Wednesday, 08 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Eduardo Ribeiro


JOSÉ HAMILTON RIBEIRO

“A coragem do nosso Zé Hamilton”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 22/05/03

“Dia desses, entretido e concentrado em meus afazeres profissionais, fui abordado por meu sobrinho, Patrick, na Mega Brasil, que, encantado, trazia às mãos para me mostrar a última edição da Revista Trip. Foi um choque. Um misto de surpresa e alegria, e, confesso, uma emoção que há muito tempo não sentia, vinda das páginas, das imagens ou das letras de alguma revista.

Me reencontrei com aquele velho e bom jornalismo. Aquele mesmo praticado com esmero e coragem pela imperdível Realidade, que os mais antigos conhecem e louvam, e que os mais jovens têm obrigação de conhecer. A Trip deu um show e fez como a Realidade, trazendo para sua capa um dos principais protagonistas daquele período, o premiadíssimo repórter José Hamilton Ribeiro.

Quem não comprou a revista não deve perder tempo. E eu aproveito aqui, de público, para dar os parabéns ao Paulo Lima, Fernando Luna, Fred Paiva e toda a equipe da Trip pelo brilhante e corajoso trabalho.

Zé Hamilton posa, pela primeira vez, e o faz de forma serena e reflexiva, sem a perna estilhaçada por uma mina no Vietnã, e – apaziguado consigo e com seu destino -, tem ao lado, na foto da capa (assinada pelo Márcio Scavone), a prótese que o ajuda a caminhar desde o fatídico episódio, que já vai lá longe, em 1968.

Sou, de fato, muito suspeito para falar do Zé Hamilton, por tudo o que ele representou para minha carreira, me iniciando, quando era o editor do jornal Unidade (do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo), lá pelos idos de 1980, na difícil arte de falar de jornalismo e de jornalistas. Me deu, de presente, a seção Moagem, campeã ainda hoje de leitura do jornal, e que deu origem a este Jornalistas&Cia, tanto na versão impressa (editada pela M&A Editora) quanto eletrônica (aqui neste Comunique-se).

Zé Hamilton é um dos mais premiados jornalistas brasileiros e uma escola de jornalismo por onde passa. Em cada palestra – e são dezenas por ano, em universidades, sindicatos, seminários – arrebata pequenas multidões, com suas opiniões firmes e muitas vezes controvertidas, que mudam o eixo do pensamento e obrigam a uma profunda reflexão.

Inquieto, por natureza, está sempre inventando ou reinventando coisas. Ora um livro, ora uma nova seção, ora um catira (ou seria cateretê?). E gosta, como poucos, de uma boa prosa, quando aproveita para contar causos e histórias de Santa Rosa do Viterbo, sua terra natal.

A reportagem da Trip traz um singelo perfil de nosso repórter maior, reproduzindo algumas das pérolas colhidas ao longo de sua vida. Uma delas: ?Uma vez me perguntaram se ficou difícil ser repórter com uma perna só. A resposta: ser repórter com uma perna só é mais difícil do que com duas, mas é mais fácil do que com quatro?.

A matéria o trata de o ?Senhor da Guerra?, mesmo aos 67 anos de vida, e lembra que, coincidência da vida, teve, no genro, Sérgio Dávila, o seu continuador. Dávila, como se sabe, integra o time de repórteres especiais da Folha de S. Paulo, e foi escalado pelo jornal para cobrir a guerra do Iraque. Sobre o episódio, a propósito, na entrevista concedida ao Paulo Lima, Zé Hamilton lembrou que ?ele (Sérgio Dávila) veio falar comigo depois de ter falado com a minha mulher, que lhe disse que não deveria ir, que era muito perigoso e tal. Ela atuou como uma mãezona protetora. Eu disse o seguinte: se um grande jornal decide ir para a guerra e convoca seu repórter especial, é normal que ele aceite a missão. Se um repórter com esse título, especial, diz que não irá à guerra porque não quer, ele é especial pra quê??

Zé é há mais de 20 anos repórter do Globo Rural, um dos programas que mais encantam telespectadores e jornalistas, tanto pelo projeto, quanto pelos nomes que nele atuam. Morremos todos de inveja, no bom sentido, por não participar de um time com essa qualidade e talento.

Tudo bem. De fora, ao menos podemos criticar e aplaudir. O que faço, aqui, de público.

Deus dê vida longa a um dos nossos mais brilhantes, talentosos e corajosos repórteres. Não deixem de comprar a revista.”

 

AGENDA POSITIVA

“Para colocar o Bem na pauta do dia”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 23/05/03

“Ontem (quinta-feira), por volta das 18 horas, recebi, em meu e-mail um release da Secretaria Municipal de Assistência Social de São Paulo, alertando a imprensa sobre a chegada de uma forte frente fria em São Paulo, e que por isso a Prefeitura da cidade entrou em estado de alerta.

Claro, a Secretaria está cumprindo seu papel e, em verdade, não está fazendo nada além de sua obrigação. Ela existe para isso, e para cumprir bem seu papel precisa estar capacitada, agir e comunicar a sociedade sobre situações de emergência como esta que estamos prestes a enfrentar, aqui em São Paulo, de onde escrevo. No entanto, estamos todos muito acostumados a criticar, a esculhambar o poder público por todas as suas mazelas, despreparo, displicência e dezenas de outros motivos, mas poucas vezes paramos para ver as coisas boas e corretas que são feitas, aproveitando para, também, reconhecer e (por que não) elogiar.

Neste caso, o que temos é uma secretaria estratégica encarregada de cuidar do espinhoso tema social, simplesmente numa das maiores metrópoles do mundo. Para se ter uma idéia do que essa Secretaria tem pela frente, basta ver uma das mais impressionantes estatísticas da Fipe, obtida a partir de pesquisa feita no ano 2000: há 8.700 – isso mesmo – pessoas em situação de rua, na cidade de São Paulo.

Imagine-se esse contingente de pessoas e o que fazer com ele nos períodos mais rigorosos do inverno. Numa temperatura de 10 graus centígrados, o frio pode produzir a sensação de uns 7 graus, para uma pessoa, por ação do vento. E é por isso que todas as vezes em que a temperatura chega a esse patamar (10 graus), a Secretaria Municipal de Assistência Social (SAS) aciona seu Serviço de Emergência, entre eles o Programa Acolher, da Central de Atendimento Permanente (24 horas), com peruas e agentes que rondam os locais onde há maior concentração de pessoas em situação de rua e convidam a ingressar em uma das 33 unidades entre albergues e abrigos, recebendo alimentação, higienização, cobertores, uma cama para dormir, além de encaminhamento para documentação. E, também, um atendimento personalizado pela assistente social, com a perspectiva da inclusão social. Alguns albergues mantêm Centros de Serviços durante o dia para que o usuário possa lavar a roupa, participar de algumas oficinas profissionalizantes e grupos sócio-educativos. Até local para guardar as carrocinhas (essas que vemos pelas ruas com papelão, latas, garrafas etc.) um dos centros de triagem tem, para atrair essas pessoas.

São atividades como essa que efetivamente mostram à sociedade a alma do verdadeiro serviço público, aquele que está a favor do cidadão e da cidadania. O problema é que nem sempre assuntos tão nobres encontram, na mídia, a acolhida que merecem, fazendo com que pautas desse naipe muitas vezes sejam descartadas em nome do interesse jornalístico – típico caso em que o interesse jornalístico nada tem a ver com o interesse público, mas sim com as idiossincracias de um editor, pauteiro ou mesmo da orientação editorial dos veículos.

Ações como essa salvam vidas e não é sem razão que os colegas que hoje atuam na SAS a chamam de a Secretaria do Bem, ou seja, aquela que ajuda a salvar vidas (nos últimos dois períodos de inverno, registre-se, não houve mortes provocadas pelo frio em São Paulo, o que mostra o acerto das medidas e a importância de se preservar o trabalho).

Nem tudo, obviamente, são flores. Mesmo com todo o esforço realizado, a capacidade de atendimento da SAS, mesmo tendo dobrado o número de leitos desde 2001 (são atualmente 4.782 leitos contra os 2.826, de dois anos atrás), ainda é insuficiente para o contingente de moradores de rua existente na capital paulista. Mas tanto quanto aumentar o número de leitos é fundamental diminuir o número de moradores de rua, tentando reintegrá-los à comunidade, iniciativa que vem sendo perseguida, como pode-se constatar.

No caso específico do projeto inverno, a assessoria de comunicação já está a campo mobilizando toda a imprensa e oferecendo uma série de facilidades, inclusive a de permitir que as equipes de jornalismo interessadas possam acompanhar a operação.

A Secretaria conta, nesse projeto, com várias parcerias, caso da Defesa Civil, da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e das secretarias municipais da Saúde e da Segurança Urbana. Por último, para fazer justiça, vamos dar nome aos bois: a Secretaria é comandada pela experiente Aldaíza Sposati e a equipe de comunicação tem no comando Cristina Angelini e os colegas Sérgio Vieira, Déborah Iglesias, José Alberto Lovetro (Jal), Vivian Zilberman, Wagner Nunes, Flávika Próspero e a secretária Eulália Stucci. Caso algum colega queira entrar em contato para ter outros detalhes deste e de outros trabalhos ali realizado o telefone é 11-3291-9666, ramais 504/505/507/508/509. O celular de plantão 11-9196-4104.

E se quiserem, podem chamar essa de ?a hora do elogio?.”

 

TRAÇO, HUMOR & CIA.

“Ataque de risco”, copyright Folha de S. Paulo, 25/05/03

“Tendo sempre caminhado com a imprensa, a ilustração de humor acompanhou de perto no Brasil circunvoluções políticas e sociais, mudanças que, repentinas ou paulatinas, foram registradas e apontadas por desenhistas.

Um período de cerca de 170 anos dessa relação é coberto pela mostra ?Traço, Humor e Cia.?, que exibe, na Faap, desenhos e gravuras originais, além de painéis com ampliações, revistas e gibis em que o traço é, ao mesmo tempo, personagem principal e narrador de várias histórias brasileiras, além da trajetória da própria imprensa e do refinamento das técnicas de impressão.

?A imprensa sempre foi o veículo principal da ilustração de humor, e suas mudanças gráficas se refletem nos desenhos. A inclusão das cores e as formas de tentar utilizá-las são um exemplo disso?, explica Denise Mattar, responsável pela curadoria da exposição, enquanto mostra a reprodução da capa de um número de ?A Bruxa?, que, segundo a curadora, foi a primeira revista a imprimir em bicromia e, depois, em tricromia no Brasil, em 1895.

A reprodução da capa de ?A Bruxa? está em painel com publicações que vão de 1831 até este ano em que a ilustração está presente. Os gêneros são diversos, de revistas femininas a almanaques infantis, de semanários de política a revistas culturais bissextas. ?Pode-se notar que aqui há poucas publicações dos anos 40 e 50, pois nessa época havia um predomínio da fotografia?, aponta Mattar.

Ao longo de 11 núcleos, o visitante perpassa movimentos sociais e tipos urbanos e políticos, que estiveram presentes, caricaturados, nas páginas de jornais e revistas brasileiros.

No módulo ?O Traço Brasileiro?, que abre a exposição, estão os originais de cerca de 40 artistas que deram vida à combinação traço-humor no país, como os trabalhos de Di Cavalcanti, J. Carlos, Millôr, Belmonte, K. Lixto, Voltolino e Péricles.

Em ?Sedução e Exclusão?, forma-se um curioso panorama da visão da mulher pela imprensa, das sufragistas às melindrosas dos anos 20, principalmente as coquetes de J. Carlos, passando pelas Garotas do Alceu, criadas por Alceu Penna em 1938, até a Radical Chic, personagem de Miguel Paiva nascida em 1982.

Na ?Galeria do Poder?, estão caricaturas de governantes e daqueles que os orbitam. No espaço, cuja cenografia reproduz a bandeira do Brasil, está também uma galeria de caricaturas de ex-presidentes, selecionadas pelo Museu de Artes Gráficas de São Paulo.

Da cenografia, criada por Guilherme Isnard, talvez o ponto mais alto seja o núcelo ?O Beco do Riso Mau?, cujas paredes foram desenhadas por Angeli especialmente para a mostra. O módulo abriga a Rê Bordosa e os Skrotinhos, de Angeli, os Piratas do Tietê, de Laerte, e Geraldão e os Neuras, de Glauco -os três cartunistas da Folha. Há ainda o Amigo da Onça, desenhado inicialmente por Péricles e, após a sua morte, por Carlos Estevão, além do Fradim, de Henfil, todos unidos em algo que mistura cinismo, sadismo, neuroses e bastante humor. TRAÇO, HUMOR & CIA. Quando: de ter. a sex., das 10h às 21h; sáb. e dom., das 13h às 18h; até 29/6. Onde: Faap – salão cultural (r. Alagoas, 903, Higienópolis, tel. 3662-7198). Quanto: entrada franca.”