Tuesday, 07 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Chances desperdiçadas

THE WASHINGTON POST

Em coluna de 18/8/02, Michael Getler analisa a cobertura jornalística do debate sobre a eventual guerra entre Estados Unidos e Iraque. Para ele, o Washington Post tem apresentado bons trabalhos individuais de repórteres, mas falha ao não oferecer um balanço da cobertura já realizada pelo jornal, deixando de expor aos leitores os diferentes pontos de vista em relação ao assunto.

Segundo o ombudsman, nas matérias do Post o governo geralmente ganha a manchete, enquanto vozes divergentes ? embora importantes ? são tratadas ligeiramente no final do texto. É o caso da declaração de Dick Armey, líder da maioria no Congresso e importante político conservador, alertando que um ataque não-provocado contra o Iraque violaria a tradição americana e o direito internacional, além de comprometer o apoio de outros países à intenção de Bush de depor Saddam Hussein. O jornal, no entanto, só cobriu a história dois dias depois, na forma de um parágrafo no final da matéria que abria com Donald Rumsfeld alegando que políticas anteriores contra o Iraque não diminuíram a ameaça.

No começo do mês, o Comitê de Relações Internacionais do Senado organizou dois dias de audiências públicas destinadas a debater as implicações da guerra. O governo não participou do evento, que trouxe especialistas para expor opiniões sobre os desafios políticos, econômicos e militares de tal estratégia. Embora o jornal tivesse um repórter presente, a cobertura foi reduzida a poucos parágrafos no final de matérias com manchetes sobre outros assuntos. Isto limitou qualquer esforço do público de tentar se informar sobre visões diferentes, o que preocupou muitos leitores e o ombudsman, que lembra que mesmo lideranças republicanas e conservadoras como o ex-conselheiro de segurança nacional Brent Scowcroft e os senadores Chuck Hagel e Pat Roberts levantaram assuntos que receberam pouca atenção da imprensa.

Questões cruciais como a legalidade da ação militar e o papel do congresso no ataque têm se limitado às páginas de opinião, em vez de merecer uma investigação aprofundada dos repórteres. Estes são exemplos de como o Post tem desperdiçado boas oportunidades de cobrir visões contrárias às defendidas pelo governo, algo "desconcertante", nas palavras de Getler.