Monday, 14 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1309

Baretta contra as câmeras

JULGAMENTOS NA TV

Harland Braun, advogado do ator Robert Blake (o detetive Baretta, do seriado famoso), acusado, com seu guarda-costas, de matar a mulher, Bonny Lee Bakley, vai tentar impedir que câmeras gravem o julgamento, sob alegação de que elas podem influenciar as pessoas presentes. "Algumas testemunhas de Hollywood tentarão aparecer mais do que deveriam e outras até mentirão para aparecer", alega. "Já outras não vão querer comparecer ao tribunal e ficar em situação embaraçosa na TV." A Associação dos Diretores de Jornalismo de Rádio e TV e a Secretaria dos Advogados do Condado de Los Angeles já anunciaram que lutarão contra o pedido de Braun.

Em audiência preliminar, na qual Blake alegou inocência, as televisões tiveram permissão para entrar. Canais a cabo de notícias fizeram cobertura ao vivo e emissoras locais de Los Angeles exibiram trechos gravados. O juiz Michael Duffey disse que, apesar de ter permitido o acesso da TV, ainda não decidiu se fará o mesmo no julgamento.

Para Laurie Levenson, professora da Escola de Direito Loyola, Braun não quer que imagens do julgamento sejam transmitidas porque assim pode "controlar o fluxo de informações dando declarações fora do tribunal". O diretor de jornalismo do canal KTLA, de Los Angeles, Jeff Wald, discorda de que câmeras possam influenciar testemunhas. "Elas estão em posição fixa e ninguém repara." Braun concorda que isso pode ser verdade para quem freqüenta a sala cotidianamente, mas acha que para quem chega para participar do processo por um ou dois dias a câmera pode ser fator decisivo.

Princell Hair, diretor de jornalismo do canal KCBS, de Los Angeles, considera as alegações do advogado "interessantes", mas pensa que o júri é conduzido por profissionais que saberão anular qualquer interferência da TV. "Câmeras deveriam estar em todos os tribunais, mesmo sem celebridades. Os processos legais têm de ser abertos. Assistir a julgamentos é um direito humano básico."

IGREJA CATÓLICA

No momento em que cardeais americanos se reúnem no Vaticano para deliberar sobre a crise causada pelas denúncias de padres pedófilos, líderes católicos acusam a imprensa de ter exagerado no tratamento da questão. "Foi a mídia que fez disso um problema nacional. Estamos numa situação em que se alimenta o frenesi colocando casos de 20, 30 anos atrás nas manchetes", reclama o cardeal William Keeler de Baltimore. O cardeal Theodore McCarrick concorda: "Elementos da nossa sociedade que se opõe à visão de vida, família e educação da Igreja enxergam oportunidade para destruir a credibilidade da instituição".

"Há uma moda de atacar a Igreja e o cardeal de Boston", aponta Raymond Flynn, antigo embaixador do Vaticano, referindo-se a Bernard Law, que deu início a toda onda de escândalos quando o Boston Globe revelou que ele sabia de um padre pedófilo em sua arquidiocese e não o tirou de sua função.

William Donohue, presidente da Liga Católica para Direitos Religiosos e Civis não concorda com estes líderes religiosos. Ele faz objeção a algumas tiras cômicas e colunas de opinião, mas, de modo geral, acha a cobertura justa. "Não há nada tendencioso em lavar a roupa suja de uma instituição para que as pessoas possam ver. As pessoas que amam a Igreja querem ficar livres do problema, e o jeito para se livrar é estar informado".

Larry Sabato, diretor do Centro de Política da Universidade de Virgínia também está do lado da imprensa. Autor do estudo Alimentando o frenesi: como o jornalismo de ataque transformou a política americana, ele acredita que esta onda da imprensa é válida. "Sou católico, mas tornar a informação pública é algo que justifica completamente a abordagem da mídia".

Segundo Michael Paulson, do Boston Globe [20/4/02], é argumento recorrente que a mídia teria exagerado nos ataques à Igreja por não levou em conta que é estatisticamente pequena a quantidade de padres pedófilos. No entanto, não foi feita pesquisa científica para aferir a proporção do problema. Os números que existem não passam de especulação.

Problemas com o cinema

Outra exposição na mídia desagradou à Igreja: o filme italiano L?ora di religione (hora de religião), de Marco Bellocchio, que está no Festival de Cannes na mostra competitiva.

No enredo, um artista ateu se vê envolvido em campanha de sua família para que sua mãe, que morreu assassinada, seja beatificada. A Conferência Episcopal Italiana (CEI) fez duras críticas à obra, pois ela mostra hipocrisia no catolicismo e maquiavelismo nas relações familiares. "Bellochio não demonstra ter progredido desde 1964, quando debutou com De punhos cerrados. A destruição sistemática de valores familiares e religiosos segue sendo seu alvo preferido, mesmo no terceiro milênio", divulgou a instituição em avaliação.

Segundo a Variety [22/4/02], o diretor disse que reconhece o direito da CEI de desaprovar seu filme, mas não de questionar sua seleção para o festival francês. Ele afirma que sua intenção era contar uma tragédia familiar, não de denunciar a Igreja, como foi interpretado por alguns críticos católicos.