Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Bernardo Kucinski

ELEIÇÕES 2002

"Cartas Ácidas", copyright Agencia Carta Maior (www.agenciacartamaior.com.br), 18/09/02

"18/9/2002 – Como os tucanos pautam os jornais

Nesta campanha presidencial, em contraste com as anteriores, a mídia tem procurado aparentar mais isenção. Mas a candidatura oficial continua pautando jornais e jornalistas. Só que com mais sutileza. Nesta edição contamos três histórias exemplares de como os tucanos pautam os jornais. Uma história de falsa isenção, outra de intriga jornalística, e finalmente ao falseamento de dados nos títulos internos da ?Folha?. Tudo isso para eleger Serra.

As comparações incomparáveis da revista ?Época?

Época desta semana saiu com um grande pacote de comparação entre os três candidatos, com a aparência de isenção, mas habilmente formatado para enaltecer Serra e diminuir Lula. O pacote abre com uma grande reportagem sobre a herança de FHC, que já delimita a agenda com a pauta sempre sugerida pelos banqueiros e monetaristas: de que existiria um ?Espaço curto para mudar?. Logo abaixo do título, a revista estampa com destaque que ?uma herança pesada de desigualdades e arrocho financeiro limita o próximo governo e impõe propostas na mesma direção?. A premissa é importante para orientar o resto do pacote que tem a única finalidade de dizer que se todos os candidatos tem a mesma proposta e/ou terão que seguir uma mesma direção, a diferença está na competência e/ou experiência de cada um, ou seja, Serra é o melhor.

Seguem-se os perfis dos quatro principais candidatos, com o seguinte tratamento: Lula é a ?obstinação refletida?, com uma foto do candidato petista se enfeitando no espelho e um texto crítico, que basicamente semeia dúvidas sobre sua a capacidade de governar. Serra é o ?centralizador e metódico?, e ganha uma foto sensacional sentado numa cadeira estudando documentos, em contraste total com a foto de Lula. Ciro e Garotinho são apresentados apenas como dotados do poder de sedução pelas palavras. Em resumo: Lula é o obstinado, Serra o preparado, os outros dois, o demagogos.

Cada perfil é acompanhado de uma pequena entrevista com um intelectual que faz a crítica do candidato. As perguntas de novo apontam que Serra é o único preparado e Lula, o mais problemático. Uma das perguntas feitas sobre Serra ao cientista político Fabiano Santos é : ?Mas Serra não seria o candidato mais preparado??

A crítica a Lula é feita por Fábio Wanderley Reis. Época diz na abertura que o professor da Universidade Federal de Minas Gerais ?garante que Lula não pode dar certo?. Acontece que o professor Wanderley, mesmo criticando severamente Lula, nunca disse isso, conforme esclareceu ao jornalista Cláudio Cerri, que ficou intrigado com a peremptoriedade da declaração (que dificilmente sairia da boca de um cientista social) e apurou o assunto. A frase é uma criação da revista, uma espécie de cafagestagem editorial.

A história da intriga com a comunidade judaica

Há muitos meses, no dia 14 de março deste ano, o candidato a vice de Lula, senador José Alencar, respondendo a uma pergunta de Boris Casoy sobre a questão palestina, no programa ?Passando a limpo?, disse que sendo a população árabe maior que a judaica, talvez fosse o caso de o Estado de Israel mudar para outro lugar.

Mais de três meses depois, na sua coluna de 23 de junho, Cláudio Humberto explorou a frase infeliz de Alencar, especulando o que seria para a posição do governo na questão palestina se Lula morresse e Alencar virasse o presidente. No dia 19 de agosto, Alencar visitou a Federação Israelita e se desculpou pela gafe e pela ignorância, já que essa proposta de um território alternativo para o estado judeu foi feita e superada há mais de um século.

No dia 6 de setembro, um dia antes do Ano Novo judaico, Alencar enviou carta ao rabino Sobel, mais uma vez se desculpando pelo palpite infeliz e reconhecendo o direito à existência do estado de Israel. Sobel respondeu também por escrito, no dia seguinte, inocentando Alencar e pondo um ponto final no assunto. Mas para o comitê de Serra o assunto não morreu. E, com a ajuda da mídia, criaram uma intriga.

No dia 7 de setembro, quando começava o Ano Novo judaico e os judeus vão às sinagogas, o ?Estado de S. Paulo? publicou um grande artigo de Mauro Chaves em que ele transcreveu na íntegra todo o diálogo de Alencar com Boris Cassoy, tomando o cuidado de não dizer que aquilo havia acontecido seis meses antes. Deu como se tivesse acontecido na noite anterior.

O estrago da campanha Lula na comunidade judaica foi muito grande. No mesmo dia, o ombudsman da ?Folha? cobrou do seu jornal por ele não ter tratado do ?fato?, pois também acreditava que a fala de Alencar fosse do dia anterior. E a ?Folha? entrou na fofoca. Simultaneamente, o artigo de Mauro Chaves passou a ser circulado pela internet, sem referência nenhuma à troca de correspondência entre Sobel e Alencar.

A exploração eleitoral, com o risco de criar uma animosidade entre a comunidade judaica e correntes políticas incomodou tanto o rabino Sobel que ele emitiu um comunicado especial eximindo Alencar perante a comunidade judaica. Essa nota, obviamente, nenhum jornal publicou.

E a história do tracking eleitoral da ?Folha?

O jornal ?Folha de S. Paulo? inventou um sofisticado mecanismos para a manipulação da opinião pública a favor da candidatura Serra: o rastreamento diário de opinião por telefone. Usou como pretexto o desejo muito louvável de querer democratizar um tipo de informação que só circula em comitês de campanha. O problema é que a ?Folha? acabou por manipular grosseiramente o rastreamento a favor de Serra.

O rastreamento começou a ser publicado no dia 23 de agosto, sincronizado para coincidir com o início da propaganda gratuita pelo rádio e TV – então a cartada decisiva de Serra para desbancar Ciro Gomes. Mediria não apenas a intenção de voto, como também a eficácia e receptividade dos programas gratuitos e o grau de conhecimento do candidato. Uma ferramenta sob medida para monitorar dia a dia o sucesso da estratégia de Serra e, assim, contribuir para eventuais correções de rumo.

Contando coma subida de Serra, as manchetes com os dados do sucesso serrista, jogados eventualmente na primeira página, impulsionariam ainda mais essa estratégia. O jornal, assim, colocava-se a serviço direto do comitê Serra. Coincidência? Se fosse para medir a opinião pública, a ?Folha? já tem o DataFolha.

Acontece que o rastreamento se limita a um universo de apenas 54% de eleitores, os que possuem telefone fixo em casa, em geral situados nas faixas mais elevadas de renda e de escolaridade, e concentrados na região Sudeste. Era a faixa do eleitorado mais suscetível a reagir positivamente à propaganda gratuita de Serra, que viria em doses esmagadoras.

Logo no segundo dia, 24 de agosto, a ?Folha? passou a usar a palavra ?pesquisa?, na sua titulação do rastreamento, levando o leitor a confundir esses dados parciais com dados de uma pesquisa de opinião. No dia 4 de setembro, o jornal passou a omitir a palavra ?por telefone?. No dia seguinte, deu destaque a Serra, quando a notícia era Lula: ?Pesquisa já mostra Serra com 21% e Ciro com 20%?, foi a manchete.

Era a isso que a ?Folha? queria chegar. Só que não era verdade. Serra havia estagnado em 21% em quatro medidas seguidas. Quem havia subido, e muito nesse rastreamento, era Lula, de 35% para 39%. A Folha só começou a recuar da manipulação depois que o comitê de campanha de Lula escreveu uma carta formal de protesto. Mesmo assim, não resistem e vez ou outra o título do rastreamento do dia ainda enfoca fatos secundários, ignorando o principal."

"Sobre jingles políticos", copyright Folha de S. Paulo, 22/09/02

"Quem critica o marqueteiro Nizan Guanaes por ter-se apropriado da música da cerveja Bavária para tentar tirar do buraco a candidatura de José Serra talvez não saiba que essa é uma prática tão antiga entre nós quanto o próprio jingle político. A primeira peça do gênero apareceu na campanha de 1914. O presidente da República era o marechal Hermes da Fonseca, conhecido popularmente como ?seu Dudu? e cercado pela fama de ser um homem agourento. Às vésperas das eleições, o Rio foi tomado pela marchinha ?Ai Filomena? (composta por Carvalho de Bulhões sobre a melodia italiana ?Viva Garibaldi?), cujo estribilho passaria a ser repetido por todo o país: ?Ai Filomena, se eu fosse como tu/Tirava a urucubaca da careca do Dudu?. O jingle virou sucesso no Carnaval, mas revelou-se um fracasso nas urnas: o eleito acabou sendo o candidato oficial, Wenceslau Braz, com quase 90% dos votos.

Ao contrário de promover políticos, como acontece hoje, o objetivo da maioria dos jingles daquela época era destruir reputações. O presidente Artur Bernardes, por exemplo, não hesitava em mandar para a cadeia quem ousasse ironizá-lo com quadrinhas musicais, como aconteceu com o escritor mineiro Djalma Andrade, autor do jingle que fazia insinuações sobre a sexualidade do presidente: ?Quando à cova ele desceu/Inteiramente despido/Disse um verme para outro verme:/Não como, já foi comido?.

O jingle político só chegaria aos ouvidos das multidões, no entanto, depois do surgimento do rádio no Brasil, em 1922. De Washington Luiz (?Ele é paulista?/É sim senhor/Falsificado?/É sim senhor?) a João Goulart (?Na hora de votar em vou jangar/É Jango, é Jango/ É o Jango Goulart?), nenhum político importante deixou de recorrer ao jingle para tentar se eleger. Quando disputava uma cadeira no Senado, em 1978, FHC ganhou de Chico Buarque uma marchinha composta sobre a música ?Acorda Maria Bonita?: ?A gente não quer mais cacique/A gente não quer mais feitor/ A gente agora tá no pique/Fernando Henrique pra senador?. O ?cacique? e o ?feitor? eram alfinetadas disparadas contra Franco Montoro, dirigente do MDB e também candidato ao Senado. Com a proximidade da derrota de FHC, os montoristas refizeram com fino humor a letra do jingle: ?A gente não tem mais cacife/ A gente não tem mais mentor/A gente agora foi a pique/Fernando Henrique é só professor?.

Nada disso, contudo, se compara à malícia poliglota dos emedebistas
da cidade gaúcha de Estrela. Na campanha eleitoral de 1976,
MDB e Arena se engalfinhavam atrás dos votos do eleitorado.
Temerosos da ação da polícia (e confiantes
nas raízes germânicas da maioria da população
local), os militantes do partido de oposição na cidade
terminavam seus comícios cantando um jingle de rima rica…
em alemão: ?Ein, zwei, drei/Arena is schweinerei!?. Em bom
português, ?Um, dois, três/A Arena é uma porcaria?."

 

"Ataques na TV são saudáveis, diz pesquisador", copyright Folha de S. Paulo, 22/09/02

"Ao analisar o processo de decisão do voto, o cientista político Yan de Souza Carreirão, 46, da Universidade Federal de Santa Catarina, defende que, para a maioria do eleitor brasileiro, o voto não é ideológico.

?Há uma tese que diz que o eleitorado escolhe a partir de identidade ideológica: eleitores que se posicionam à direita votam em candidatos à direita; eleitores que se posicionam à esquerda votam em candidatos à esquerda. Isso vale mais para os eleitores de alta escolaridade?, afirmou Souza Carreirão, em uma referência ao cientista político André Singer, porta-voz do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e autor do livro ?Esquerda e Direita no Eleitorado Brasileiro?.

Com base em pesquisas, Singer sustenta a tese de que o eleitorado brasileiro faz uma distinção entre a direita e a esquerda na hora de decidir em quem vai votar.

Para Souza Carreirão, professor e doutor em ciência política, ?boa parte do eleitorado brasileiro não consegue definir o que é esquerda e o que é direita?.

Dessa forma, ele defende que há outras duas variáveis importantes, levadas em consideração pelo eleitor na hora de definir o voto: o desempenho do governo e a avaliação de qualidades dos candidatos, como honestidade, experiência administrativa e credibilidade.

Esses dois pontos, na análise de Souza Carreirão, influenciam tanto eleitores de alta escolaridade quanto os de baixa escolaridade.

O cientista político avalia ainda que os ataques entre os adversários no horário eleitoral na TV são uma forma legítima de influenciar o processo de decisão.

?O horário eleitoral não pode ser só para cada um falar maravilhas sobre si próprio. O eleitor também tem de ter uma visão contraditória?, afirmou o cientista político. A troca de farpas pode influenciar negativamente o eleitor, analisa Souza Carreirão, ?se a acusação for feita sem nenhuma base de sustentação ou se forem usadas coisas muito pessoais?.

Souza Carreirão fez uma análise do processo de decisão do eleitor nas eleições para presidente em 1989, 1994 e 1998, que consta do livro ?A Decisão do Voto nas Eleições Presidenciais Brasileiras?, que será lançado pela Editora da Fundação Getúlio Vargas nesta semana. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Folha – Como o eleitor define seu voto para presidente?

Yan de Souza Carreirão – A decisão de voto dos eleitores é relativamente complexa e depende de algumas variáveis, como a escolaridade do eleitor. Há uma tese que diz que o eleitorado escolhe a partir de identidade ideológica: eleitores que se posicionam à direita votam em candidatos à direita; eleitores que se posicionam à esquerda votam em candidatos à esquerda. Isso vale mais para os eleitores de alta escolaridade.

Para os eleitores de baixa escolaridade, isso não se confirma. O eleitorado de baixa escolaridade, boa parte do eleitorado brasileiro, não consegue definir o que é esquerda e o que é direita. Ideologia conta mais para os eleitores de alta escolaridade.

Folha – De que outra forma o nível de escolaridade influencia o voto?

Souza Carreirão – A faixa de escolaridade serve para definir o voto na questão referente à ideologia. As outras variáveis, principalmente os fatores de avaliação do desempenho do governo e de avaliação dos atributos dos candidatos, não têm muitas diferenças entre eleitores de alta e baixa escolaridade. O [candidato José? Serra [PSDB?, talvez por atributos pessoais, deveria estar numa situação melhor da que ele está hoje. Mas ele tem o peso do governo.

Folha – Então são essas variáveis que pesam para o eleitor em geral?

Souza Carreirão – O que pesa para esses eleitores, independentemente da escolaridade, é a avaliação do desempenho do presidente em exercício e de certos atributos dos candidatos, como honestidade, experiência administrativa e credibilidade.

Folha – Isso significa que o peso da ideologia na definição do voto é pequeno.

Souza Carreirão – Ela tem um peso relativamente pequeno. Perde espaço para a avaliação que o eleitor faz do governo.

Folha – Isso faz com que o processo de decisão no Brasil seja diferente do de países com melhores índices de escolaridade?

Souza Carreirão – Nível de escolaridade menor tem uma correspondência com o nível de recebimento de informação política. A lógica [em outros países? não é muito diferente. Mas, no Brasil, o volume de informações para tomar a decisão pode ser menor. Isso depende também dos meios de comunicação.

Folha – Com base na análise do sr., o candidato oficial perde perante o eleitor por ser governo?

Souza Carreirão – Ele tem uma certa faixa do eleitorado que potencialmente iria votar nele e que hoje avalia bem o governo. Mas essa faixa é minoritária. Se o governo estivesse bem, se a avaliação estivesse mais ou menos igual à de 98, tenho convicção de que o Serra estaria melhor. Provavelmente estaria em primeiro lugar.

Folha – Mas não podemos negar que o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso ainda é um puxador de votos.

Souza Carreirão – Eu não acredito nisso. Desde 89, o brasileiro leva em consideração a economia. Serra tem uma história de vida, é um técnico competente. Isso passa credibilidade para uma parcela do eleitorado. Por outro lado, o fato de ele ser uma figura-chave do governo, que está sendo avaliado negativamente em alguns aspectos centrais da campanha, como segurança e emprego, fragiliza a credibilidade das propostas dele.

Há uma relação entre os atributos do candidato e a avaliação do governo. Tem gente que acha que ele não é um cara simpático, que não tem carisma. Mas eu não acho que essas varáveis sejam importantes. O eleitorado não é assim, emocional ou intuitivo. Ele tende a prestar atenção em características dos candidatos que são relevantes para um governante.

Folha – Beleza e simpatia não ajudam a definir o voto?

Souza Carreirão – Não há evidências disso. É possível que as pessoas fiquem constrangidas em dizer que levam isso em consideração na hora de definir o voto.

Folha – Como o sr. explica o percentual de eleitores de que votariam em Ciro Gomes (PPS) por causa de Patrícia Pillar?

Souza Carreirão – Isso é uma transferência para o candidato: ?Se ela é uma pessoa assim e está casada com ele, ele também deve ser assim?. E não [acontece? porque ele é bonito ou simpático.

Folha – Até que ponto o marketing influencia na decisão?

Souza Carreirão – A gente não consegue construir uma imagem do nada. Acho que certas ações do marketing tem impacto quando há base de sustentação. Quando não há, fica difícil criar um candidato do nada.

Folha – Os marqueteiros, com base em pesquisas qualitativas, criam candidatos palatáveis ao eleitor.

Souza Carreirão – São coisas diferentes. Uma coisa é a defesa de programas ou de propostas mais próximas do que o público quer. Isso não é programa de marketing é programa político.

Folha – O candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, não mudou para agradar o público?

Souza Carreirão – A mudança do Lula e do PT não é uma mudança simplesmente definida pelo Duda Mendonça. Claro que há uma tendência do PT nesse sentido, estamos em campanha, mas o PT já vinha dando sinais de ter perdido a radicalismo e de ter se aproximado do centro. É uma decisão política e muito clássica da esquerda: fazer concessões ao centro para ampliar o eleitorado.

Folha – Na opinião do sr. então não há a criação de personagens/ candidatos?

Souza Carreirão – Acho que há alguma coisa nesse sentido, mas que tem um limite. É difícil criar personagens, principalmente quando os candidatos já têm uma história conhecida pelo eleitor.

Folha – Quando o eleitor decide o seu voto, ele leva em consideração os ataques entre os candidatos na televisão?

Souza Carreirão – Isso depende muito da credibilidade dos ataques e do nível em que eles se dão. O que Serra fez foi mostrar o Ciro falando. O que aconteceu? Ciro caiu, e o Serra não se prejudicou com isso. Já impacto dos ataques que o Serra fez contra o Lula é mais difícil de prever. As pesquisas vão mostrar se houve estrago tanto para o Lula quanto para o no Serra, que pode criar uma imagem de truculento, que quer chegar ao poder de qualquer jeito.

Quem está sendo atacado tem de mostrar isso para o eleitor, que capta melhor as mensagens repetidas. Por isso o horário eleitoral é importante. Para oficiar um contraditório. Agora cabe ao Lula se defender, dizer que são baixarias, montagens, etc. O eleitorado pode achar até truculento, mas vai avaliar mais negativamente se alguém mostrar isso para ele.

Folha – O sr. concorda com a tese de que o eleitor não gosta de ver baixaria na propaganda eleitoral?

Souza Carreirão – Eu não acho que a chamada propaganda negativa seja ruim. Depende muito do grau em que se dá, se a acusação é feita sem nenhuma base de sustentação ou se são usadas coisas muito pessoais. Cabe aos candidatos mostrarem os defeitos dos outros. O horário eleitoral não pode ser só para cada um falar maravilhas sobre si próprio. O eleitor também tem de ter uma visão contraditória.

Folha – Então até agora os ataques são legítimos?

Souza Carreirão – Em geral, não houve nada muito grave ainda. Eu acho que essa coisa do [deputado? José Dirceu (PT) foi a mais forte. (Nesta semana, o programa na TV de Serra mostrou um discurso de Dirceu, de 2000, em que o petista diz que os tucanos têm de ?apanhar nas ruas e nas urnas?. Depois mostrou uma imagem do governador Mário Covas sendo agredido por grevistas)."