Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Comoção contra anúncios

MÍDIA & ÁLCOOL

Dois meses atrás, a NBC se tornou a primeira rede de TV americana a aceitar comerciais de bebidas destiladas. Mas protestos de congressistas e organizações não-governamentais fizeram a companhia recuar: as reclamações podem levar a uma audiência no Congresso para elaborar projeto de lei banindo estes anúncios da TV.

Em 1996, a organização de comerciantes de bebidas destiladas suspendeu o boicote voluntário à propaganda televisiva de seus produtos. Desde então, foram veiculadas centenas de anúncios em estações de TV locais e a cabo, mas nenhum em rede nacional aberta até 15 de dezembro: neste dia, a NBC transmitiu comercial da Smirnoff, incentivando a escolha de um designated driver, alguém do grupo que permanece sóbrio na festa para poder dirigir.

Stuart Elliot [The New York Times, 12/2/02] explica que, antes de a NBC aceitar propaganda de uma marca especifica, o patrocinador deve veicular comerciais centrados em temas de responsabilidade social ? como beber moderadamente ? durante quatro meses. O nome Smirnoff neste comercial aparecia apenas brevemente.

As reclamações foram tantas que desestimularam outras emissoras ? ABC, CBS e Fox ? a aceitar tais anúncios. A NBC passou a exibi-los ap[os as 23h30, e assim mesmo não está sendo veiculado durante a Olimpíada de Inverno.

Para Joseph A. Califano Jr., presidente do National Center on Addiction and Substance Abuse da Universidade de Colúmbia, "a auto-regulamentacão não está funcionando". "Precisamos de legislação ou regras da Federal Communications Commission." A FCC, que regula a TV, no entanto, não pretende intervir, já que apenas um conselheiro, Michael Copps, foi contra a decisão da NBC.

INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

A prática parece estar crescendo: cientistas aceitam comissões polpudas da indústria farmacêutica para assinar artigos que não escreveram aprovando novos remédios. Antes comum em suplementos médicos patrocinados pela indústria, o procedimento pode ser constatado mesmo em grandes revistas do setor, revela Sarah Boseley [The Guardian, 7/2/02]: em alguns casos, os falsos autores nem têm acesso aos dados da pesquisa, apenas a tabelas fornecidas pela companhia; outros faturam dando palestras sobre relatórios escritos por terceiros. Fuller Torrey, diretor-executivo da Stanley Foundation Research Programmes, fez pesquisa que revela que psiquiatras britânicos ganham, em média, US$ 2 mil para participar destes simpósios, enquanto seus colegas americanos arrecadam US$ 3 mil.

Marcia Angell, ex-editora do New England Journal of Medicine, escreveu no ano passado que, ao publicar artigo sobre drogas antidepressivas, as ligações financeiras do autor com o fabricante ? declaração exigida de todos os colaboradores ? eram tão extensas que precisaram ser divulgadas no sítio de internet. Marcia decidiu escrever sobre o fato e descobriu, ao conversar com pesquisadores, que pouquíssimos não tinham ligações com as fabricantes de antidepressivos ? alguns dão consultoria ou integram o conselho diretor de companhias cujos produtos estudam. Pesquisadores conhecidos emprestam seu nome a relatórios principalmente nas áreas de cardiologia e psiquiatria, em que as drogas desempenham papel importante no tratamento.

Em setembro, o Journal uniu-se ao Lancet e a outros 11 jornais médicos para denunciar as companhias que impõem restrições ao acesso de cientistas aos dados. Sarah Boseley comenta que a promoção do antidepressivo Prozac, nos anos 90, coincidiu com o declínio do financiamento estatal à pesquisa, deixando os cientistas dependentes das companhias farmacêuticas para patrocinar seu trabalho. O que deu à indústria controle sem precedentes sobre os dados. Agora, a responsabilidade dos cientistas pelo conteúdo dos artigos está sendo cobrada em muitos processos nos EUA, movidos por parentes de pessoas que se suicidaram ou mataram outras enquanto estavam sob tratamento de drogas da classe do Prozac.