Saturday, 04 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Cartas, consideração e respeito

MÍDIA & LEITOR

Edileuson Almeida (*)

A seção Carta do Leitor é levada tão a sério em muitos veículos da mídia impressa que chega a ocupar espaços nas primeiras páginas, inclusive ao lado dos editoriais. A devoção e o respeito ao que o leitor tem a dizer (discordar, criticar ou mesmo solidarizar-se) é, por que não, excelente termômetro de que dispõe um veiculo de comunicação para inteirar-se sobre o que realmente provoca no receptor.

Olhar os gráficos de venda e os percentuais de audiência não é suficiente. Corre-se o risco de agir de forma excludente, deixando de lado as minorias, ignorando suas notícias e opiniões. Afinal, o método mais antiga de avaliação continua sendo a crítica, seja ela positiva ou negativa.

A mensagem não pode mais simplesmente ter no veículo o agente ativo e no receptor o ator passivo. O usuário não é um receptáculo passivo, ele interpreta a mensagem segundo sua experiência, seu meio, suas necessidades e seus desejos. Não é uma vítima da mídia, mais um usuário. A mídia se constitui num dos sistemas nervosos do corpo social. Sob tal argumento, deve se expor ao conhecimento de seu principal sustentáculo, qual seja, o leitor.

A gaveta ou simplesmente a lixeira não deve ser o destino reservado ao pensamento e à opinião de quem não se contenta apenas em receber a notícia passivamente. Juarez Bahia anota que quem escreve não deve se portar como o dono da última verdade, outras depois dela hão de surgir, por isso é preciso estar consciente do velho princípio de que "toda ação provoca uma reação".

Resumo e publicação

A opinião do leitor que "interage", podemos assim dizer, com o veículo, exercendo seu direito de opinar, criticar, concordar e sugerir sobre a atuação de seu informativo preferido, merece destaque especial. É, aliás, a seção Carta do Leitor uma das rubricas mais lidas. Trata-se, portanto, de atender a uma das funções primordiais da mídia, a de fornecer um fórum ? que precisa reconhecer e legitimar o direito ao contraditório. Também as emissoras de rádio e até de televisão já consagram tempo às cartas e à livre opinião. Muitos veículos chegam a publicar o correio eletrônico de seus funcionários, para ampliar os canais de manifestação do leitor, ouvinte e/ou telespectador.

Quando não publicada, a carta do leitor deve no mínimo ser respondida. O leitor que se dirige ao jornal merece resposta rápida e individualizada, destacam os manuais de redação. Uma carta não pode deixar de ser publicada porque contraria o dono, o editor ou o jornalista. "A seção deve publicar amostra representativa das diversas tendências de opinião apresentadas pelas cartas recebidas", recomenda o Manual da Folha de S.Paulo.

O conteúdo da carta do leitor deve merecer consideração e respeito. O pretexto de adequar a carta ao ralo espaço disponibilizado por alguns veículos ao "nobre" leitor, sustentado no argumento de democratizá-lo (o espaço), reserva à redação o direito de resumir a opinião e garantir a publicação. O que o veículo não deve jamais fazer é "alterar o sentido das cartas dos leitores; se forem feitos cortes, indicá-los", aconselha Claude-Jean Bertrand (A deontologia das mídias, 1999).

(*) Jornalista em Boa Vista (RR), mestre em Ciências da Comunicação (ECA-USP)