Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Cláudia Croitor


GLOBO vs. SBT

"Processo é ?rotina? para Globo e SBT", copyright Folha de S. Paulo, 4/11/01

"A disputa judicial que pode tirar definitivamente do ar ?Casa dos Artistas?, o ?reality show? com ?famosos? exibido pelo SBT desde o último domingo -e que bateu, pela primeira vez na história, a audiência do ?Fantástico?-, não é a primeira contenda entre Globo e SBT sobre direitos autorais.

As duas emissoras já se enfrentaram pelo menos duas vezes nos últimos anos e, em ambas, a Globo saiu vitoriosa. Uma das disputas envolveu o quadro ?Olimpíadas do Faustão?, que estaria sendo copiado pelo ?Domingo Legal?, do SBT, apresentado por Gugu. Em 97, o juiz José Eduardo Marcondes Machado proibiu o SBT de ?transmitir jogos ou brincadeiras semelhantes? ao quadro do programa de Fausto Silva na Globo.

A outra disputa ocorreu por causa do programa ?Pequenos Brilhantes?, do SBT, que seria uma cópia do ?Gente Inocente?, exibido pela Globo. A emissora de Silvio Santos também foi proibida de exibir o programa, no ano passado.

Além disso, ambos os canais enfrentam, separadamente, diversas ações judiciais relacionadas a direitos autorais.

Contra a Globo, há, por exemplo, processo da família do ?trapalhão? Zacarias, morto em 1990, que acusa a emissora de reprisar o programa ?Os Trapalhões? sem pagar direitos de uso da imagem.

A família do comediante Ary Leite, que morreu há 15 anos, é outra que processa a Globo, reivindicando os direitos autorais sobre o quadro ?Saraiva?, exibido no programa ?Zorra Total?, que teria sido criado pelo humorista nos anos 50.

Além disso, existem processos contra a emissora por uso, na novela das sete, do nome ?As Filhas da Mãe?, registrado pelo dramaturgo Ronaldo Ciambrone, e pela utilização, em programas, de músicas que teriam sido compostas pelas irmãs Maria Cristina e Maria Cecília Cardoso, ex-funcionárias da própria Globo.

Há também duas escritoras que planejam processar o canal por plágio de seus roteiros, que teriam sido enviados à emissora e utilizados, sem autorização, nas novelas ?Terra Nostra? e ?O Clone?.

O SBT também tem sido acionado com frequência por acusação de plágio de programas. O canal está respondendo a processo movido pela empresa norte-americana Sandy Frank Film Syndication, que o acusa de copiar a atração ?Name that Tune? para criar o ?Qual É a Música??. O empresário Jacques Glaz, que se diz ?ex-amigo? de Silvio Santos e criador da fórmula do ?Show do Milhão?, também processa o dono do SBT. Segundo a Folha apurou, a empresa inglesa detentora dos direitos do programa ?Who Wants to Be a Millionaire?, que teria inspirado o ?Show do Milhão?, é outra que estaria processando o SBT.

O programa que originou a disputa entre Globo e SBT na última semana não pode ser considerado uma cópia exata do ?Big Brother? que a Globo está produzindo, já que o original é feito com anônimos. Mas ?Casa dos Artistas?, que deixa 12 pessoas ?famosas? (neste caso, é preciso classificar Marcos Mastronelli como famoso e Alexandre Frota e Núbia Olive como artistas) confinadas em uma casa por 45 dias, é inspirado no ?Big Brother VIP?, formato que pertence à empresa holandesa Endemol.

A empresa, há alguns meses, formou uma joint venture com a Globo para a produção do programa e entrou na Justiça contra o SBT junto com a emissora.

Em ?Casa dos Artistas?, os participantes -Supla, Taiguara Nazaré, Leandro Lehart, Patricia Coelho, Nana Gouvêia, Matheus Carrieri, Alessandra Iscatena, Mary Alexandre e Bárbara Paz completam o grupo- são monitorados por câmeras e não podem ler jornal ou ver TV. Eles seriam eliminados aos poucos, e o vencedor ganharia R$ 300 mil.

Se no global ?No Limite? alguns participantes chegaram a posar nus depois de ficarem momentaneamente famosos, em ?Casa dos Artistas? esse parece ser quase um pré-requisito para participar.

Das mulheres, apenas Patrícia Coelho nunca tirou a roupa para alguma publicação. Entre os homens, pelo menos dois, Alexandre Frota e Mateus Carrieri, já posaram nus. Por enquanto.

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"?Big Brother? já teve cópia global", copyright Folha de S. Paulo, 4/11/01

"A Globo já havia produzido uma versão disfarçada de ?Big Brother? antes de se associar à empresa holandesa Endemol (detentora dos direitos do programa) para fazer a versão ?oficial?.

No ano passado, a emissora gravou o quadro ?Sufoco?, para o ?Domingão do Faustão?, no qual seis pessoas passavam dias em uma casa de vidro (construída no parque Villa Lobos, em SP) cercada por câmeras, filmadas 24 horas. Os participantes enfrentavam gincanas e eram eliminados. O quadro foi criado para tentar aumentar a audiência de ?Faustão?, mas não conseguiu e foi tirado do ar.

Atualmente, a Globo afirma que tinha autorização da Endemol para fazer a ?adaptação? de ?Big Brother?, mas não foi isso que a emissora disse na época.

Em entrevista à Folha em novembro de 2000, dias antes da estréia do quadro, seu diretor, J. B. de Oliveira, o Boninho, afirmou que a atração não era inspirada em ?Big Brother?: ?Não é um ?Big Brother?, que tem 16 participantes em uma casa que não é de vidro. ?Sufoco? faz parte de uma tendência mundial de ?reality shows?. A Endemol até está interessada em usar esse projeto?."

 

"O Brasil é uma imensa ?Casa dos Artistas?", copyright Folha de S. Paulo, 4/11/01

"Destinada a orientar os candidatos sobre as preferências dos brasileiros, uma pesquisa de opinião pediu aos eleitores que expusessem seus sentimentos positivos e negativos sobre idéias, instituições e pessoas. Entraram na lista de avaliação Guga, PT, PSDB, Fernando Henrique Cardoso, Jader Barbalho, FMI, seleção brasileira de futebol, socialismo, privatização e Pedro Malan. O resultado foi devastador.

Os entrevistados manifestaram seus sentimentos, atribuindo a cada item notas de zero a dez, balizas do máximo da rejeição e do máximo da simpatia. Uma nota cinco, portanto, indica uma posição neutra -nem favorável nem desfavorável. Apenas o tenista Guga conseguiu estar acima do nível regular -atingiu a marca de 73% de sentimentos positivos.
Nenhum dos demais, do PT a Fernando Henrique, passando pelo PSDB e por Pedro Malan, chegou sequer aos 40% de positivo. Logo depois de Guga, vêm o PT (37%), a seleção brasileira de futebol (22%) e Fernando Henrique (19%). O PSDB obteve 10%, a privatização, 9% e, na lanterna, ficou Jader Barbalho, com 3%. Nivelam-se, assim, por serem vistos mais do lado negativo que do positivo.

É claro que a desinformação geral e a baixa escolaridade exercem influência sobre a distância entre o mundo oficial e o do cidadão comum. Mas as preferências captadas pelo Instituto Vox Populi revelam que os eleitores, independentemente de ideologias e de partidos, associam a coisa pública -e nela incluída, por motivos óbvios, a seleção brasileira- a sentimentos negativos.

Assim se entende, entre outras razões, por que todas as pesquisas indicam baixo interesse pela sucessão presidencial. Não se conhecem sequer os nomes dos presidenciáveis, quanto mais o perfil dos candidatos.

De acordo com o Datafolha, José Serra é, entre os ministros, o mais conhecido pelos brasileiros. Mas, segundo o Instituto Vox Populi, poucos sabem que o ministro é candidato e, menos ainda, conhecem sua história: a maioria imagina que Serra seja formado em medicina.

A disputa judicial sobre o direito de exibição do programa ?Casa dos Artistas?, ocorrida na semana passada entre o SBT e a Rede Globo, reforça a sensação de que o interesse público está cada vez mais voltado ao privado.

É provável que, nos últimos dias, nenhum fato tenha chamado mais a atenção do brasileiro médio do que o impedimento da apresentação do programa ?Casa dos Artistas?, criado por Silvio Santos para ultrapassar o ibope da Rede Globo, com seu ?No Limite?.

No domingo, a Rede Globo sentiu mais um golpe na audiência. Com sua notória genialidade para conseguir pontos no ibope, Silvio Santos enfiou numa mesma casa um punhado de artistas, obrigados a viverem juntos por 45 dias diante de câmeras. O programa ?No limite? investe na exposição da vida de anônimos -em nítida desvantagem.

Um juiz resolveu acolher ação da Rede Globo que acusou a ?Casa dos Artistas? de plágio; o SBT promete reagir, até porque já viu que pode tirar muito dinheiro das indiscrições flagradas naquela casa.

Ambas as atrações fisgam a audiência, de um lado, porque o ser humano sente um ancestral prazer na invasão da privacidade alheia e, de outro, no caso brasileiro, porque o interesse por personagens públicos é reduzido, o que reforça a bisbilhotice em torno dos seres, digamos, privados.

Basta ver nas bancas a profusão de revistas do estilo de ?Caras? ou ?Quem?, dedicadas, essencialmente, às separações, encontros, desencontros e comemorações de ?famosos?.
Vivemos em uma época de exacerbação da futilidade e do narcisismo. Dissipam-se os valores coletivos, sobressai um pragmatismo individualista. A política passa a ser vista como algo distante, mesquinho e corrupto, sem conexão com o cotidiano. O sucesso é um valor encarnado por personagens que mostram resultados. É o caso de Guga, por exemplo.

No Brasil, tantos escândalos consecutivos por tanto tempo cercaram a vida pública de uma auréola de lama. A cobertura política da imprensa transformou-se, em larga medida, na reprodução de declarações oficiais, na investigação de denúncias e na focalização do ?show?. Os marqueteiros fazem dos candidatos produtos pasteurizados, papagueando promessas e ilusões. Nesse ambiente putrefato, ganham menos destaque as ações administrativas bem-sucedidas -e há muitas delas, que têm revelado talentosos administradores públicos, em particular nos municípios.

O sucesso, enfim, não é coletivo, mas individual. É como se fôssemos uma grande ?Casa dos Artistas?.

PS – Há efeitos colaterais positivos. Cada vez mais pessoas se interessam pelos assuntos de suas cidades, trazendo a política para o cotidiano. E o mais importante, como mostrou uma pesquisa do Datafolha na semana passada, é que muita gente se sente atraída pelo chamado terceiro setor e procura desenvolver trabalhos comunitários. Como desconfiam da intermediação, os brasileiros, para verem o resultado de seu esforço, preferem ajudar diretamente escolas, creches, orfanatos, centros de saúde, asilos, hospitais. Aí está a face mais contemporânea e saudável da política brasileira. E o discurso dos candidatos, de todos eles, não sai da mesmice."

    
    
                     
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