalho algum de reportagem, apenas um clipping,
pois teve três horas e meia para apurar e bater a matéria.

THE CHICAGO TRIBUNE

Uma charge da página de editoriais do Chicago Tribune
suscitou a ira de leitores, que mandaram e-mails e ligaram para
a redação para manifestar descontentamento, e até
de um colunista do próprio jornal que considerou o desenho
anti-semita. O concorrente Chigago Sun-Times também
protestou em um editorial.

No dia 30/5, o cartunista Dick Locher desenhou George W. Bush sobre
uma ponte onde se lia “Ribanceira do Oriente Médio”, e na
qual o presidente americano dispunha notas de US$ 1 em frente a
Ariel Sharon [veja o cartum abaixo]. Sob o “estímulo”
americano, o premiê israelense diz “pensando bem, o caminho
para a paz parece um pouco mais claro agora”, mirando as cédulas
dispostas por Bush.

Em coluna no dia 1o/6, Don Wycliff, editor público
do Tribune, pareceu apoiar os leitores descontentes. “O cartum
é brutalmente anti-semita, reforçando a imagem preconceituosamente
atribuída aos judeus, de avarentos e gananciosos”, disse
um leitor, citado na coluna de Wycliff.

O colunista, segundo reportagem de Don Babwin [AP, 2/5/03], revelou
que sua reação também foi parecida. Wycliff
disse acreditar que não havia intenções de
“contrabandear um cartum anti-semita no jornal”. No entanto, afirmou
que a imagem “de fato possui elementos ofensivos a muitas pessoas
boas.”

Locher, de sua parte, discorda das acusações e defende
seu cartum. “Eu estava tentando dar a cara a tapa em nome do cidadão
americano”, disse Locher a Dave Astor [Editor & Publisher,
3/6]. “Israel é um bom amigo, mas vamos contabilizar para
onde o dinheiro está escoando.” Locher é ganhador
de um prêmio Pulitzer de 1983. Ex-funcionário fixo
do Tribune, agora trabalha para o jornal como free-lancer.