Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Cidade Biz

TV RECORD

"Rede Record tira Luciano do Valle da Band", copyright Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 30/05/03

"A Rede Record confirmou o que o mercado já esperava e contratou o comentarista Luciano do Valle. O comentarista serve de reforço ao time da emissora do bispo Edir Macedo, que acaba de acertar a transmissão da série B do Campeonato Brasileiro com a Globo, detentora dos direitos.

A Record já colocou à venda cinco cotas de patrocínio para a série B, a cerca de R$ 3 milhões cada. Para a série A, foram vendidas seis cotas, a R$ 7,5 milhões. A série B este ano desperta a atenção por conta dos times rebaixados em 2002, em especial, o Palmeiras.

Neste sábado, às 21h30, o canal transmite o compacto da partida entre Palmeiras e CRB de Alagoas. E, no domingo, às 15h30, exibe Paraná e Flamengo pela série A, menos para a Grande São Paulo e Curitiba, onde será transmitida a partida de Santos e São Paulo.

Luciano do Valle estava na Band, onde chegou a ter forte presença, com programas próprios, mas atualmente apenas narrava eventos esportivos.

A Record anuncia oficialmente sua contratação na próxima segunda-feira, em sua sede, na Barra Funda, em São Paulo. Na ocasião, estarão presentes o superintendente artístico e de programação, Luciano Callegari, e o diretor de esportes, Eduardo Zebini."

SEXY HOT / TV

"Carrinho por trás", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 31/05/03

"Antes que me acusem de fescenino assaz, me explico. Sou profissional. Precisei instalar, por enquanto em regime de degustação, um canal Sexy Hot no meu cafofo. Vivo disso, quer dizer, vivo da busca insaciável e semanal de escrever sobre o que vai e vem, entra e sai, tudo que se mexe na telinha. O leitor poderia esperar que eu escrevesse sobre a estréia de O Jogo, na Globo. Lamento. Dormi. Doze sujeitos investigam entre doze suspeitos quem matou três pessoas de uma mesma família. A idéia é boa, o roteiro esperto, mas estão lá de novo, diretamente do laboratório de clones global, todos aqueles participantes com o perfil físico, mental e tatuado desses jogos. Foi aí que comecei a dormir. Quando essa gente se misturou com os atores, certamente conseguidos no grupo amador da cidade onde o programa está sendo gravado – foi aí que entreguei os pontos e, espero que o diretor de RH do site não esteja lendo, dormi.

Já dormi também vendo Sexy Hot. Mas tem sempre uma moça que geme, grita, leva uns tabefes e eu me ponho acordado anotando sacadas televisivas.

Eu tenho uma amiga que, com o aparelho sem som, é capaz de reconhecer a nacionalidade dos filmes pornôs do canal apenas pelas imagens e a performances dos casais. Não me deu detalhes, mas garante que há diferença entre uma produção francesa e outra russa que vão muito além das técnicas de depilação. Nem com som ligado eu chegaria a tanto. O mundo geme parecido e, além dos grunhidos, não há muito mais texto nos filmes. Os casais do Sexy Hot, japas ou brasileiros, arfam onomatopéias em uhhhs e ahhhs de histórias em quadrinho, mas praticamente não falam durante o sexo – e aí começam os problemas.

Eu acho que o Sexy Hot não bota um centímetro de qualidade para dentro da vida sexual de sua platéia. Alguns dos assinantes podem até usar o canal como uma opção mais barata ao Viagra. Mas a partir daí, estimulados e capacitados tecnicamente para realizar o ato, eles repetem o roteiro, cheio de furos, dos filmes. Todas as 34 posições possíveis num ato sexual são apresentadas o dia inteiro, mudando-se apenas o plano da câmera. Isso pode dar alguma idéia ao da poltrona. Mas sexo, feito o slogan do Marcelo Rossi sobre Deus, é mais.

Eu estou com o poeta. Sejamos pornográficos, docemente pornográficos. Os performers do Sexy Hot dão sempre a impressão de que não estão ali para escrever poemas eróticos e sim a versão humana daquele filme onipresente na concorrência, o canal Mundo Animal, em que o leopardo caça e estraçalha a gazela. Eles, como os bichos filmados na selva africana, também não se conhecem e, como acontece no meio do mato, só lhes restam a violência dos desconhecidos.

O Sexy Hot vende a idéia, pela própria necessidade de ação que tem um canal de televisão, de que o ato sexual não é a arte do encontro – mas o grande ruído dos antagônicos. Porradaria pura. Nenhuma mulher sofre mais na televisão, nem mesmo a velhinha diante da neta na novela das oito da Globo, do que as que aparecem sacudidas no Sexy Hot. O bicho pega, no mau sentido da palavra. Como os dois, às vezes três, quatro protagonistas dos embates, acabaram de se conhecer no estúdio, os filmes, que deveriam celebrar a mais radical das sacanagens, começam prescindindo da mais excitante de todas elas – a intimidade.

O Sexy Hot, por mais que de vez em quando possa dar algumas boas idéias, deseduca. Por trás e pela frente de todas essas mulheres que aparecem nos jornais, revistas e televisões reclamando que namorados e maridos não têm calma nessa hora, que eles não têm curiosidade em se debruçar pacientemente sobre seus pontos de prazer – no meio dessa problemática está o aprendizado masculino através do filme pornô. Homem bom, segundo o Sexy Hot, é aquele que chega esculachando geral, tá ligado? Mete bronca, direto ao assunto. As preliminares são muito lentas, não dão ibope. ?Vamos passar rápido ao próximo quadro?, grita o diretor no estúdio.

Semana passada foi exibido um filme em que o casal fez de tudo um pouco, e talvez tenha até incluído um número a mais na contabilidade das 34 posições relatadas acima – mas beijar na boca que é bom nem pensar. Bolinar-se mutuamente com a fricção das palavras, misturar um pouco de sexo oral com sexo verbal – isso então é fora de cogitação no pegapracapá pornô.

Filmes como os do Sexy Hot consolidam um personagem que costuma ser motivo de deboche nas conversas entre mulheres da vida real. É aquele sujeito que não pára quieto, sai de uma posição para a outra e desta já está mandando a parceira virar e partir para aquela outra, mas com uma perna abaixada e a outra levantada. Ufa! Aeróbica dez, prazer zero. Em cinema chama-se over acting. A super atuação dos canastras, que exageram no espalhafato inútil das movimentações, de braços, pernas, quadris, para esconder sua incapacidade de botar sentimento na interpretação. As atrizes dos filmes vão na onda. Com caras e bocas fingem sentir que é boa a dor que deveras sentem – e confundem a platéia.

Enquanto as vagabas do Sexy Hot sussurram nas retinas machas que o caminho do orgasmo delas é a pancadaria, o carrinho por trás, o jogo bruto pelo meio, posições de cabeça pra baixo e o fuque-fuque violento, as mulheres da vida real pedem que eles venham justo pelo avesso. Mais carinho, abraço, fantasia, beijo na boca e pegada sensível. Não há nada mais frio, e eu assino embaixo, por cima e de ladinho, do que o sexo quente coreografado na Sexy Hot."

CINEMA & TV

"A telona que cabe na telinha", copyright O Estado de S. Paulo, 1/06/03

"Central do Brasil: mais de 1 milhão de espectadores. Cidade de Deus: 3 milhões. Carandiru: 3,5 milhões. Tamanha ?audiência? que o cinema nacional vem conseguindo nos últimos anos tem enchido de cobiça os olhos da TV. De olho no sucesso da indústria cinematográfica nacional, a TV agora tem buscado garimpar na telona profissionais e frutos para ela. São atores, produtores, diretores e roteiristas que conquistaram êxito no universo dos longas-metragens e garantiram assim espaço em rede nacional.

São casos como o do escritor João Emanuel Carneiro, roteirista premiado de Central do Brasil, que estréia ainda este ano como autor de sua primeira telenovela, Da Cor do Pecado, próxima trama das 7 da Globo.

Carneiro, que já trabalhou em mais de 13 longas-metragens, acredita que os passos largos que o cinema nacional vem dando atualmente têm aberto as portas para muita gente de talento e, com isso, chamando a atenção de outros veículos. ?Participei como colaborador em algumas obras na TV, como Os Maias, mas essa é a minha grande chance?, fala Carneiro. ?Mandei o roteiro da novela para a Globo sem muita pretensão e acabei sendo chamado por eles. Tenho noção de que a linguagem e o ritmo de cinema e TV são totalmente diferentes, mas vou tentar levar um toque de minha personalidade em roteiros para a novela.?

A trama, que está sendo supervisionada por Silvio de Abreu, trata de um romance polêmico envolvendo um jovem milionário branco e uma negra pobre. Cenário: a Bahia de Todos os Santos. A atriz Thaís Araújo é a mais cotada para o papel de protagonista. A direção será de Denise Saraceni.

?O desafio agora é desenvolver uma história em que se prenda a atenção do espectador em cada capítulo, muito diferente do cinema, em que o ritmo é outro. Estou aprendendo a escrever com a maneira de pensar da TV?, fala Carneiro.

Ritmo diferente – Diferença no ritmo de trabalho do cinema para a TV também foi sentida pelo ator Werner Schünemann, que estreou em horário nobre vivendo Bento Gonçalves na minissérie A Casa das Sete Mulheres. Schünemann saiu diretamente do mercado cinematográfico do Sul do País para virar galã – rótulo que ele rejeita, apesar de ser um dos campeões de cartas da Globo – em rede nacional de TV. Traz na bagagem quase 25 anos dedicados à sétima arte: trabalhou como diretor, produtor e ator em uma carreira de quase 30 filmes no Rio Grande do Sul. Entre os longas de destaque de que participou está Netto Perde Sua Alma, filme em que despertou a atenção do diretor de núcleo da Globo Jayme Monjardim, que o convidou para viver Bento Gonçalves na TV (papel que inicialmente seria de Antônio Fagundes).

?Fazia tempo que eu queria trabalhar em televisão, mas esperava uma boa chance, em que começasse cercado por gente que me ensinasse muito, e foi isso que aconteceu?, conta Schünemann. ?Monjardim me descobriu no cinema e acho muito saudável esse movimento que permite uma permeabilidade entre os meios?, continua. ?Essa é uma das provas do grande momento que o cinema brasileiro está vivendo. Na era Collor, o cinema nacional não tinha mais nenhuma participação no mercado de espectadores, hoje já tem quase 10% do mercado e continua crescendo. Isso acaba enriquecendo a indústria da comunicação como um todo, abre espaço para filmes diversificados, novas origens, linguagens, vertentes e talentos.?

Schünemann foi fisgado de vez pela telinha : assinou contrato fixo com a Globo e já está cotado para integrar o elenco da próxima novela das 8 da Globo, Celebridades, de Gilberto Braga.

Fama – No banco de titulares da emissora também está o ator Wagner Moura. Com longa carreira em teatro, Moura conta que foram suas participações em filmes de destaque como Abril Despedaçado, Deus É Brasileiro e Carandiru – nesse, Moura vive o sufocante Zico, um traficante dominado pelo vício – que acabaram abrindo as portas para seu primeiro trabalho na TV, Pedrinho, filho de Bino (Stênio Garcia) na volta do seriado Carga Pesada. O ator, que já foi escalado pela Globo para a segunda fase do seriado e para o quadro Homem-Objeto, que volta ao ar em julho, no Fantástico, conta que sua participação no cinema ainda tem chamado mais a atenção do público que suas cenas na TV, algo difícil de se imaginar anos atrás.

?As pessoas me param na rua e perguntam: você não é aquele cara do Carandiru??, fala Moura. ?É engraçado e bom ver a repercussão que o cinema nacional tem alcançado.?

Olhos de diretor – Para o diretor Sérgio Machado, que dirigiu a microssérie Pastores da Noite, co-produção da Videofilmes com a Globo, a busca da TV no mercado do cinema é uma experiência enriquecedora para os dois lados, já que oxigena a criação na TV e abre espaço para gente que já estava aí há um tempão, mas não tinha chance nas emissoras. Mesmo assim, o diretor, que trabalhou na equipe de Abril Despedaçado, não vê essa procura como um movimento das redes em geral e sim como o ato isolado de um ou outro diretor de TV.

?Acho que esse movimento de busca no cinema é experiência comum para diretores como Daniel Filho e Guel Arraes, que sempre gostaram de apostar as fichas nos dois lados, não vejo ainda como uma tendência?, diz Machado.

?O cinema é apenas uma forma de projeção para esses profissionais que estão lutando no mercado por uma chance faz tempo?, completa uma das sócias da O2 Filmes, Andréa Barata, que produziu Cidade de Deus.

Diretor de Núcleo na Globo e maior incentivador desse casamento cinema/TV, Guel Arraes acredita que não é só o cinema que tem formado uma nova geração de atores, diretores e produtores muito talentosos. Segundo ele, isso tem ocorrido de um tempo para cá indistintamente, em diversos meios: comerciais, teatro, curta-metragens, o que tem facilitado a passagem de um veículo para outro. Arraes, que foi o mediador da parceria fechada pela Globo no ano passado com algumas das principais produtoras do País (O2, Videofilmes, Creatura e Casa de Cinema), acredita que, mais que o funcionamento da vitrine de profissionais, um fator importante é que a produção para os dois meios (cinema e TV – como o Auto da Compadecida e Invenção do Brasil) pode ser intensificada. ? Essa é uma maneira de apoiar produções mais bem cuidadas para a TV, dando-lhes mais permanência e repercussão lançando-as no cinema, e forma de popularizar filmes com vocação para o grande público?, fala Arraes.

Arraes tem razão sobre o fato de essa migração estar acontecendo indistintamente entre diversos meios, mas é bem verdade que o cinema, que antes absorvia grifes da TV para atrair bilheteria, nunca abasteceu tanto a TV como agora. A televisão nasceu no Brasil com profissionais de rádio, principalmente, e de teatro, que se mantém ainda como excelente fonte de revelações para a mídia eletrônica. A busca de profissionais no cinema, agora, só endossa o quanto a produção nacional nesse território melhorou, de uns anos para cá, e o quanto a TV brasileira piorou, nesse mesmo período, a ponto de delegar à sétima arte a tarefa de credenciar novos talentos."