Thursday, 10 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

Bruno Garcez

QUALIDADE NA TV

GAROTOS-PROPAGANDA

"Personalidades vendem o que não compram", copyright Folha de S. Paulo, 15/4/01

"Um célebre galã, Nuno Leal Maia, aparece no vídeo falando de seus problemas sexuais, Nicete Bruno e Paulo Goulart exibem orgulhosos a casa que adquiriram em um consórcio, Nair Bello mostra seus conhecimentos de internet. Não é enredo da próxima novela das oito, mas sim situações vividas por esses atores em comerciais que estão sendo veiculados nas TVs.

Como os atores não parecem estar interpretando personagens, mas sim eles próprios, realidade e ficção se confundem nesses anúncios. Os protagonistas dizem que não é bem assim. ?Não vivi nenhuma situação parecida, só emprestei minha imagem como ator. Meu papel é esse mesmo, fazer com que as pessoas acreditem e busquem um médico?, diz Nuno Leal Maia, que participa da campanha institucional da Pfizer, fabricante do Viagra, sobre disfunção erétil.

Paulo Goulart, que juntamente com a mulher, Nicete Bruno, emprestou sua imagem ao consórcio Sopave, que oferece uma casa e um automóvel, diz ter usufruído do produto anunciado.

?É um depoimento. Comprei um carro com eles. Temos uma preocupação pública, procuramos conhecer o produto?. O casal pode até estar passeando no veículo do comercial, mas Paulo conta que a casa que anunciam no ar como sendo deles não lhes pertence na vida real.

Nair Bello, que surge em cena consultando o site de leilões virtuais iBazar (www.ibazar.com.br), diz nada entender da rede mundial de computadores. ?No computador, só sei jogar paciência, mas não vejo problema. Sei que é um site muito acessado e digo quais são os produtos que ele têm, não preciso entender?, afirma.

O publicitário Washington Olivetto, presidente da W/Brasil, diz evitar, nos comerciais produzidos por sua agência, o testemunhal (jargão publicitário que designa anúncios narrados na primeira pessoa). ?É uma saída fácil que subutiliza o potencial do ator. O ideal é usar o talento deles em prol de idéias, e não utilizar o famoso só por causa de sua fama.?
Atualmente, a W/Brasil produz uma campanha para o Unibanco com Luiz Fernando Guimarães e Débora Bloch. ?Eles vivem personagens. É o talento cômico deles que conta?, diz Olivetto.

O humor também foi o objetivo buscado por Fernando Luna, diretor de criação da agência Grey, que produziu, entre outros, os comerciais do iBazar com Nair Bello e os do cartão do Banco Santander com Pedro Cardoso, ambos apresentados na primeira pessoa.

?Usamos a veia humorística desses atores. O fato de Nair ser idosa e não entender de internet conta a favor. Quem vê pensa: se ela pode, eu também posso. Ainda que falem na primeira pessoa, não buscamos o tom de testemunhal. Ele não diz: ?Oi, aqui é Pedro Cardoso?. Muitos não têm idéia clara de que ali está o Pedro e a Nair Bello, mas sim o cara atrapalhado da TV e a velhinha maluca das novelas?, afirma Luna.

Ainda que não faça como Emerson Fittipaldi fez em um comercial do passado, dizendo ?eu recomendo?, Pedro indaga ao telespectador se já tem o cartão dele. Mas a imagem ao fundo não é a do cartão do astro global, mas sim o de um certo Marcelo P. Camargo.

Fazer propaganda de um produto que pouco tem a ver com o estilo de vida do astro pode causar no mínimo desconfiança. Por exemplo, alguém realmente acredita que o surfista Kadu Moliterno, entre uma temporada e outra no Havaí, pensa em adquirir um imóvel como o que ele anuncia no bairro de Campo Limpo, na periferia de São Paulo?

Ou que a sofisticada Vera Fischer, que mora em um condomínio de luxo na zona sul do Rio, cogitaria se mudar para a Barra Funda (bairro próximo ao centro de São Paulo), onde se localiza um edifício do qual ela é garota propaganda?

Desgaste

Convites para anunciar produtos chegam aos montes para protagonistas de novelas das oito. Especialmente, como no caso de ?Terra Nostra?, quando a novela ultrapassa 40 pontos de audiência (cada ponto equivale a 80 mil telespectadores na Grande São Paulo).

Um dos protagonistas da trama, o galã Thiago Lacerda, atualmente no ar com a campanha da Intelig, anunciou na época da novela desde o site Starmedia até o popular Supermercados Guanabara, do Rio de Janeiro. Segundo executivos do meio publicitário, Thiago acabou tendo sua imagem saturada e, ao se ligar a um supermercado popular, deixou de receber convites de anunciantes mais sofisticados por um bom tempo.

Alguns de seus colegas de ?Terra Nostra? se precaveram contra a saturação. Foi o caso de Ana Paula Arósio e de Maria Fernanda Cândido. ?Perto do que solicitam, Maria Fernanda até que faz pouco?, diz Ina Sinisgalli, empresária da atriz e diretora da Ford Celebrities, que administra a imagem de nomes como Raul Cortez, Cristiana Oliveira e Dalton Vigh.
No ano passado, a atriz protagonizou as campanhas da Intelig, Wella, Nossa Caixa, ?free shops? de aeroportos e L’acqua di Fiori.

No início da carreira, Maria Fernanda anunciou a cachaça Pirassununga 51, mas hoje se nega a falar de bebidas ou cigarros e a posar para revistas masculinas.

A rejeição ao cigarro não se estende a todos os atores cuja carreira Ina Sinisgalli administra. Roger Gobeth, de ?Malhação?, por exemplo, já fez anúncios para os cigarros Free sem ser fumante."

FUTEBOL NA TV

?Grandes do Clube dos 13 vão receber mais da TV?, copyright Folha de S. Paulo, 11/4/01

"Os cinco clubes de maior torcida do país receberão cotas maiores de direitos de televisão e placas publicitárias no Campeonato Brasileiro deste ano.

A medida foi aprovada ontem à tarde em reunião de uma comissão dos Clube dos 13 na sede do Flamengo, no Rio.

Flamengo, Corinthians, Vasco, Palmeiras e São Paulo, que fazem parte do Grupo 1 (elite), ganharão mais dinheiro por terem maior exposição na mídia, afirmou à Folha um participante da reunião, que não quis se identificar.

Compareceram ao encontro representantes de Flamengo, São Paulo, Corinthians, Vitória-BA, Atlético-MG, além do presidente do Clube dos 13, Fábio Koff. Os clubes que disputarão a competição foram divididos em três grupos para receber os direitos de transmissão e de placas. O Grupo 2 é composto pelos outros 15 integrantes do Clube dos 13. O terceiro é formado pelos oito times que não fazem parte da entidade -o Brasileiro-2001 terá 28 participantes.

O Vasco, que na semana passada anunciou ter deixado o Clube dos 13, foi mantido na elite como se permanecesse na agremiação. Isso porque a entidade tem contrato com a TV Globo até 2005 e o clube carioca pertencia a ela quando da assinatura do acordo.

Dentro dos três grupos, todos os clubes vão receber cotas iguais. Ainda não foi decidido como será feita a divisão percentual do total dos direitos pagos pela TV Globo entre os grupos 1, 2 e 3. A intenção da comissão deve ser ratificada na plenária do Clube dos 13, que acontecerá no dia 20, em São Paulo. De acordo com dirigentes presentes à reunião de ontem, a proposta está praticamente aprovada.

A comissão aceitou na reunião de ontem sugestão do Flamengo, que defendeu a redução gradual do número de clubes do Campeonato Brasileiro até 2004.

Neste ano, seis equipes serão rebaixadas para a segunda divisão e duas subirão para a primeira. Assim, em 2002 haveria 24 participantes, dos quais quatro cairiam, abrindo espaço para dois da série inferior. Em 2003, a competição terá 22 clubes. Desses, quatro seriam rebaixados e dois ascenderiam à elite do futebol nacional.

No Brasileiro 2004, se chegaria, finalmente, ao número ideal de clubes: 20. A partir de então, o número de times rebaixados será o mesmo que o de equipes promovidas à primeira divisão: duas.

No Brasileiro-2001, o Clube dos 13 defende a classificação de apenas oito clubes para a fase final, quando haveria um mata-mata. A partir de 2002, a idéia da comissão é a de que a competição seja disputada em dois turnos em que todos jogam contra todos. Os campeões dos turnos se enfrentam em uma decisão.

Segundo o presidente do Flamengo, Edmundo Santos Silva, que também preside a comissão, o maior avanço obtido com a reunião de ontem foi o estabelecimento de uma ?posição forte? da entidade até 2005.

?Houve avanço, porque nos antecipamos às decisões da entidade maior, a Confederação Brasileira de Futebol, e teremos uma posição já formada para discutir essas questões.?"

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