Thursday, 10 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1309

Convidado trapalhão

MONITOR DA IMPRENSA

DAN RATHER

Dan Rather, o mais antigo âncora da TV americana, segundo Howard Kurtz (Washington Post, 4/4/01) foi a estrela da noite numa festa do Partido Democrata. Os convidados, na realidade doadores, pagaram US$ 1.000 para participar do encontro com o jornalista, que afirmou não saber do objetivo do evento quando aceitou a proposta.

A porta-voz da CBS News declarou que, obviamente, não é permitido que profissionais da emissora participem de eventos de arrecadação de fundos para partidos políticos, mas disse não duvidar da honestidade do âncora. Ele afirmou ter simplesmente aceito o convite de um antigo amigo, Will Wynn, da Câmara da cidade de Austin, no Texas, para discutir a cobertura da mídia nas eleições do ano passado. Mas assumiu a responsabilidade por não ter averiguado que tipo de evento seria. "Quando cheguei lá, me dei conta do que estava acontecendo (…). Podem me culpar".

O encontro reuniu 150 pessoas na casa de Wynn, sendo uma delas a filha de Rather, Robin, que pensa em concorrer à prefeitura da cidade. Ele não recebeu nada por sua participação, mas gerou US$ 20 MIL aos cofres democratas, fortalecendo a imagem de esquerdista que mantém entre os republicanos.

DON HEWITT

O lendário criador e produtor-executivo de 60 Minutes, da rede americana CBS, ficou conhecido por mostrar uma terceira via aos jornalistas. No entanto, diz Neal Gleber (Brill?s Conten, 6/4/01), em suas memórias Tell me a story: fifty years and 60 minutes in television (PublicAffairs) ele conta uma outra história, ao falar da estranha e tensa relação entre a missão jornalística de informar e o imperativo de entreter.

No início do jornalismo de rádio e TV, a CBS estava na era de Edward R. Murrow, quando o objetivo maior era caçar histórias e contá-las ao público de forma acurada e precisa. Eles eram os melhores jornalistas no jornalismo, diz Hewitt em seu livro.

No entanto, os filmes e os efeitos de Hollywood foram mudando a perspectiva. Como produtor do noticiário noturno da CBS, Hewitt se tornou discípulo da imprensa marrom, e o jornalismo virou competição. Suas novas premissas iam contra a tradição de Murrow, e sua proposta de 60 Minutes foi primeiro rejeitada, e aceita apenas depois da mudança de direção da rede. O sucesso de estréia do programa, diz Gleber, confirmou que a fórmula do show de entretenimento poderia ser aplicada ao jornalismo: audiência e lucro.

Inspirado na revista Life, o conceito de 60 Minutes baseava-se num show variado de jornalismo, escreve Hewitt, em oposição ao densos documentários da era Murrow. Um tipo de jornalismo que, segundo Gleber, teria vigorado mais cedo ou mais tarde, pois sabe entreter o espectador.

Em seu artigo, Gleber lembrou diversos episódios clássicos de 60 Minutes, para deixar evidente que os princípios de showman acabaram sobressaindo, e a preocupação de Hewitt por um bom jornalismo ficou em segundo plano. As várias páginas do livro dedicadas ao caso Jeffrey Wigand, inspirador do filme O Informante ? que retrata o episódio em que importantes revelações sobre a indústria do tabaco não puderam ir ao ar no 60 Minutes por causa do veto da companhia-mãe da CBS ? trazem ainda uma abordagem um pouco mais polêmica do que a da relação entre entretenimento e a notícia: o jornalismo e o mundo dos negócios.

AGÊNCIA REGULADORA

A indústria jornalística americana parece satisfeita. No próximo mês a Federal Communications Comission (FCC) vai começar a rever a lei de 1975 que impede a posse comum de jornais e estações de rádio e TV. A promessa foi feita pelo republicano Michael Powell, em sua primeira conferência como presidente da agência, no dia 29 de março. O projeto deve ser votado no fim do ano ou no começo de 2002.

Segundo a Editor & Publisher (2/4/01), executivos da área e opositores consideram a lei ultrapassada. O princípio de sua criação foi assegurar a diversidade de vozes que chegam ao público, dizem eles, e hoje isso não faria mais sentido por causa de todas as opções ? sistemas a cabo, televisão via satélite, internet ? que estão disponíveis ao consumidor.


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