Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Bernardo Ajzenberg

CRÍTICA DIÁRIA

"Crítica Interna", copyright Folha Online (www.folha.com.br)

"18/03/2002

A simples reprodução das manchetes mostra uma segunda-feira, em todos os principais jornais, com noticiário pouco incisivo. Na Folha, um relato previsível do socialista Jean Ziegler: ?Brasil vive ?guerra social?, afirma enviado da ONU?. O ?Globo? praticamente não traz uma manchete, destacando como título ?Lula enfrenta radicais e insiste em alianças?. No ?Estado (?Ofensiva do PSDB tenta rearticular forças com o PFL?), uma formulação que não encontra respaldo concreto, detalhado, nas páginas internas. O ?JB? dá em manchete evento local, ocorrido na noite de sábado para domingo (?Vândalos destroem parque na Barra?). No fim de semana, duas interessantes reportagens: ?A verdadeira história da agonia da Transbrasil?, domingo no ?Estado?; e ?PFL ainda mantém 98% dos cargos no governo?, manchete do ?Globo?, também na edição de ontem.

Edição de sábado, 16 de março

Votação da CPMF

O jornal está devendo ao leitor um quadro com a composição partidária do Congresso (Câmara e Senado). Isso, para mostrar em números por que o voto do PFL é decisivo para a manutenção da CPMF. Ou, ainda, por que o apoio de apenas um setor desse partido já bastaria, junto com o PMDB, por exemplo, para aprová-la.

Sem avanço

Há um esforço no texto ?Dossiê faz relatos de Roseana nos anos 80? (Brasil, pág. A6) para se avançar no assunto. Mas, na verdade, o que se depreende é que o tal dossiê que teria sido entregue ao governador Garotinho era de uma inconsistência atroz. ?Traz basicamente relatos de fatos ocorridos na década de 80 e também informações sobre a vida pessoal de Roseana. Não apresenta provas das denúncias?, diz o texto, que, ao final, não acrescenta grande coisa ao que já se publicou na Folha e em concorrentes.

Publicidade lá e aqui

A reportagem ?EUA perdem US$ 10,6 bi em publicidade? (Dinheiro, pág. Especial B7) faz referência a números sobre o mercado brasileiro supostamente publicados pela Folha no dia anterior (?ontem?, diz o texto; no caso, sexta-feira). Consultei novamente a edição daquele dia e não encontrei esse material. Salvo engano de minha parte, faltou atualização na reportagem, que tem características (nada contra, claro) de ?gaveta?.

Pastel

A Panorâmica ?Air Canada bane Salman Rushdie de seus vôos? (Mundo, pág. A22) foi cortada pelo pé e ficou sem sentido no final.

Didatismo

A reportagem de capa de Dinheiro (?Anatel pode relaxar lei para TIM operar já?) não explica o que é o tal sistema GSM de telefonia, ainda inédito no país e que seria a grande atração apresentada pela Telecom Italia Mobile.

Edição de domingo, 17 de março

Para especialistas

Acho pouco recomendável, em especial num domingo, um texto de chamada tão cifrado quanto o apresentado ontem para a manchete (?Banco estrangeiro lucra mais no Brasil?). Simplesmente é impossível deixar claro em espaço tão reduzido o que são lucros líquidos, ativos totais, rentabilidade sobre patrimônio líquido. Faltou simplicidade, ou espaço.

Disparidade

A interessante reportagem ?Era FHC e programa de Serra se misturam na publicidade? (Brasil, pág. A4) afirma que o gasto com a nova campanha do governo pode chegar a até R$ 90 milhões. Já a coluna Elio Gaspari diz que, ?no chute?, o total ficará em torno de R$ 50 milhões. Não é uma diferença grande demais para constar num mesmo jornal?

PT

1) Na retranca ?Vitrine do partido, PT gaúcho expõe racha interno? (Brasil, pág. A14), senti falta de informações que dessem conta das divergências, que existem, entre Olívio Dutra e Tarso Genro. Fala-se em animosidade, mas não se mostra o ?pano de fundo? político do conflito nessa ?vitrine? petista;

2) O dossiê ?raio-x? do PT não mostra por que (e como é possível que) Lula ganha do partido um salário duas vezes maior (R$ 6.500) do que o teto salarial do próprio partido (R$ 3.200);

3) Um pequeno pastel cria certa confusão no 13o parágrafo de ?Lula busca alianças à direita e investe no petismo de resultados?: ?…Mas foi consolidada a estratégia delineada por Lula em 98 e agora consolidada (sic).?;

4) Faltou informar a formação acadêmica/profissional do presidente do Instituto Cidadania, Paulo Okamotto. Seria interessante, já que se trata de uma ONG que reúne em tese as cabeças mais pensantes do núcleo ligado a Lula.

PIB palestino

?Metade dos palestinos não tem emprego? (Mundo, pág. A22) afirma que o PIB palestino caiu 62%, indo de US$ 6,804 bi para US$ 4,246 bi. Ora, isso seria uma queda de 37,6%, certo?

Transbrasil

Mencionei no ?abre? desta crítica reportagem do concorrente local sobre a Transbrasil. Vale registrar que também a Folha traz (domingo) material relevante a respeito do caso, embora mais ?localizado? (?Procuradoria apura contas da Transbrasil?, Dinheiro, pág. B10), sobre contas da empresa no exterior.

Apagão em 2004

Para sustentar com mais consistência a reportagem ?Sem investimento, risco de apagão persiste? (Dinheiro, pág. B4), faltou informar qual é a necessidade (estimada) de energia para o país nos próximos anos (não me refiro à geração existente hoje, 75,4 mil MW, que consta do texto, e que passaria a 97,4 mil MW se todas as termelétricas forem erguidas). Se 50% das termelétricas não existirem, por exemplo, qual será o déficit em 2004?

Unicamp

A reportagem ?Candidatos querem atuar ?além dos muros? (Cotidiano, pág. C6) não informa quais são as propostas e as divergências básicas entre os cinco candidatos a reitor da Unicamp. Eles publicaram textos em ?Tendências/Debates? nos últimos dias. Por que não resumi-los na reportagem?

Desaparecidos

Em julho passado, o jornal deu reportagem semelhante a esta (?País não tem cadastro de desaparecidos?, Cotidiano, pág. C7), sendo a de agora voltada para o caso de crianças. À diferença do que se publicou corretamente naquela oportunidade, porém, não há, aqui, nenhum quadro do tipo ?o que fazer?. O serviço apenas reproduz telefones úteis.

Edição de segunda-feira, 18 de março

Qual é?

A reportagem ?FHC tenta salvar CPMF da crise com o PFL? (Brasil, pág. A7) não consegue informar qual é, afinal, a estratégia elaborada pela cúpula tucana, que passou a tarde ontem reunida no Alvorada, para tentar enfrentar a crise. O ?Globo? adianta a orientação de não se responder a Sarney, que fará discurso nesta semana, para evitar acirramento do ?clima? É só um item para tantas horas de reunião. A Folha (e a imprensa toda) fica devendo esta ao leitor.

Pastel

A última linha de ?Saúde financiou pesquisa eleitoral? (Brasil, pág. A6) está errada: ?Ontem, a reportagem tentou novamente ouvir o senador (Serra), mas o localizou (sic)?.

Comédia

Para quem não está acompanhando o caso, a Panorâmica ?Nash Jr. nega que seja anti-semita? (Mundo, pág. A11) acabou ficando incompreensível, para não dizer engraçada. Não dá para entender.

Idades

Faltaram as do atacante vascaíno e do técnico da seleção em ?Scolari, sinusite; Romário, dengue?? (Esporte, pág. D1). São casos obrigatórios, pelo ?Manual?, por se tratar de enfermidade.

Datafolha

O texto ?Paulistano se acha bem informado? (Cotidiano, pág. C1) afirma que para a maioria a epidemia da dengue não tem influência nenhuma sobre a intenção de voto para presidente. Ora, pelo quadro, somando-se os que dão muita importância (30%) e os que dão ?um pouco? de importância (17%), se chega a 47%. Os que não dão nenhuma são 48%. Se a margem de erro é de três pontos, como é possível afirmar que a maioria acha que a dengue não tem nenhuma influência sobre a intenção de voto? Faltou precisão no trabalho com os números?

15/03/2002

Folha (?Sob pressão, Israel começa retirada?) e ?Estado? (?EUA exigem que Israel saia já de áreas ocupadas?) mantêm em suas manchetes o conflito no Oriente Médio. O assunto não recebeu nem sequer uma chamada na capa do ?Globo?, cuja manchete é ?País economiza energia mesmo sem racionamento?. ?Governo tira Maranhão da rota da ONU?, eis o título principal no ?JB?. Só a Folha dá chamada para o acordo que aponta para o fim da Iugoslávia.

PFL versus PSDB

1) Didatismo: O abre de página ?PFL ameaça Serra com CPI do grampo e cassação de Fortes? (Brasil, pág. A4) informa que o PFL apoiaria uma ?CPI Mista? (assim, com caixa alta). Só os mais familiarizados com o Congresso sabem que se trata de uma comissão única agrupando deputados e senadores. Faltou explicar;

2) Diferenças: a) o texto ?Clientes da Fence incluem Supremo e Correios? (pág. A4) relaciona entre esses clientes da empresa de contra-espionagem a Eletrobrás. O texto ?Negri diz que queria evitar vazamento de dados? (mesma página) repete a lista mas troca essa empresa por Itaipu. Qual é o certo? Ou são dois nomes para uma única empresa? b) O primeiro texto dá conta de que o contrato entre o ministério da Saúde e a Fence é de 19 de dezembro de 2001 (dado atribuído ao dono da empresa). O segundo afirma que a empresa teria sido contratada há mais de um ano (dado confirmado pelo ministro). Já a reportagem de ontem diz que o contrato existe desde abril de 99. Como fica o leitor?

3) Sobre o célebre R$ 1,34 mi: a) o artigo pró-Roseana de Saulo Ramos hoje em ?T/D? (pág. A3) levanta questões de ordem processual que mostrariam irregularidade ou parcialidade na operação da PF na Lunus. O jornal precisa, creio, ir atrás, para deixar o leitor esclarecido a esse respeito; b) a Folha não deveria dar de barato que a questão do dinheiro foi resolvida com a nota de Jorge Murad. O ?Globo?, por exemplo, traz hoje novo desmentido ao marido de Roseana. Cabe uma investigação jornalística sobre a origem do R$ 1,34 mi (pode ser dinheiro de campanha, mas também pode ser propina, certo?);

4) Não vi na Folha reprodução, feita pelos concorrentes, das declarações dadas por Lula sobre o episódio à rádio CBN ontem. Não disse nada além do previsível, mas, como o presidenciável petista andava estrategicamente calado, teria sido jornalisticamente correto fazer o registro.

Acabamento

1) Faltou remissão para a coluna Mônica Bergamo na retranca ?Israelitas aplaudem Serra em SP? (Brasil, pág. A8);

2) Faltou a idade de José Gerardo de Abreu em ?Ex-deputado do Maranhão é condenado a 23 anos? (Cotidiano, pág. C6).

Oriente Médio

A edição da página A11 (?EUA pedem que Israel deixe área ocupada?) traz detalhamento do tal ?Plano Tenet?, elaborado para se chegar a negociações entre palestinos e israelenses, mas não informa de onde ele surgiu, tampouco a origem do seu nome. Por outro lado, continua a ser ?sonegada? ao leitor da Folha a íntegra da histórica resolução aprovada pela ONU, a qual, aliás, menciona esse plano e também o chamado relatório Mitchel.

Ocidente quem?

?Sérvia e Montenegro põem fim à Iugoslávia? (Mundo, pág. A13) traz formulação (tradução) infeliz no lide, com a seguinte formulação: ?Segundo o Ocidente, o acordo pode evitar um novo conflito…?. Quem é essesujeito?

UOL e BNDES

Ao pé da reportagem ?BNDES não integra conselho da Globo Cabo? (Dinheiro, pág. B6), reproduz-se uma nota do Universo Online segundo a qual ?o BNDES não é investidor do UOL?. Ela se refere a ?informação divulgada anteontem pelo BNDES de que o banco tem participação no UOL…?. Ora, na edição de ontem, quem afirmava no jornal que o banco tem participação no UOL era a própria Folha, assumindo como verdadeiro conteúdo de nota preparada pelo BNDES. O que aconteceu? E por que o esclarecimento divulgado hoje não gerou um Erramos, em nome da transparência?

Picuinhas?

Lide de ?Risco-país cai 2,65%, mas mercado ignora? (Dinheiro, pág. B9): ?O mercado financeiro teve um dia atípico ontem. Os investidores brasileiros se preocupavam com as picuinhas políticas e com a sucessão presidencial, enquanto os estrangeiros davam continuidade à onda de otimismo…?. O que são essas ?picuinhas?? São o caso Roseana? Ficou estranho, para não dizer ofensivo ao noticiário do próprio jornal. A não ser que o texto tenha assumido (o que seria igualmente esdrúxulo) o discurso de FHC, para quem tudo não passa de ?tricas e futricas?.

Nesse texto, aliás, menciona-se apenas como elemento comparativo que o risco-país da Argentina atingiu 4.848 pontos. Salvo engano, é um patamar elevadíssimo. Não mereceria reportagem?

Anso não fala

No décimo parágrafo de ?Andinho viu Toninho ser morto, diz parceiro? (Cotidiano, pág. C6), atribui-se a Anderson José Bastos, o Anso, declaração que ele não pode ter feito, pois já está morto. Pela lógica do texto, em vez de Anso deveria estar escrito Cris (Cristiano do Nascimento Faria), que foi preso anteontem e falou à polícia, certo?

Números

Na tabela ?A presença do mosquito da dengue? (Cotidiano, pág. C8), a distribuição percentual dos municípios de acordo com seu ?índice de infestação? deveria dar uma soma de cem pontos percentuais. Isso não acontece, nem em 2000 (48, 52, 11) nem em 2001 (36, 64, 24). Não deu para entender.

Esclarecimento

Recebo de Rubens Valente, do Painel, e de Ranier Bragon, via SR, o seguinte esclarecimento sobre o item 5 da nota ?PFL versus PSDB?, da crítica interna de ontem:

?A respeito da observação de hoje do ombudsman sobre o texto ?Fornecedor do Estado já foi sócio de irmão de Roseana?, esclarecemos que está correta a informação de que Teresa Murad é mulher de Fernando Sarney, conforme consta no texto. Ocorre que há duas ?Teresas Murad? famosas no Maranhão. A Teresa Murad à qual se refere o ombudsman, citada no concorrente local no dia 6 passado, é a outra, deputada estadual e mulher de Ricardo Murad, irmão de Jorge Murad.?

14/03/2002

Mesmo sendo passível de morrer no papel, a resolução da ONU sobre Oriente Médio tem peso histórico e é a notícia mais relevante do dia. Folha (?Conselho da ONU pede Estado palestino?) e ?Estado? (?ONU aprova Estado palestino e Bush faz críticas a Israel?), corretamente, dão manchete para o assunto. O ?Globo? privilegia evento ligado à série que vem publicando há dias sobre o poder Judiciário (?Filho de juíza que denunciou fraudes é vítima de atentado?). No ?JB?, a manchete é ?PFL imobiliza o governo?, com uma segunda manchete, sobre a dobra da página (?ONU propõe Estado Palestino?).

PFL versus PSDB

1) Em ?Manobra política? afetou Roseana, diz Bornhausen? (Brasil, pág. A4), aventa-se a possibilidade de José Sarney levar ao Conselho de Ética provas de atuação ilícita (arapongagem) por parte de Márcio Fortes (PSDB). Li em outros jornais que há idéia de se tentar, além disso, uma CPI. É isso mesmo?

2) Afirma-se em ?Aloysio diz que não teme depor no Congresso sobre ação da PF na Lunus? (pág. A4) que a PF voltou a afirmar que o Ministério Público do TO já assumiu a responsabilidade pela divulgação da foto do R$ 1,34 mi. Por que não ouvir sobre isso diretamente o MP do TO?

3) Não vi na Folha a informação de que, segundo o advogado de Roseana, Murad soube previamente da versão que iria ser dada de que o dinheiro era proveniente da venda de chalés (está no ?Globo?). A coisa pode se complicar ainda mais, pois isso desmente item da nota lida pelo ex-gerente do MA;

4) O ?Saiba mais? intitulado ?Escândalo levou presidente Nixon a renunciar? pág. A5) exige correções: a) o candidato adversário de Nixon na eleição de 72 foi George McGovern, não Hubert Humphrey; b) o envolvimento de Nixon no caso Watergate não foi descoberto pelos jornalistas por meio de uma fonte misteriosa (?garganta profunda?), mas sim como fruto de investigações que levaram meses, sendo esta fonte, claro, uma parte essencial desse trabalho; salvo engano, Nixon só aparece implicado diretamente no caso mais tarde, quando ele tenta acobertar a questão do dinheiro coletado para sua campanha pelas mesmas pessoas que estavam por trás da invasão da sede do Partido Democrata;

5) Sugiro rechecar a informação de que Teresa Murad é mulher de Fernando Sarney (?Fornecedor do Estado já foi sócio de irmão de Roseana?, pág. A14). Em reportagem que li no concorrente local no dia 6 passado, ela aparecia como deputada estadual do PSDB-MA e mulher de Ricardo Murad, irmão de Jorge, rompido com a família;

6) Continua a faltar didatismo. Por que a Folha não facilita a vida de seus leitores e não faz uma arte capaz de amarrar tantas faces existentes em todo esse episódio nas diferentes frentes de apuração (crise política, caso Sudam, ação do Planalto etc)?

Pastel

Ficou empastelado o texto da Panorâmica ?Martus deixa ministério e vai para o BID? (pág. A6). A versão da edição nacional está correta e traz informação que foi retirada na ?troca? a respeito de quem Martus irá substituir no BID.

Pesquisa eleitoral

A parceria do Bank of America com o Ibope (pág. A13 e coluna Janio de Freitas) suscita polêmica e só faz aumentar as responsabilidades do Datafolha, que tende a se isolar como instituto que atua independentemente.

Nesse sentido, creio que uma dúvida pode ser colocada em relação à própria pesquisa publicada ontem pela Folha: está correto antecipar uma pesquisa em relação a seu ?prazo normal?, para fazê-la no calor de uma situação visivelmente massacrante para um(a) candidato (a)?

O intervalo entre a pesquisa da Datafolha publicada ontem e a anterior foi o menor dentre os das últimas seis pesquisas publicadas pelo jornal. Essa foi também a única pesquisa realizada em apenas um dia. Ficou evidente que ela foi antecipada de alguns dias para captar a repercussão do caso Roseana.

Não tenho condições de fazer um julgamento técnico, mas politicamente e em termos jornalísticos creio que o mais adequado seria preservar intervalos regulares entre cada pesquisa, aconteça o que acontecer, e não fazê-las conforme o sabor dos eventos, conforme o surgimento desse ou daquele dossiê ou para dar conta da concorrência.

No caso presente, essa antecipação, em última instância, acaba servindo aos beneficiados com o massacre em curso. Tudo bem se fosse uma pesquisa específica (por exemplo, sobre se as pessoas acham que o dinheiro achado pela PF veio daqui ou dali), mas não como parte de uma série que mostra o histórico de intenções de voto para cada candidato.

Conselho da ONU

Duas observações:

1) Faltou a íntegra da resolução 1397 adotada pela ONU. É um texto curto que vale como documento histórico;

2) Não vi no jornal a declaração feita em discurso durante evento ontem à noite (65 anos da Congregação Israelita Paulista) por FHC favorável ao texto da resolução (está no ?Estado?).

Processos desaparecidos

O título ?Regionais maquiam sumiço de processos? (capa de Cotidiano) vai bem além do que a fonte afirmou (?pode haver uma maquiagem?, há ?desconfiança?.) Acho arriscado o jornal bancar tão claramente a afirmação sem demonstrá-la.

Nesse caso, aliás, senti falta do ?outro lado? do administrador da Vila Mariana, que é questionado, no texto, pelo delegado responsável pela investigação.

E a dengue?

Faltou na edição SP a notícia (dada na edição nacional) de que mais três casos de morte por dengue foram notificados no Rio. A epidemia continua grave, e a Folha não deveria deixar o assunto se perder, limitando-o a casos regionais (hoje, por exemplo, material só sobre São Paulo, na edição SP).

13/03/2002

A manchete da Folha (?Roseana cai a 15%; Serra sobe a 17%?) é objetiva e, ao que tudo indica, fulmina a candidatura presidencial da governadora do Maranhão. ?Globo? (?Marido de Roseana assume crimes para explicar dinheiro?) e ?Estado? (?Murad diz que dinheiro era de campanha e sai?) encampam o factual, enquanto o ?JB? (?PFL prepara adeus a Roseana?) procura antecipar os passos do partido de Bornhausen. Só a Folha e o ?JB? publicaram a (no mínimo) polêmica foto do palestino de ponta-cabeça sendo esfaqueado por outro palestino (veja nota).

Além do limite

Suponho que a decisão de publicar a foto principal da Primeira Página de hoje não tenha sido fácil. É sutil a fronteira (subjetiva) entre uma imagem que informa e expressa uma realidade cruel e uma outra que, além de fazê-lo, causa mal-estar, agride, horroriza sensibilidades.

A julgar pelas vinte e três manifestações que recebi hoje de manhã de leitores indignados, a publicação, na Primeira Página, da foto do palestino pendurado sendo esfaqueado por outro palestino ultrapassou a fronteira.

Sensacionalismo é uma palavra desgastada, mas ela foi utilizada com veemência por vários desses leitores. E foi essa a minha sensação, também, ao pegar o jornal logo pela manhã, além do mal-estar.

O alto valor jornalístico e simbólico da imagem é evidente, mas creio que ela ?casaria? melhor com a Folha se editada em página interna. Até porque retrata um evento marginal dentro dos atuais confrontos entre israelenses e palestinos.

Na Primeira, tal como está, transmite a sensação de que o jornal queria chocar, provocar, embrulhar estômagos.

Isso não é argumento forte nem garantia para nada, mas devo registrar que em pesquisa que fiz na internet não consegui encontrar nenhum outro jornal de qualidade, em diversos países, que tenha colocado essa foto em sua capa.

PSDB versus PFL

1) Publicada a versão oficial do marido (?Murad assume culpa pelo dinheiro e pede demissão?, Brasil, pág. A8), sobram dúvidas básicas que o jornal ne m sequer aborda, ainda que de forma interrogativa: qual é a origem do dinheiro (quais empresas fizeram a doação)? O que será feito dele agora (ficará sob guarda da Justiça)?

2) Não está ouvido pelo jornal o ex-banqueiro Andrade Vieira, mencionado em ?FHC também teve seu caixa 2, declara ACM? e em outras duas retrancas da pág. A9 como doador milionário para campanha de FHC. Há uma palavra dele na coluna Mônica Bergamo de ontem, mas o noticiário, hoje, claramente, exigia sua colocação de forma mais clara;

3) É patente a dificuldade da Folha, nessa cobertura, de cobrir os seus diferentes aspectos simultaneamente. Tenho a impressão de que o jornal avança, mas não de forma harmônica e sim aos trancos e barrancos. Hoje, por exemplo, nada traz sobre as investigações do caso Sudam/Roseana/Murad. Segundo o ?Globo? e o ?Estado?, no entanto, há novidades no caso do projeto Nova Holanda que reforçam sua ligação com fraudes.

Oriente Médio

1) Faltou um mapa da região e um ?histórico? para ajudar o leitor a entender os movimentos daquela que se considera, adequadamente, como ?a maior ação em territórios desde 67? (Mundo, pág. A10);

2) Não vi na Folha a notícia de que forças de Israel metralharam durante 15 minutos um hotel na Cisjordânia cheio de jornalistas. É informação da ?Associated Press?.

Dinheiro para a Globo Cabo

1) O vice-presidente das Organizações Globo se chama João Roberto Marinho, não José Roberto Marinho, como está no título de sub-retranca na pág. B5);

2) O texto ?Globo Cabo não era sólida, afirma BNDES? (Dinheiro, pág. B5) informa que as Organizações Globo têm 42% do controle daquela empresa. Tabela completa publicada pelo ?JB? dando a empresa como fonte indica que são 44,2% (no total, considerando ações ordinárias -56,7%– e preferenciais –34,6%). A verificar;

3) Tal porcentagem é importante, também, para se entender como ficaria, em tese, a nova situação societária da Globo Cabo com esse aumento de mais de R$ 1 bi em seu capital. O jornal não traz indicação a respeito.

Acabamento

1) Três títulos (sendo dois em abre de página e um em cinco módulos) trazem o verbo fazer, hoje, na edição SP de Cotidiano: ?SP faz convênio para levar trem…?; ?Hospitais fazem uso ilegal de verba do SUS?; ?Prefeita diz que fez convênio para combater a corrupção?. Tal repetição empobrece o jornal;

2) O evento merecia registro. Tudo bem. Mas creio que ficou em tom de release o texto da reportagem ?Entidade judaica comemora 65 anos? (Cotidiano, pág. C4). Logo no lide, por exemplo, o jornal assume como um fato objetivo que a entidade (Congregação Israelita Paulista) inicia hoje as comemorações dos seus 65 anos de existência ?disposta a reforçar o diálogo inter-religioso e a estreitar as relações entre a comunidade judaica e os demais segmentos da sociedade?. É subjetivo.

Assassinato

O ?Estado? traz reportagem extensa sobre o empresário libanês assassinado semana passada em São Paulo. Uma retranca dá conta, por exemplo, de que ele teria um terreno com o qual lucrou 300% em desapropriação por conta de obras do Rodoanel. A Folha, ontem, trouxe curioso texto a respeito dele publicado pelo ?Independent?, mas hoje praticamente esqueceu o assunto, reservando-lhe pequeno registro factual (enterro) em Panorâmica. É um caso que merece mais.

12/03/2002

A macroeconomia, sob diferentes formas, é o tema das manchetes da Folha (?Para FHC, FMI trata latino como ?analfabeto?) e do ?Estado? (?EUA negam aumento da cota de aço para o Brasil?). Admitindo na capa a ?barriga? perpetrada ontem em linha fina de manchete (suposta decretação de prisão preventiva de Jorge Murad e de Fernando Sarney), o ?JB? hoje muda a prioridade (?Outro tiroteio na rua amedronta cariocas?). Tal como fez no ano passado com o caso LBV, o ?Globo? mantém em manchete sequência sobre corrupção no Judiciário.

PFL versus PSDB

1) Há um desequilíbrio básico na edição de hoje sobre o assunto. Tudo se volta para as acusações existentes contra Roseana Sarney, enquanto nada existe de apuração jornalística quanto à aludida arapongagem que teria sido articulada por serristas contra a governadora maranhense -salvo uma negativa previsível e protocolar por parte do general Alberto Cardoso (Abin). Tal como na edição de ontem, vale a pena dar uma olhada no ?Correio Braziliense?. Ele traz hoje detalhes e nomes de como teria sido feita essa espionagem. A conferir;

2) A retranca ?PFL divulga que R$ 1,34 mi seria verba de campanha? (Brasil, pág. A4) tem um título impreciso. O partido enquanto tal não divulgou nada, como o próprio texto mostra. Ainda nesse texto, uma dúvida fica no ar: por que a versão de que o dinheiro seria para a campanha causaria ?menos danos legais? para Roseana, como o jornal afirma? Quais seriam os ?danos legais? no caso de outras versões?

3) Faltou didatismo em ?STJ recebe papéis apreendidos na Lunus para apreciação de Brindeiro? (Brasil, pág. A5). Parece, a partir dele, que o procurador-geral faz parte, organicamente, do STJ. Não se explica por que o tribunal tem de enviar a documentação a Brindeiro;

4) Uma arte que amarrasse as diferentes redes de empresas articuladas no caso Sudam/Roseana ajudaria o leitor a enxergar melhor as diversas frentes de apuração e investigação. Essa arte caberia bem na pág. A6;

5) Dois ?outros lados? tentaram ouvir a empreiteira Sucesso. Um (pág. A5) traz retorno dado por uma secretária de que o diretor estava viajando. O outro (pág. A6) afirma que o jornal não conseguiu falar com ninguém. É louvável a busca do ?outro lado?, lógico. Mas, nesse caso, revela-se uma falta de sintonia na condução das reportagens;

6) O ?Globo? publica interessante retranca sobre como a imprensa do Maranhão está dando divulgação ao caso. Não menciona, porém, como estará sendo dado o caso pelas TVs, inclusive a retransmissora da Globo local, que, salvo engano, ainda pertence a Sarney, situação semelhante à da Globo/ACM na Bahia.

11 de setembro

1) Tudo bem que o jornal já publicou na capa sábado foto do teste do chamado ?Tributo das Luzes?. O fato é que ontem houve a ?inauguração? oficial e a foto de hoje, em branco-e-preto (Mundo, pág. A9), não consegue dar uma idéia adequada da realidade. O acontecimento histórico, a meu ver, é suficientemente poderoso, em termos jornalísticos, para permitir que a Folha desse de novo, na Primeira Página, em cores, sob outro ângulo que fosse, o monumento virtual;

2) Não vejo propriamente um erro, mas creio que o título ?Bush busca atenuar unilateralismo? (Mundo, pág. A9) é hermético e valoriza um aspecto secundário da notícia. O principal –e que também está no lide– é que o presidente norte-americano anunciou uma ?nova fase? em sua campanha internacional antiterror. Pode ser retórica, mas tal anúncio não deve ser subestimado no momento em que o vice Cheney faz périplo ?agressivo? por mais de dez países.

Carta da menina

É curiosa a retranca ?Israelense de 5 anos pede paz a Arafat? (Mundo, pág. A10). Mas será que foi ela mesma que escreveu a mensagem enviada ao líder palestino, conforme registra o texto? Com essa idade? Não há, aí, alguma jogada de marketing ou algo desse gênero?

Colômbia

1) ?Partidos tradicionais perdem na Colômbia? (Mundo, pág. A11) qualifica a senadora e candidata a presidente Ingrid Betancourt como ?independente?. Independente em relação ao quê? Segundo a própria Folha já publicou, ela é do partido ambientalista Oxigênio, certo?

2) Um leitor chama a atenção para título equivocado (?Colombianos votam em massa em pleito legislativo?) e lide igualmente equivocado do texto sobre o assunto na edição nacional de ontem, segundo a qual ?os colombianos compareceram às urnas maciçamente… no que o governo viu uma demonstração de apoio…?. Como maciçamente, se houve uma abstenção de 57%? Corretamente, o texto e o título foram alterados para a edição SP. Pergunto: em nome da transparência, não seria necessária uma satisfação (Erramos) quanto à edição nacional?

Didatismo

O texto ?Acordo com a instituição já custou R$ 17 bilhões das estatais desde 98? (Dinheiro, pág. B1) não explica de onde esse número saiu. É um valor que se deixou de investir por causa das regras do FMI? Ou é valor que as estatais efetivamente investiram? Mas, nesse caso, de onde ele veio? Não deu para entender.

Guerra do aço

Claro que não é a coisa mais importante sobre o tema, mas continua obscura, no jornal, a posição adotada pela Coréia do Sul no caso da ?guerra do aço? (pág. B4). O abre afirma que aquele país entrou com queixa formal na OMC. Já duas retrancas na mesma página indicam que houve um acordo, uma revisão –o que permite, ao leitor, entender que a tal queixa não foi necessária. O caso guarda alguma semelhança com o Brasil. Falta esclarecer.

Números

O texto ?Brasil lidera captação de fundos de investimento na AL? (Dinheiro, pág. B6) afirma que ?os saques feitos nos fundos do país (Argentina) superaram em US$ 881,4 os ingressos de recursos?. São US$ 881, 4 milhões, não?

Curso de direito

Há uma imprecisão na Panorâmica ?Liminar do STJ suspende benefício para ampliação de vagas em curso de direito? (Cotidiano, pág. C5). Afirma-se que as chamadas faculdades isoladas não mais poderão ampliar vagas sem autorização prévia. Pergunto: autorização prévia de quem? Inicialmente presumi que se trata do MEC, mas, lendo os concorrentes, entendi que se trata da OAB. É isso mesmo?

Errei

Ao redigitar às pressas a maior parte da crítica de ontem devido a um problema ocorrido no micro que utilizo, acabei cometendo alguns erros de digitação pelos quais peço desculpas. Na nota ?Comentário?, onde se lia ?Secesso…?, leia-se ?Sucesso…?; e onde se lia ?março?, leia-se ?marco?. Na nota ?Última palavra petista?, onde se lia ?retrara?, leia-se ?retratar?. Em ?Fogo?, onde se lê ?…à reportagem?, leia-se ?…a reportagem?."