Saturday, 27 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Dispensa por excesso de crítica

THE NEW YORK TIMES

O colunista conservador Andrew Sullivan, que escrevia para o New York Times ao mesmo tempo em que o criticava na internet, foi dispensado do jornalão. Um dos mais conhecidos jornalistas homossexuais dos EUA, Sullivan assinava coluna quinzenal na revista do Times, na qual foi "proibido de escrever por tempo indeterminado".

Em sua página da web, o jornalista acusava diariamente o jornal de ter tendências liberais, favorecer os democratas e ser injusto e hostil com o presidente George W. Bush (ao questionar a política americana no Oriente Médio e insistir na história da recontagem dos votos na Flórida "para acalmar sua base esquerdista de Manhattan").

"Se, como eu, você escreve para a grande imprensa e a ataca regularmente, alguns editores podem querer se vingar e cortá-lo", escreveu Sullivan no sítio. "Na maioria das vezes, estas pessoas, sendo jornalistas, não se importam com críticas, especialmente vindas de um blog sem valor. Mas outras se ofendem, e você é despedido." Howard Kurtz [The Washington Post, 14/5/02] conta que as opiniões do jornalista também lhe custaram a coluna semanal na New Republic, da qual era editor no começo da década de 90.

Há duas semanas, editorial do New York Times informava aos leitores que o ex-chefe da sucursal de Moscou, Patrick Tyler, fora enganado por uma fonte. Em março, o jornal publicou entrevista com o capitão russo Andrei Samorodov, que dizia ter servido na Chechênia e presenciado cenas em que cadetes matavam civis. Samorodov, ao tentar interromper a violência, afirmou ter sido ameaçado, e logo depois pediu asilo nos EUA.

Em resposta, o jornal russo Izvestia apurou que o soldado deixou o Exército em 1993; embora o Times tenha enviado um repórter à terra natal de Samorodov para verificar seu depoimento, nada conseguiu descobrir. O Kremlin então ameaçou divulgar o erro se o jornal não publicasse uma correção. "Sinto-me mal por não ter suspeitado da fraude", lamenta Tyler. "O que mais me dói é que os russos tentaram desacreditar qualquer relato de abuso na Chechênia." E, desta vez, Tyler os ajudou, diz Carl Swanson [New York Magazine, 20/5/02].