Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Democracia pelo rap

CUBA

A edição 2002 do Festival de Hip Hop de Havana foi cenário para raras manifestações contra o regime político de Cuba. Os jovens presentes ? negros, em maioria ? vaiaram policiais e, durante a apresentação do rapper Papa Umbertico, foi estendida faixa no palco com os dizeres “denúncia social”.

Explica Anthony Boadle, da Reuters [16/8/02], que o movimento hip hop ganhou força na ilha caribenha após o fim da União Soviética. As reformas econômicas que o governo comunista foi obrigado a fazer com a perda de seu principal aliado geraram diferenças sociais e permitiram o surgimento de uma classe de cubanos que têm acesso a dólares e, por isso, melhores condições de vida. No começo o rap era censurado, mas como se tornou fenômeno social de crescimento muito rápido, o regime preferiu assimilá-lo, permitindo que aparecesse nos meios de comunicação e organizando o festival anual.

Rappers cubanos dizem que jovens negros do país se identificam com o estilo devido às letras que expressam a frustração de uma geração que não sente os benefícios que a revolução de 1959 trouxe. No entanto, os artistas alegam que sua música pretende aumentar o espaço para a cultura negra e melhorar as condições sociais dentro do regime. “Queremos melhorar o processo revolucionário, mudar o que está errado”, explica Alexei, do grupo Obsesion.

Muitos dos mais de 500 grupos de rap de Cuba se originaram na cidade de Alamar, uma cidade dormitório de 300 mil habitantes próxima de Havana construída em grande parte nos anos 70 para receber trabalhadores e técnicos soviéticos.