Sunday, 05 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Clóvis Rossi

GOVERNO LULA

“O verdadeiro poder”, copyright Folha de S. Paulo, 2/05/03

“Na entrevista que concedeu a Mônica Bergamo, ontem publicada, o consultor Antoninho Marmo Trevisan fez a melhor síntese não apenas dos riscos que corre o governo Luiz Inácio Lula da Silva mas de como é o jogo político hoje, no Brasil e no mundo.

Resumo: o capitalismo financeiro é hoje predominante. ?E quem tem renda se aparelha melhor?, diz Trevisan. Tradução: há uma hegemonia cultural e midiática das opiniões de gente do mundo financeiro.

Essa avaliação serve para o mundo todo. No Brasil, especificamente, ?o aparelho? financeiro é usado, diz ainda Trevisan, ?para defender juros altos como âncora de um processo não-inflacionário?.

?Economistas de bancos repetem isso todos os dias e geram uma verdade absoluta?. Mas, termina o raciocínio, se se seguir esse conceito rigidamente, como o governo Lula vem fazendo até agora, ?quebra todas as empresas do Brasil?.

Não sei se Trevisan concorda, mas é evidente que essa hegemonia cultural e midiática do setor financeiro tem uma segunda consequência: o governo, qualquer governo, opta por adotar políticas que não ofendam o poder real e, por extensão, a sua capacidade de gerar críticas virulentas à qualquer inovação.

É mais fácil prejudicar ou deixar de atender assalariados e marginalizados em geral do que banqueiros, como é óbvio.

Daí vem a ênfase absoluta em reformas como a previdenciária e a tributária, que, não obstante a necessidade de ambas, ?sozinhas, não mudarão a face injusta de nossa sociedade?, como disse o presidente da Câmara, João Paulo Cunha, um petista que parece ainda não ter perdido o contato com a realidade e, por isso, não fica repetindo as ?verdades absolutas? que Trevisan critica.

Trevisan ainda confia em que Lula vá virar o jogo. Pode ser. Mas a cada dia fica mais difícil, porque é mais cômodo jogá-lo de acordo com as verdades dos poderosos.”

 

GRAMPOS NA BAHIA

“Delegado da PF ouve jornalistas sobre caso dos grampos na Bahia”, copyright O Estado de S. Paulo, 5/05/03

“Se o destino do senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) ainda não está praticamente definido no Senado, esta semana será decisiva na esfera policial. O delegado federal Gesival Gomes dos Santos vai ouvir na quarta-feira, os jornalistas Luiz Cláudio Cunha e Weiller Diniz, na revista ?IstoÉ?, que acusaram ACM de ser o mandante dos grampos clandestinos feitos pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia, em torno de políticos e do casal de advogados Plácido Faria e Adriana Barreto, ex-namorada do senador.

Com o depoimento dos repórteres, Gomes poderá ter elementos para indiciar ACM como mandante.

Se os dois jornalistas confirmarem na PF o depoimento que deram no Senado, a situação de ACM irá se complicar, já que serão pelo menos sete pessoas acusando o senador, que poderá ser indiciado por crime de mando, pelo fato de ser o principal suspeito de ser o mandante da escuta clandestina. Além disso, também poderá se enquadrado por ter utilizado as gravações ilegais.

ACM deverá ser convidado a depor a partir do dia 15 de maio, em lugar, dia e hora que determinar, pelo fato de ter foro privilegiado.

Gomes ainda espera a primeira prova concreta dos grampos clandestinos, que seria uma única fita onde existem diálogos de adversários políticos do senador, como os deputados Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e Nelson Peregrino (PT-BA) e do ex-deputado Benito Gama. A gravação estaria em poder de um outro jornalista, que a teria recebido do próprio ACM. O delegado vai pedir mais 30 dias para concluir o inquérito, que ocorrerá só no início de junho.

Até agora, com exceção do casal de advogados e dos políticos grampeados pela polícia baiana, nenhuma outra pessoa ouvida pela Polícia Federal citou o nome de ACM como possível mandante da escuta clandestina. No depoimento dado ao Ministério Público Federal na Bahia, a ex-secretária de Segurança Pública do Estado, Kátia Alves, negou qualquer envolvimento com os grampos, apesar de eles terem sido realizados em sua gestão.

Kátia era considerada uma das testemunhas importantes dentro do inquérito pelo fato de ser ligada ao senador, de quem recebeu a indicação para tornar-se secretária, após desvendar um assalto ao apartamento de ACM. Ela ainda deverá ser ouvida na PF e indiciada.”