Thursday, 03 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1308

Daniel Castro

ASPAS

BRAVA GENTE

"Globo muda formato da série ?Brava Gente?", Folha de S. Paulo, 4/06/01

"A série ?Brava Gente?, da TV Globo, deixará de ser exclusivamente adaptações de contos nacionais. A partir de setembro, quando deve retornar ao ar após o fim da minissérie ?Presença de Anita?, o programa semanal passa a ser temático.

A decisão de manter ?Brava Gente? no ar e de transformá-la em temática, apesar de a série estar perdendo no Ibope para o SBT, já está tomada. Dois temas, crenças e folclore, já foram escolhidos, mas os textos ainda dependem de aprovação.

A idéia é que cada tema fique 13 semanas consecutivas no ar. Cada capítulo teria uma história completa -não haveria sequência. Se der certo, ?Brava Gente? -que começou como um projeto de fim de ano da Globo- continuaria na programação da emissora até março do ano que vem.

Nesta semana, deverá ser apresentado a Marluce Dias da Silva, diretora-geral da Globo, um pacote de novos projetos: o seriado ?Domésticas?, inspirado na peça que gerou o filme, especiais sobre os pecados capitais, uma adaptação da peça ?Todo Mundo Tem Problemas Sexuais?, um ?game show? e um ?reality show?."

DIGITAL

"Prepare-se para a revolução da TV digital", copyright O Estado de S. Paulo, 3/06/01

"A tecnologia digital está chegando à TV brasileira. Com ela, a imagem da televisão aberta – ou em broadcasting – vai ganhar qualidade superior, podendo alcançar os padrões da alta definição (HDTV-High Definition Television), que impressionam pela beleza das cores, do brilho, da nitidez. Mesmo com a simples digitalização, a sensação de realismo crescerá na proporção do aumento do tamanho das telas de cristal líquido ou de plasma. Os televisores digitais do futuro serão tão finos que poderão ser colocados sobre a parede como se fossem quadros.

Mas a TV digital não se resume a um grande avanço na qualidade das imagens, rumo à TV de alta definição. Suas duas qualidades básicas são a interatividade e a largura de sua faixa de freqüência. Para os especialistas, ela será uma revolução tecnológica ao criar uma plataforma de comunicação para novos serviços, tais como a comunicação de dados de alta velocidade, os jogos eletrônicos, o comércio virtual e o Video On Demand (VOD), que é uma espécie de televisão à la carte em que o espectador escolhe os filmes ou programas de TV.

O mercado brasileiro desperta a cobiça dos maiores investidores, tanto na área industrial quanto na de serviços, pois os 172 milhões de brasileiros poderão comprar até o equivalente a US$ 10 bilhões por ano, por volta de 2007, em equipamentos e serviços de multimídia e telecomunicações. Daí a guerra dos lobbies que tentam convencer a Anatel e o governo a adotar o seu padrão de TV digital, a ser escolhido entre os três existentes: o norte-americano, o europeu e o japonês.

A guerra – Nunca se viu uma guerra tão acirrada de lobbies no Brasil quanto a que se desenrola nos bastidores visando à escolha do padrão de TV digital a ser adotado. A decisão dependerá em grande parte das negociações internacionais que a Anatel está promovendo com os governos norte-americano, japonês e europeu. Os técnicos da agência começam a analisar em breve a resposta a um documento sigiloso entregue aos representantes dos três sistemas de TV digital, solicitando uma posição oficial a respeito da participação do Brasil na evolução das tecnologias envolvidas, a transferência deste know-how e o pagamento de royalties. Em seguida a Anatel vai assinar um memorando de entendimentos com a melhor proposta.

Não se trata apenas de uma questão técnica. O fundamental será o modelo de negócios que o Brasil vai adotar. Segundo Jarbas Valente, superintendente de Comunicação de Massa da Anatel, a facilidade na aquisição da tecnologia e a liberação do pagamento de royalties deverá ser um dos fatores determinantes para a escolha do padrão. O segundo ponto é a análise técnica dos sistemas e o terceiro é a análise mercadológica, considerando-se o impacto que a entrada da tecnologia trará para os outros serviços.

Os dois relatórios da Anatel, elaborados com a consultoria do CPqD, com as conclusões e análises de todos os pontos de vista técnico, mercadológico, cenário no mundo, impacto nas tecnologias e negociações internacionais já estão na Internet, no site da agência reguladora, para consulta pública, que vai até setembro. Prevê-se o anúncio da escolha definitiva até novembro, quando será emitida a regulamentação final, incluindo um plano de transição do padrão analógico para o digital para as operadoras.

O relatório do CPqD utiliza a comparação técnica entre os três padrões, realizada pelo grupo de trabalho conjunto da Sociedade de Engenharia de Televisão e Telecomunicações (SET) e da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), do qual participaram 17 emissoras de TV. O documento do grupo SET/Abert condena o sistema norte-americano, denominado Advanced Television System Commitee (ATSC) considerando-o inadequado à televisão digital brasileira. O mesmo relatório considera ainda satisfatório o sistemas europeu Digital Video Broadcasting (DVB) manifestando, contudo, sua preferência pelo sistema japonês.

Com qualquer um dos três sistemas, o Brasil terá uma boa televisão digital, esclarecem os especialistas independentes. A evolução tecnológica é tão rápida, que as diferenças atuais entre os padrões podem desaparecer nos próximos cinco anos. Antes de se chegar à popularização máxima da televisão digital, as emissoras transmitirão, simultaneamente, o mesmo programa em sinais analógico e digital. Os aparelhos analógicos só captarão sinal digital se a ele acoplarmos uma caixinha preta que fará a conversão do sinal. Mas a qualidade da imagem estará limitada à sua baixa definição.

Além da excelente imagem, a TV digital oferece recursos como: som estéreo, também digital, canais adicionais de áudio e todas as demais características de interatividade que permitirão o VOD (Video On Demand), o teleshopping ou e-commerce.

A defesa que cada grupo faz de seu sistema é calorosa e apaixonada, como não poderia deixar de ser no caso de uma disputa por um mercado de quase US$ 10 bilhões por ano.

O padrão ATSC – Os argumentos mais fortes dos norte-americanos são a possível compatibilidade hemisférica, na hipótese de todos os países das Américas virem a adotar o sistema ATSC, que já opera em mais de 200 canais de televisão dos EUA. Utilizando a mesma largura de faixa de freqüência prevista para o Brasil (6 Megahertz), o sistema abre a possibilidade do uso de apenas a metade dessa largura de banda para os canais de TV digital, ficando o restante para a prestação de outros serviços, como comunicação de dados de alta velocidade, Video On Demand (transmissão de filmes ou programas de TV a pedido do espectador), teleshopping ou e-commerce, jogos eletrônicos e outros, como faz uma empresa de sucesso, a Iblast, da Califórnia.

Um dos pontos criticados no sistema norte-americano é a impossibilidade de recepção com antena interna. Os defensores do sistema ATSC dizem que a recepção pode ser feita com antena externa, como nos EUA, e que os preços de uma antena externa não são elevados. Aliás, no Brasil, a grande maioria (85%) dos televisores que recebem sinal aberto utilizam antena externa. Outra solução seria aumentar a intensidade do sinal, embora encontre muita resistência em tempos de crise energética.

O europeu DVB – O sistema DVB, adotado na Europa, tem o maior número de usuários, bom amadurecimento tecnológico, mas utiliza de uma faixa de freqüência mais larga, com 7 ou 8 Megahertz. O sistema foi adotado na Austrália, com a opção da largura de faixa de freqüência em 7 Megahertz.

O diretor-executivo do Projeto Europeu, Peter MacAvock, e o engenheiro Salomão Wejnberg, representante do sistema DVB no Brasil, lembram que, com a largura de 7 MHz, o sistema permite até três canais de TV digital e ainda sobram freqüências para outros serviços.

O DVB é, na realidade, uma família de padrões, com variantes como: DVB-T, para transmissão terrestre; DVB-C, para televisão a cabo; DVB-S, para difusão via satélite; DVB-MC, para difusão via microondas até 10 GHz; e DVB-MS, para microondas acima de 10 GHz.

O padrão europeu é acusado de vender a ilusão de que, com a digitalização, a televisão aberta resolverá todos os seus problemas de qualidade de imagem, dispensando o salto para a alta definição. Tudo indica que as pessoas querem chegar à High Definition Television (HDTV), com imagens ainda mais perfeitas do que a da TV digital. A vantagem será o maior número de linhas e de pixels (elementos de imagem) contidos na TV de alta definição. A própria pesquisa do CPqD demonstra que o público brasileiro quer uma televisão com imagem de alta definição.

O japonês ISDB – O padrão japonês é o ISDB, sigla de Integrated Services Digital Broadcasting, que ainda não opera comercialmente. Os primeiros 100 mil domicílios japoneses recebem imagens de TV digital exclusivamente via satélite. As transmissões comerciais em sinal aberto terrestre só deverão começar em 2003 ou 2004.

Os japoneses afirmam que seu sistema é o mais sofisticado, que permite, inclusive, recepção móvel, isto é, em trens, ônibus ou automóveis. O número de outras facilidades e recursos é tão grande que o sistema foi apelidado carinhosamente de ?canivete suíço da TV digital?.

O próprio relatório SET/Abert aponta o padrão japonês como o mais adequado ao Brasil. Aliás, o entusiasmo da Abert e da maioria das emissoras pelo ISDB alcança quase o nível da paixão. Não contentes em defender esse padrão, alguns engenheiros da SET acusam o sistema norte-americano de ?absolutamente inadequado? ao Brasil, fazendo supor que os EUA estão adotando a pior tecnologia de TV digital.

Alguns especialistas crêem que, ao defender o sistema japonês, a Abert e as emissoras querem ganhar uma fatia dos numerosos serviços de telecomunicações, e-commerce e até de telefonia celular sem ter que passar pelas licitações da Anatel.

Na verdade, a falta de transparência marca a guerra entre os três padrões."

    
    
                     

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