Sunday, 28 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Cristina Padiglione

BAIXARIA NA TV

“Sexo e violência ofuscam anunciante”, copyright O Estado de S. Paulo, 7/09/03

“A campanha Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania, coordenada pela Comissão dos Direitos Humanos da Câmara Federal, pretende encomendar uma pesquisa que comprove como pode ser baixo o retorno de anunciantes que veiculam suas propagandas durante a exibição de programas de baixo nível. Não se trata de um tiro no escuro: a idéia foi inspirada nos resultados de um trabalho semelhante realizado pela Universidade de Iowa (EUA).

O caso é que a campanha não dispõe de recursos para bancar uma versão local do estudo. Presidente da Comissão, o deputado Orlando Fantazzini (PT-SP) enviou um projeto de pesquisa para a Unesco – Fundo das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura -, orçada em R$ 250 mil, elaborado pela Sociedade Paulista de Pesquisa e Mercado. Ainda não obteve resposta, mas não perde a esperança de contar com o apoio da Unesco. ?Seria importante que as agências de publicidade tivessem esses dados com clareza?, diz Fantazzini.

Intitulado Violência e Sexo Prejudicam a Memória para Anúncios de Televisão, o estudo de Iowa indica que os anúncios veiculados nos intervalos dos chamados programas neutros, cujo conteúdo não tem sexo e violência como cardápio principal, são 67% mais memorizados pelos telespectadores do que as propagandas dos intervalos de atrações com apelo sexual e/ou violento.

Uma das explicações para tanto é que esses temas causam emoções tão fortes que acabam afetando a capacidade racional de registrar outro aviso na memória. É como se o público aproveitasse os intervalos para relaxar das tensões causadas pela atração.

Negociação – Enquanto não obtém resposta da Unesco, a comissão já comemora algum avanço na iniciativa de coletar opiniões via e-mail e telefone para divulgar, a cada dois meses, um ranking da baixaria na TV. A última listagem coloca João Kléber, da RedeTV!, na liderança.

Segundo Fantazzini, Record, SBT e Globo já enviaram representantes ao encontro da comissão para negociar eventuais mudanças nos programas citados (a lista inclui Gugu, Faustão, Ratinho, Cidade Alerta e Hora da Verdade, entre outros). Quem tem algo a dizer sobre esse cardápio pode e deve colaborar com o ranking, acessando o site www.eticanatv.org.br ou ligando para 0800-619-619.”

 

“JORNAL DAS BARBIES”

“Da ?Casa dos Artistas? para a bancada do jornal”, copyright O Estado de S. Paulo, 7/09/03

“Faz tempo que dirigentes do SBT falam na importância de se abrir mais espaço para o jornalismo na emissora. Na segunda-feira passada, sem alardes e com pretensão de causar suspense, entrou no ar o Jornal do SBT – 1.? edição. A tentativa de fazer mistério seguiu uma prática que o SBT já havia utilizado na Casa dos Artistas, o que é sintomático: as duas apresentadoras do jornal, Cynthia Benini e Analice Nicolau, são egressas da 2.? edição do reality show.

Contrariando a regra do jornalismo ao vivo, o programa é pré-gravado pouco antes de sua exibição, às 19h30. As duas moças parecem ter saído da novela mexicana que antecede o programa: maquiagem, laquê, figurino, tudo é over.

As pernas ficam à mostra, cruzadas, claro.

Com meia hora, o jornal traz poucos assuntos relevantes do dia no Brasil e no mundo. Algumas notícias são lidas por elas e complementadas só com uma ?frase do dia?, na voz de Hermano Henning.

O ?novo conceito em jornalismo na televisão brasileira?, anunciado nas chamadas do canal, à primeira vista parece uma versão de programa feminino vespertino. Tem o vaivém das moças entre a cadeira e a poltrona, num cenário que inclui uma bancada transparente. Só faltou o merchandising.

Entre uma previsão do tempo e outra – o tema é dividido em três etapas durante o jornal – , o telespectador pode ver as surpreendentes cenas de Tolerância Zero, quadro com flagrantes da polícia internacional. Algo do tipo ?acredite se quiser? e ?isto é incrível?.

Salvo os comentaristas, que dão ao produto um aspecto de telejornal de fato, é quase um informativo de variedades. Mas, para quem reduziu o jornalismo a quase nada na programação, vale louvar a iniciativa: é melhor que nada. O que não impediu o mercado publicitário de apelidar o novo produto de ?Jornal das Barbies?.”

 

CASSETA & PLANETA

“Quando pagar um mico vale a pena”, copyright O Estado de S. Paulo, 7/09/03

“Eles já fizeram a top Gisele Bündchen virar entregadora de pizza. Quase prenderam o rei Pelé, transformaram Xuxa em homem e o nervoso técnico de vôlei Bernardinho em técnico do falido Tabajara Futebol Clube. Nem o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga escapou, virou taxista na mão da trupe do Casseta & Planeta.

Ser alvo dos cassetas dá ibope nos dois sentidos: para o programa e para o personagem em foco. Prova disso é o número de convidados especiais que já passaram pelo programa em seus mais de 10 anos. De Fernanda Montenegro a Tiazinha, é variada a lista dos quase 150 convidados que já fizeram uma pontinha na atração.

Os cassetas guardam no acervo de ?figurantes? de luxo nomes como João Ubaldo Ribeiro, Caetano Veloso, Rita Lee, Jorge Benjor, Marília Pêra, Romário, Ayrton Senna, entre outros. Também guardam recusas explícitas, como a do jogador Roberto Carlos e a do técnico Luiz Fellipe Scolari.

?A idéia das participações partem das piadas. Não pensamos em um famoso para depois fazer o texto para ele. Pensamos na piada e em quem seria a pessoa certa para pagar o mico?, explica o casseta Reinaldo. ?Sempre que criamos a paródia de uma música famosa, por exemplo, pensamos em chamar o cantor da original para cantá-la no programa?, exemplifica. ?E já nos surpreendemos com pessoas mais tímidas, que não estão acostumadas a fazer humor. O Zeca Pagodinho é um deles.?

Queridinhos -Pagodinho está na lista de quem já participou do programa duas vezes, há outros artistas que já repetiram a dose no Casseta & Planeta Urgente! Angélica e o cantor Ed Motta estão entre os preferidos da trupe. ?Não consigo entender como eles aceitam voltar?, brinca Reinaldo.

Entre as participações marcantes, ele cita a de Pelé, que deu um canseira na produção porque não tinha tempo de gravar, e a de Rubinho Barrichello, que tentou fugir dos humoristas – com razão: o piloto, vale lembrar, é chamado pelo programa de ?Rubinho Pé de Chinelo?. ?Ficamos um ano e meio atrás do Pelé e quando ele topou foi ótimo. Ele tinha até piadas prontas?, conta Reinaldo. ?O Rubinho também foi complicado. Como ele viaja demais, fomos atrás dele em uma das corridas no exterior. Ficamos no hall do hotel infernizando, de plantão, até ele nos atender. Acho que não estava na lista de prioridades dele, mas a insistência valeu a pena.?

As gravações com Fernanda Montenegro e Armínio Fraga também surpreenderam os humoristas. ?Uma coisa é você sacanear os seus amigos, outra é você olhar do lado e quem está lá é a Fernanda Montenegro. Ela foi muito bacana, uma dama?, conta ele. ?Já a do Armínio foi idéia do Marcelo (Madureira), que estudou com ele. Nossa idéia era que ele inaugurasse um quadro do tipo ?por onde anda??, que mostraria o que estão fazendo pessoas que deram uma sumida da mídia. Armínio foi ótimo, mas acabamos desistindo do quadro.?

Reinaldo tem consciência de que ele não toparia se ainda fosse presidente do Banco Central. ?É amigo do Marcelo, mas não é louco?, brinca.

Entre os que gostam de ser alvo dos cassetas estão músicos, que chegam a pedir para ir ao programa – Lulu Santos fez isso -, e atores de novelas da Globo, prato cheio para as paródias da atração. ?Acabou virando uma espécie de atestado de notoriedade participar do programa?, fala Reinaldo. ?Quando os atores nos encontram nos corredores da Globo adoram comentar as paródias das tramas que eles estão fazendo. Chegam a dar sugestões.?

Segundo Reinaldo, alguns políticos também gostam de participar do programa. Outros, nem tanto. ?Sentimos saudade da época que o programa era mensal e podíamos viajar para gravar em Brasília?, fala ele. ?Havia deputados que até corriam quando viam a gente, outros gostavam tanto de aparecer que nem se importavam em ser sacaneados.?

Restrições – Há também aqueles que fazem ?pequenas? exigências. Jogadores de futebol, conta o humorista, costumam pedir que as piadas não agridam o time deles, nem o do adversário, para evitar confusões futuras. ?Se tem algum assunto que a pessoa não quer falar, respeitamos. No caso da Sandy, já tinham nos avisado que ela não queria mais falar sobre virgindade com ninguém. Não era um problema com a gente?, explica Reinaldo.

Quando a pergunta é quem eles ainda sonham em levar ao programa, o silêncio do casseta diz tudo. Afinal, eles já levaram quase todas as pessoas de expressão nacional. ?Hum, deixe-me ver… O Guga, nunca conseguimos levá-lo.

Sempre nos dizem que a agenda dele não permite?, diz Reynaldo. ?Essa também costuma ser a desculpa de quem não quer ir, não gosta da gente e prefere botar a culpa na agenda.?”