Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Eduardo Ribeiro

MÍDIA EM CRISE

"O buraco é mais embaixo", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 21/08/02

"Um colega que integra o staff de um dos principais jornais do País disse na última semana a Jornalistas&Cia que o terrorismo feito pelos empresários de Comunicação nesses últimos tempos, em relação à crise que assola a maioria das organizações, disfarça a verdadeira origem dos problemas. A crise não estaria na operação dos jornais e revistas e sim nos vultosos e extravagantes investimentos feitos em negócios periféricos, que se transformaram numa sangria desenfreada de recursos, tornando as empresas fortes candidatas à inadimplência. O problema, no dizer desse colega, é que para salvar sua participação em tais negócios as empresas estão sugando até os limites do inimaginável os recursos da banda boa do negócio.

Pegue-se o caso da Folha de S. Paulo. O jornal vai muito bem, obrigado, e segundo informações extra-oficiais superou as metas definidas para o período em 25%. O mesmo se deu com o Estadão e diferente não foi com as Organizações Globo e mesmo com a Abril, sem desconsiderar a Gazeta Mercantil, que é, de longe, a empresa mais problemática de todas.

Para quem viu o que vimos nos últimos meses este é um resultado efetivamente alvissareiro. Motivo de comemorações. No entanto, não é isso o que transparece para o mercado. Ao contrário, continuam ainda fortes no mercado os rumores de crise, de cortes, de baixo faturamento etc. Balela, se as informações acima estiverem efetivamente corretas. Mas é de fonte absolutamente segura.

Para ficar apenas nos cinco exemplos acima, é só darmos uma passeada pelos negócios paralelos das organizações citadas que veremos estar ali as verdadeiras razões da derrocada. Ali estão os buracos que levaram esses grupos empresariais a sacrificarem de forma dolorosa e até cruel o quadro de colaboradores, demitindo centenas, milhares de profissionais.

A Folha pôs muito dinheiro tanto no UOL (empreendimento mantido em parceria com o Grupo Abril) quanto no Valor Econômico (que tem as Organizações Globo como sócia). A Abril, além do UOL, já colocou e continua a colocar um caminhão de dinheiro na MTV e na TVA, sem contar investimentos menores como as que fez na Editora Símbolo, por exemplo. A Globo, por seu lado, mesmo com a alta lucratividade da tevê, do jornal O Globo e (menos) da CBN, tem amargado brutais prejuízos seja pelo alto endividamento do grupo, seja pelas dezenas de milhões que tem investido em negócios como Globo Cabo e Net.

A Gazeta Mercantil foi megalomaníaca ao querer ter um jornal diário em cada capital e também em outras grandes cidades (ou regiões) brasileiras e em apostar muitas fichas na criação e manutenção de um núcleo de televisão. A empresa, em alguns anos, alargou de tal forma seu raio de atuação (sem a respectiva contrapartida de crescimento do faturamento) que viu seu negócio principal definhar, em função da fuga espetacular de dinheiro para as dezenas de negócios criados, caso das edições regionais, da tevê, das publicações, do serviço de informação em tempo real, da Gazeta Mercantil Latino-americana, e até da aquisição de um deficitário diário econômico argentino. Não haveria, evidentemente, caixa capaz de suportar tamanha pressão por recursos.

O Estadão sofre barbaramente com a OESP Mídia (que um dia já foi a galinha dos ovos de ouro, mas que há anos amarga sucessivos prejuízos) e com seu inexplicável (ou explicável, mas não justificável) investimento na BCP – no qual toda vez em que é chamado a fazer uma integralização de capital treme, aumentando o nervosismo nas hostes da família Mesquita.

Claro que a queda na publicidade foi vigorosa e afetou os negócios. Claro também que a crise do dólar mexeu com os humores do mercado, trazendo um certo desconforto para quem tem despesas (e dívidas) em moeda norte-americana (papel, por exemplo). Claro que há muitas outras explicações para a situação vivida pelos grupos de comunicação do País. Mas está também muito claro, na visão desse colega, que o buraco efetivamente é mais embaixo.

Como não temos nada com isso, queremos apenas nossos empregos de volta e um maior investimento na qualidade dos produtos."

 

"Meta do UOL é atingir geração de caixa positiva no segundo semestre", copyright O Estado de S. Paulo, 26/08/02

"O provedor de internet Universo Online (UOL) quer atingir geração de caixa operacional positiva no segundo semestre deste ano.

O diretor de relações com investidores, Eduardo Alcalay, afirmou que a geração negativa da companhia no segundo trimestre, medida pelo Ebitda, já mostrou recuperação de 70% na comparação com o mesmo período de 2001, para R$ 7,306 milhões.

Para entrar no azul, o UOL pretende elevar receita e diminuir despesas.

?Esperamos continuar aumentando nosso lucro bruto e adotando uma política de marketing mais enxuta?, disse. O lucro bruto subiu 56%, para R$ 32,393 milhões.

As despesas operacionais caíram 12%, para R$ 39,699 milhões. Os gastos com vendas e marketing recuaram 18%, totalizando R$ 19,8 milhões, e os gerais e administrativos subiram 6%, para R$ 19,9 milhões.

Alcalay ressaltou, no entanto, que a recuperação esperada pelo UOL tem ligação direta com a melhoria do cenário econômico nacional.

A situação turbulenta já está se refletindo na receita com publicidade. Em relação ao primeiro trimestre deste ano, esse faturamento subiu 57%, para R$ 13,3 milhões, com promoções relacionadas à Copa do Mundo e a novos contratos negociados.

Para o terceiro trimestre, no entanto, a situação é diferente. ?A receita com propaganda está se mostrando uma decepção para as mídias.? O UOL teve receita líquida de R$ 116,604 milhões no segundo trimestre, com aumento de quase 30% sobre o mesmo período de 2001.

Além do faturamento com publicidade, a companhia destaca o crescimento da base de assinantes, que subiu 35%.

?Apesar do cenário turbulento, somos líderes no mercado de serviços online pagos na América Latina?, disse, com 1,514 milhão de assinantes.

Segundo Alcalay, o segundo colocado, o Terra, tem 1 milhão de clientes e a América Online (Aola) conta com 350 mil pagantes. As receitas de assinaturas somaram R$ 103,3 milhões, com aumento de 50%, respondendo por 89% do faturamento total.

O provedor fechou o trimestre com prejuízo de R$ 50,352 milhões, numa melhoria de 38% em relação ao resultado negativo do mesmo período do ano passado.

Alcalay lembrou que o resultado continua impactado por despesas contábeis derivadas de perdas cambiais com operações no exterior.

O câmbio também teve influência negativa sobre a dívida da empresa. A quase totalidade dos débitos é composta das debêntures emitidas em maio de 2001, em função da entrada da Portugal Telecom no UOL.

Os papéis são conversíveis em ações e remontam a US$ 100 milhões. Segundo Alcalay, eles têm prazo de cinco anos, renováveis por mais cinco, e não pagam juros ou principal ao longo do período. No entanto, são indexados ao dólar."