Friday, 11 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1309

"Deu no JB", copyright Jornal do Brasil, 7/5/01

A VOZ DOS OUVIDORES



JORNAL DO BRASIL
Moacyr Andrade

"Deu no JB", copyright Jornal do Brasil, 7/5/01

"Personalidades de outro corte

Além do trato da prevaricação senatorial, novamente objeto da reação dos leitores, o trabalho de dois renomados antropólogos brasileiros ocupa espaço na seção de hoje, fornecendo o tema das cartas de abertura.

Ramos e Nina

Em resenha publicada em Idéias de 28/4, Lena Frias comenta a nova edição do livro de Arthur Ramos O Negro Brasileiro, cuja edição inaugural veio a público em 1934 e obra na qual se constata o olhar respeitoso do antropólogo sobre ritos e cultos de terreiros, até então referidos ou relatados por Nina Rodrigues a partir de uma ótica racista e discriminadora (grifo nosso). De fato, em alguns de seus estudos, Nina Rodrigues aludiu à inferioridade dos mestiços, sendo, via de conseqüência , acusado de ariano, de alimentar preconceitos sociais. Na sua época vigiam esses com foros científicos. Nina Rodrigues não podia fugir à influência dessa ordem de idéias divulgadas e aceitas em reputados centros culturais da Europa. Mas daí a considerá-lo racista vai um verdadeiro abismo. Ninguém como ele amou os negros africanos e seus descendentes. Ninguém como ele estudou-os como objeto de ciência. No prefácio da edição inaugural de O negro brasileiro, é o seu próprio autor que escreve: ?O trabalhos de Nina Rodrigues são o ponto de partida indispensável ao prosseguimento de estudo sistematizado e sério sobre o negro brasileiro?. É a ele que devemos, na expressão de Afonso Arinos de Mello Franco, a substituição do conceito convencional do negro, como símbolo literário do martírio de uma raça, pelo conceito positivo do ?negro em si, do negro como homem, tomado no sentido social, étnico, político, religioso, dentro do próprio circulo da vida?. Foi ele que revelou os tipo raciais diferentes e os graus variados de cultura; esboçou linhas fundamentais para o estudo da arte negra, entre nós; mostrou o sincretismo profundo entre as crendices do feiticismo africano e o catolicismo das massas brasileiras. Em suma, contribuiu para a formação da atitude espiritual que é a nossa atualmente e que consiste na consciência e na aceitação dos elementos com que os afro-americanos contribuíram física e espiritualmente para a organização da sociedade. Rogério Alvaro Serra de Castro ? Rio de Janeiro.

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Foi com agradável surpresa que tomei conhecimento do relançamento da obra de meu tio-avô Arthur Ramos, pela editora Graphia. A repórter e pesquisadora Lena Frias foi bastante feliz ao situar o autor no devido contexto de vanguarda pioneirismo e sofisticação de que seus estudos e trabalhos sobre a cultura negra no Brasil necessitavam. A obra de Arthur Ramos que até então ocupou um lugar nos fundamentos recobertos de mofo da antropologia estática brasileira, deve ser resgatada e repensada pela atual e escassa intelectualidade deste país, sempre incapaz de esclarecer o povo aviltado e anestesiado com a sua própria ignorância. E é com esse texto do JB de 28/4 que me alegro em saber que há sempre uma possibilidade de sairmos da conformação ordinária na qual estamos quase todos. Parabéns a Lena Frias pela síntese e elegância ao tratar Arthur Ramos e sua obra. Apenas para suas futuras pesquisas, Arthur Ramos nasceu em Pilar, Alagoas no dia 7 de julho de 1903, e O negro brasileiro não foi sua primeira obra publicada. Antes publicou, entre outros, Estudos de psicanálise e Educação e psicanálise. A família de Arthur Ramos tem admiração total pela obra e pela vida desse brasileiro (mais brasileiro, impossível) digno do Brasil, e por isso mesmo preserva com carinho toda a sua obra, que também foi doada para a Biblioteca Nacional. Maria do Carmo Del Peloso Ramos e Maria Rahaela Del Peloso Ramos ? Rio de Janeiro.

Senadores

Foi com absoluta incredulidade que li, na primeira página do JB de 27/4, assinada por Expedito Filho, a matéria intitulada FH avalia a crise, principalmente os dois primeiros parágrafos. No primeiro, diz o jornalista que FH condena a expulsão de Arruda de seu partido. O presidente chega ao absurdo de usar a expressão ?canalhice? para qualificar o ato. Expedito Filho não tece qualquer comentário. Nem contra nem a favor nem esclarece o mínimo: Arruda desfiliou0se. Não houve expulsão. No segundo , afirma que FH acredita ser mais confortável a situação de Jader Barbalho, embora admitindo sua saída da presidência do Senado, como forma para se sair da crise. Também nesse assunto não opinou. Após ler e reler, fiquei com a impressão de que o autor endossa tais pensamentos. Ou será que a matéria serviu apenas para preencher uma lacuna? Sem querer ser irritante, mas já sendo, pergunto: estou certo ou errado? O JB deve um esclarecimento a milhares de leitores que podem ter ficado com percepção semelhante. Dilson Ferreira Anaide ? Rio de Janeiro.

JB ? A matéria serviu para relatar sem comentários, que no caso não cabiam, a avaliação da crise pelo presidente da República.

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Realmente admirável a capacidade de Dora Kramer de dissecar a verdade dos acontecimentos, desmistificando com elegância as tramas repulsivas da política atual. Ressaltando certas colocações, verifica-se que atribuir ao ainda senador Arruda coragem e dignidade é querer abusar da credulidade das pessoas, pois a sua confissão não foi ditada pela consciência e sim pelo incontestável dos fatos, e a humildade foi forjada e ensaiada. A sua confissão se justifica, sim, por uma tentativa desesperada de preservar o seu mandato. Já é tempo de os políticos assumirem a dignidade de abandonar as práticas corporativistas, tentando recuperar a imagem pública já tão enlameada, cassando os senadores corruptos Arruda, ACM e Jader ? e outros mais que se façam necessários. Sonia de Figueiredo Peixoto ? Rio de Janeiro."

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